segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O problema é a coligação


Votar é... fazer de conta que não está vendo a coligação. O cidadão acha correto defender a continuidado do projeto do governo Lula, de redistribuição de renda, valorização dos movimentos sociais e manutenção da estabilidade econômica, enche o peito para dizer "vou de Dilma" mas basta olhar para o lado e lá está o PMDB, Sarney e coisa e tal. Nesse final de semana, durante o lançamento oficial da candidatura da ministra, dizem os jornais que foi preciso diluir Michel Temer numa comissão de frente formada por Lula, Dilma, dona Marisa e o sempre bem acolhido José Alencar. Tudo para evitar que, entrando meio desguarnecido no centro de convenções de Brasília, Temer levasse uma vaia.

Então aquele mesmo cidadão do início do primeiro parágrafo resolve pensar melhor, e chega à conclusão, depois de ler a opinião de não menos que vinte analistas políticos dos jornais, de que a verdadeira continuação do projeto Lula é Serra. Problema resolvido, dilemas nunca mais! Quem dera: quando já está a caminho do instituto de pesquisas mais próximo para fazer questão de ser entrevistado e declarar seu voto com alguma antecedência, o cidadão lembra, muito a contragosto, é verdade, quem é o principal aliado de Serra na campanha. Ele mesmo, o DEM de Arruda e Kassab, pra não falar em coisa pior.

O jeito, pensa o cidadão, é pensar que é vinte anos mais jovem e tentar o que a galera chama de "alternativa". E nada mais alternativo neste momento do que Marina. Marina Silva, ora, quem mais? Que outro candidato teria um grau de pureza imune a qualquer tipo de contaminação de natureza coligativo-eleitoral? Marina. Aos pulos, o cidadão sai de casa pronto para comprar o kit de campanha, com broche, camiseta e bandeirinha no quiosque mais próximo do Partido Verde. Embora ecologista desde criancinha, ele prefere ir de carro, porque afinal fica meio longe e coisa e tal. E como é meio longe, liga displicentemente o rádio do carro, onde um locutor muito do mal humorado lembra que o Partido Verde, a nova legenda de Marina, anda bem enrolada com umas coligaçõe estaduais tão sem lógica quanto um chuchu cor de abóbora. E lá se foi mais um sonho acabado.

Resta Ciro Gomes - é incrível como sempre resta um Ciro Gomes no fim do caminho (leia aqui a postagem "O nome certo" e pegue o fio dessa meada). Ciro, por enquanto, é o PSB e mais ninguém - se muito for, porque nem a candidatura neste bloco do eu sozinho está garantida. É verdade que o próprio pré-candidato já passou por um leque partidário bem vasto - e admite isso, dá explicações sem o menor problema. Talvez por isso, por esse passado multipartidário, Ciro, caso se consolide e ganhe espaço, torne-se o candidato mais desconfiado na hora de firmar as tais coligações, pensa o tal cidadão. Mas, por hora, pelo menos a gente olha pra ele e, não vendo ninguém ao lado, por perto, ou escondido atrás de líderes menos contaminados, dá pra confiar mais. Por hora.

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