segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Perdido na terceira dimensão (1)



Diante de tanta gente que torce o pescoço e se nega a entrar num cinema para assistir ao mais recente arrasa-quarteirão do mundo do entretenimento global, o filme "Avatar" em 3D digital, eu já estou em desvantagem. Vergonhosa desvantagem. Acontece que, antes de fazer qualquer comentário sobre este tão badalado filme, a que finalmente consegui assistir na noite desse domingo, preciso fazer uma confissão daquelas que têm o poder de macular qualquer boa reputação. E, como a minha já não seja muita coisa, vai ficar pior ainda. Meus amigos, perdoem esse pobre coitado que de joelhos rezou um bocado na igreja do lixo cultural mais vil. É preciso que eu admita, de pés juntos e mãos postas: muito antes de "Avatar", eu já era muito, mas muito fã desse tal de James Cameron. E nem venham me falar da breguice de "Titanic" -de que eu, aliás, também gostei muito - que o furo no casco desse velho navio fica muito, mas muito mais embaixo.

Então, vamos, de trás para diante. Corria o ano de 1985 quando este serelepe frequentador de cinemas entrou feliz que só pinto na merda na sala do saudoso cine Nordeste, no centro de Natal, para assistir a "O Exterminador do Futuro". Era uma parábola tecnológica do tipo a-cobra-morde-o-rabo, pois, como hoje em dia não tem quem não saiba, tratava do envio, por um futuro tecnoditadorial, de um exterminador para matar, no presente e ainda na barriga da mamãe, o homem que poderia ameaçar a ordem totalitária do porvir. Era um roteiro sedutor, que dava voltas em torno de si, filmado com uma mão de tinta pop que tornava essa perseguição um atraente triller contemporâneo (contemporâneo de 1985, que fique claro). E eu, este sujeito datado por natureza, não sou de resistir a este tipo de coisa: triller, tratamento pop, roteiro instigante, dilema ético, tecnologia versus humanidade.

Anos depois, no vácuo de uma Natal sem cinemas, veio "O Exterminador do Futuro II", ainda melhor, servido em fitões VHS trombulhudos mas igualmente divertidos. E uma pérola misteriosa chamada "O Segredo do Abismo", uma epopéia submarina com sentimento de filme vespertino na tevê e aparência de subproduto tecnológico de última geração. Quando, anos mais tarde, já morando em Brasília, entrei numa das salas do Brasília Shopping para ver "Titanic" eu já estava mais do que conquistado por esse Spielberg de segunda geração. De maneira que gosto mais de Cameron do que de Tarantino, se vocês me entendem. E, sendo assim, não tenho como entrar para o time da rapaziada que, entre cool e descoladíssima, distingue-se da massa geral de ignorantes que torra reais para assitir à revolução de "Avatar".



Não que eu aprecie o massacre informativo que acompanha o filme-evento, seja este ou qualquer outro - como o que antecedeu o "Bastardos Inglórios" anteontem mesmo, sem despertar maiores entusiasmos de minha parte. Mas também não custa nada soltar as pedras no chão, cortar as cordas de segurança dos parâmetros acadêmicos, esquecer por três horas as opiniões dos estetas que dão ou não legitimidade prévia a um filme (poupando a muita gente o trabalho e o risco de se expor a fazê-lo) e, assim, livre feito um passarinho, entrar no cinema e assistir ao tal "Avatar".

Dito isso, só posso falar mesmo por mim. E por mim, meus caros, atesto, assino embaixo e reconheço a firma: da primeira à última imagem na tela, assisti a tudo com o queixo caído. Embasbacado, deslumbrado, imerso naquela novidade que me mostra o ator ou a atriz a um pulo do meu nariz, como se a pessoa em pessoa estivesse à distância de um palmo à minha frente, graças à ilusão que os óculos engraçados promovem. E, claro, quando tal ilusão se coloca a serviço de uma fábula como aquela, usando o pretexto narrativo para exibir, em várias camadas de imagens superspostas, árvores centenárias e criaturas translúcidas, o deleite não poderia ser menor.



Você pode estar estranhando minha entrega matuta diante dessa tecnologia gringa. É que faltou eu lhe dar mais explicações. A sessão de ontem à noite de "3D-Avatar" foi, pra mim, algo como viver de novo a primeira sessão de cinema da vida (falei dela outro dia; se quiser saber mais clique aqui). Pelo simples fato de que, aos 44 do segundo tempo, eu jamais havia assistido a um filme em 3D. Nunca tinha visto aqueles óculos engraçados - só em fotografias. A experiência mais próxima que eu tinha com o tridimensional eram aqueles álbuns de gravuras que fizeram um certo sucesso no ínicio dos anos 90, com figuras que, se você olhasse com atenção e concentração, ganhavam uma dimensão a mais. Se eu não havia visto nem flme em 3D comum, normal, tipo anos 50, imagine o meu espanto diante deste novo 3D Digital que James Cameron desenvolveu.

E você quer que eu torça o pescoço? Não vai dar - a não ser que seja para voltar à sala e assistir tudo de novo.

Um comentário:

Ana Luiza disse...

sebá, tb gostei. deixei pra ver depois que todo mundo já tinha visto, achava que não ia gostar, mas gostei. e achei lindas aquelas imagens, aquelas plantas, aqueles bichos...( e, como vc, também foi o primeiro filme e 3D que assisti).
beijins da mana.