segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Leia na Hamaca


"O segredo do programa, já se disse, é o mix humor-análise; e o fato é que durante um bom tempo a atração pecou por certo mal humor cultivado, uma abordagem que buscava mais a exposição da soberba de cada participante do que a leveza da avaliação boa exatamente por ser ligeira - e sem maiores pretensões. Na reestreia de ontem na GNews, o ar estava menos carregado. Imagine: quase não se bateu em Lula. Aliás, quase não se falou de Lula. De Dilma, sim - mas sem o rancor esnobe que as cartilhas exigiam até meses atrás."


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A audiência do JN caiu. A da TV também



O jornalista Paulo José Cunha escreveu o texto abaixo, que o SOPÃO destaca e reproduz:

Sim, a audiência do Jornal Nacional está caindo. No ano de 2.010 teve a sua maior queda no ibope – 24% - em relação a 2.000. Naquela época o JN registrava 39,2 pontos. Agora, 29,8. E o que isso significa?

Vamos começar pela “explicação” dos apocalípticos. A primeira é a de que a gestão Ali Kamel/William Bonner seria desastrosa a ponto de empurrar o mais importante telenoticioso da América Latina para o ralo da audiência. A crítica é sempre feita em comparação com a gestão Armando Nogueira (não dá pra fazer par com Cid Moreira, que era apenas o apresentador e não o editor, como acontece hoje com Bonner). Dizem que o JN ficou mais sisudo, e que por isso a audiência teria migrado para atrações mais populares como o CQC, que dão tratamento jocoso à informação e batem nos políticos sem dó, para deleite da moçada. Outra explicação seria o alinhamento do JN com os setores mais conservadores, mantendo sua posição em fidelidade às suas origens oficialescas, lá em 1969, quando foi ao ar pela primeira vez. Eram tempos de AI-5. E durante anos o JN serviu de linha auxiliar da ditadura.

Nenhuma das explicações é convincente. A primeira não se sustenta diante da simples lembrança de que no tempo de Armando Nogueira/Cid Moreira o JN surgiu nos moldes dos melhores telejornais norte-americanos e concorreu com produtos de qualidade nitidamente inferior, trazendo o frescor da novidade a uma área até então dominada pelas agências de publicidade. Elas é que produziam os principais telejornais, que inclusive levavam os nomes dos anunciantes. Aliás, esta foi a única característica que o JN manteve (o nome Jornal Nacional deveu-se ao Banco Nacional, seu primeiro patrocinador). Naquela época, Armando Nogueira/Alice Maria/Cid Moreira/Sérgio Chapelein/ Walter Clark nadavam de braçada. Até porque o JN fazia parte do esforço de integração nacional empreendido pelos militares, que ofereciam amplo prestígio à emissora de Dr. Roberto. Mas o mundo gira e a Lusitana roda. Hopje o mundo é outro.

A segunda explicação igualmente não resiste (apesar do episódio da bolinha de papel no Serra, editorializado como “atentado” no JN, versão dilapidada pelos blogueiros que analisaram o vídeo frame a frame e obrigaram a Globo a sumir com o assunto). Lembre-se que Lula, ao assumir seu primeiro mandato, estava na bancada do JN ao ser anunciado o resultado da eleição. E a Globo quase que ostensivamente manifestou seu regozijo em vários momentos dos governos lulistas. O mundo gira etc.

O que explica mesmo a queda de audiência do JN chama-se internet. Minha filha tem 18 anos, estuda Cinema e História, e não assiste ao JN, informa-se pelos sites e blogs. Ela e um pedaço grande da torcida do Flamengo. O nome disso é fu-tu-ro. Ou presente, se quiser. A queda de audiência do JN guarda relação direta com a queda de audiência da televisão como um todo, em escala planetária. A cada dia a TV abre mais espaço para os blogs, os sites, os facebooks e os twitters da vida. O ibope ainda mede audiência dos televisores, não mede audiência dos... computadores!, meio pelo qual muita gente assiste hoje à TV. O certo é que não é o JN que está perdendo audiência, é a TV que está enfrentando sua pior crise. Uma crise irreversível e estrutural. Ainda bem. O nome disso é fu-tu-ro. Ou presente, se quiser.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Vocaciones 4.5


Quando os pratos rareiam na mesa do SOPÃO, é sinal de que o cozinheiro entrou de férias – o que, à parte o silêncio gráfico na página, é sempre bom. Mas quando as ditas férias começam numa noite em claro sobre piso de aeroporto e terminam em vigília noturna de duas horas e meia aguardando atendimento no hospital pediátrico, já não se pode dizer o mesmo. As férias de verão são assim, traiçoeiras e imprevisíveis. Tanto podem lhe brindar com uma piscina natural que não estava no roteiro quanto lhe tirar a tranqüilidade com aquela diarréia viral que parece ter atacado a cidade inteira – a sua animada pessoa em férias incluída.

Foi assim – se bem que ligeiramente pior, com alguns intervalos de bom proveito, que todo dia sombrio também tem direito a uma nesga de sol. Quase vinte dias, durante os quais se viajou de Acari a João Pessoa de ônibus, assistiu-se a um belo show de Margareth Menezes bem na divisa de Tambaú com Cabo Branco em Jonhy People, concluiu-se a leitura pastosa, embora finíssima, de um Elias Canetti embasbacado com o mundo pré-nazismo (“O Nome do Jogo”, parte final da trilogia de memórias daquele cidadão tão século XX), curtiu-se uma maratona dupla de soro na veia no hospital de Tibau do Sul, e até se deitou os olhos sobre a paisagem de areia branquinha daquela parte de Pipa que se espraia entre a pousada da Bárbara e a passarela de madeira que deu ao local um ar de balneário de novela.

João Pessoa foram dois dias de férias dentro das férias, com a primeira folga que concedemos aos meninos depois de cinco anos quase seis. Um rápido tour ciceroneado por alguma culpa materno-paterna durante o qual se aproveitou o quanto foi possível uma cidade que parece a Natal de duas décadas atrás – ou o que a capital de Poti poderia ter sido caso tivesse resguardado em si um pouco mais da parcimônia que todas as pessoas e todas as cidades precisam ter e manter. Multidão na praia para ver os shows gratuitos da temporada, público local de pé na areia, Chico Cesar de secretário municipal de Cultura – seriedade, respeito e festa, uma equação que a terra Paraíba tem a ensinar aos seus vizinhos deslumbrados com o turismo estrangeiro – aliás, em queda, o que deve funcionar com a ponta fina da agulha que estoura bolhas especulativas, espera-se.

Acari city não nos levou muito tempo, só o bastante para torar pelo caminho de letras do velho Canetti, que o cenário em volta favorece a imersão em cenário estranho de além-mar e guerras. Minha amiga Guia Bezerra quase me acorrenta, põe cadeado e me conduz, qual prisioneiro da falta de vontade, à festa de São Sebastião em Parelhas – como se eu tivesse a obrigação de beijar minhas pedras. Como não sou político, fico no meu canto e lido bem com essa culpa de não rimar férias com obrigação. A custo, consegui explicar minha vocação para vocaciones no limite do descompromisso, seja com horários, encontros ou rememorações. No acerto de contas, fechamos eu e Guia com um passeio ao litoral sul para além dos caminhos que costumo percorrer. Parelhas fica pra depois, em período sem festa, pra estar em casa na casa nova de minha mãe com os meninos. Mas sem horas marcadas, que é como prefiro.

À guisa de pavilhões e procissões, Guia me guiou até as piscinas naturais além de Búzios, onde pude caminhar feliz sobre as águas qual um Cristo de bermudas no paraíso perdido dos veranistas. Andamos sobre as águas, eu, Cecília e Bernardo, in Camurupim Water Town: um lugar pra ficar marcado na agenda onde se anota destinos para um mês inteiro, sem barulho e com sossego. Neste meio tempo, o viajante alquebrado pela virose-caganeira ainda teve tempo de acordar um dia e descobrir que acabara de converter seu gasto motor para a marca 4.5 – num dia 19 de janeiro que, na verdade, sempre me evoca mais a doce e fatal overdose de Elis Regina. Se Rejane não me lembra, capaz de eu nem ter notado. Não por soberba diante da existência, mas por distração frente ao calendário.

De tal forma que, contrariado pelas cólicas e pelo estúpido acidente com Bernardo – que, ia esquecendo de explicitar de tão nefasto, uma manhã queimou a mão nos canos de água fervente de um self service de estrutura improvisada na Maria Lacerda – fiz do verão uma incubadora. Socialmente, hibernei, como hão de ter notado os amigos. Não visitei ninguém, pra não macular com meu humor instável os ventos que cada um traz em si na temporada. Só fomos ver mesmo Márcia, dona do título vitalício de ex-babá dos nossos infantes, que se casou, ingressou em emprego novo, mudou de vida e merece o nosso incentivo: quando você for comer no Camarões, aquele mais antigo e classudo do lado de cima da estrada de Ponta Negra, lembre que parte da asseada aparência do local deve-se ao humilde mas valioso trabalho dela. Também faltou um bate-papo que estava programado com Tetê Bezerra, prejudicado pelas datas, dela e nossa. Fica pras próximas, Tetê e todo mundo, quando pelo menos não teremos o compromisso de comparecer ao hospital de dois em dois dias pra trocar o curativo de Bernardo – ou, por outra, de me hospedar duas vezes no mesmo dia, manhanzinha cedo e noite alta, no posto médico de Tibau do Sul onde, por sinal, preciso registrar, fui tratado como um barão pelo doutor Sérgio e sua equipe (melhor do que Bernardo na Promater, registre-se igualmente e por justiça).

Enfim, quando mais o final da temporada se aproximava, maior a minha vontade de retomar a rotina sem graça de Brasília Highway. Saudade de suas vias certinhas, seus gramadinhos comportados, sua corrupçãozinha macilenta e sem zum-zum-zum. Como disse Tiquinha, cansada de ver Rejane passando roupa pela janela do Guaíra, ao saber da nossa volta para casa: “Rejane vai descansar em Brasília”. A rosa de pedra de New Parnamirim acertou na mosca. E aqui estamos, pra retomar trabalho, casa, rotina e SOPÃO. As férias podem não ter sido o melhor de bom, mas cumpriram sua obrigação constitucional prevista no estatuto de cada um de fazer o ser humano sentir falta daquilo de que tanto reclama – a mesmice, essa delícia.

*Sobre "O Jogo dos Olhos" de Elias Canetti, leia mais aqui.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Lula vai pra galera


A melhor e mais significativa imagem de todo o longo dia da posse de Dilma foi protagonizada por Lula. Não porque a nova presidente não esteja à altura do anterior ou qualquer comparação do tipo, mas porque para além dos vários momentos rituais, seja nas ruas ou nos palácios, o momento mais marcante será sempre aquele que contém o que há de mais humano nessa liturgia toda. E não havia como um Lula emotivo por natureza - e não Dilma, que soa mais como alguém cerebral de nascimento - não estar à frente de um momento assim. Quem assistiu a tudo pela TV Câmara viu melhor este momento a que me refiro.

Não foi nem a transmissão da faixa nem o discurso no parlatório, tampouco a descida da rampa - embora este último momento tenha sido a prévia mais próxima no tempo daquele de que se fala aqui. Foi, pra usar uma expressão popular como o agora ex-presidente, o momento em que Lula foi pra galera. Depois de descer a rampa entre abraços e despedidas dos seus ministros, Lula atravessou a via N1, que é aquela que separa o Palácio do Planalto da Praça dos Três Poderes, abriu um portão na grade que mantinha o povo ligeiramente à parte da sede do Poder Executivo e... jogou-se nos braços da multidão. Como um atleta que se joga num salto triplo com pleno domínio da segurança que o ampara. Ou como o artista circense que se lança entre os balanços do trapézio pleno de certeza de sua estranha capacidade de voar.

Lula se jogou na multidão exatamente como se esperava que ele fizesse. Passei o dia trabalhando na TV Câmara, editando uma reportagem sobre a participação do povo na festa da posse e, desde o início da tarde, o repórter com quem trabalhei apostou em esperar a hora da descida da rampa, e o que Lula faria desse momento, como o instante que melhor traduziria aquela participação. Mais do que a festa da posse, como bem anotou nosso amigo Tiago Ramos, esperava-se a emoção dessa despedida. Foi o grande momento de uma festa tranquila, embora chuvosa - e é preciso anotar que, para o público, aquela chuvarada toda foi apenas parte da aventura cidadã de assistir e participar do dia da posse de Dilma. E o abraço de Lula naquela multidão que incorporou o significado normalmente tão vago da palavra povo ficou como sua melhor tradução.

Viu melhor este momento quem acompanhou tudo pela TV Câmara, porque o pool de emissoras que transmitiu a posse - no qual a TV Câmara também fez parte - estava ocupado com a imagem importante, mas fria e formal, da posse dos ministros. Só a TV Câmara tinha uma câmera instalada no vigésimo oitavo andar da torre do Congresso e pode captar, lá de cima, a expressão viva do povo a envolver Lula naquele abraço tão esperado. Na reportagem de Tiago, a que você pode assistir a partir de amanhã acessando a página da TV (www.tv.camara.gov.br), o repórter ainda particularizou este momento, entrevistando a alegria de uma brasileira que veio de Minas para ver a posse e ganhou um abraço de Lula no meio daquela bendita muvuca toda. No geral e no particular, pra resumir, foi uma festa bonita mas pode-se dizer ligeiramente discreta e contida, como se espera que vá ser no dia a dia o governo Dilma.