terça-feira, 30 de outubro de 2007

Árido movie

A aridez - física, geográfica, social ou psicológica - foi a constante que mais me chamou a atenção em "Babel".
A aridez lunar da superfície marroquina, a aridez interna da garota japonesa muda, a aridez que marca o relacionamento do casal Brad Pritt e Cate Blanchett antes mesmo do tiro que dispara a ação caleidoscópica do filme de Alejandro González Iñarritu.
A aridez do deserto que separa o excesso da falta, o norte rico, desconfiado e frio do sul latinizado, festivo e irresponsável.
A aridez das circunstâncias nem sempre evidenciadas - ou quase sempre sombreadas, num esboço que se recusa a tornar-se arte final.
"Babel" está repleto de brancos, de espaços por completar, de informações surrupiadas ao espectador - o que só favorece o nosso envolvimento com a sua premente aridez.
A aridez ultra-urbana dos concretos e neons da magalópole japonesa.
A aridez da mulher morta, da suicida que arrasta consigo a poeira de qualquer explicação possível, por mais intangível que seja.
"Babel" não é só um desentendimento em escala global, um confronto cultural afinado com a crônica dos nossos últimos dias.
É também uma narrativa impressionista embutida em lares e famílias sobre a aridez da convivência entre pais e filhos.
A aridez do LDC na sala high-tech, a aridez da parede de barro na casa-cabana das montanhas, a aridez de um irmão preterido pelo outro.
A aridez algo seridoense do deserto que avança, avança, avança.

Os cálculos calculistas de Rejane

O Sopão, como vocês sabem, também é um espécie de boletim lítero-familiar, com espaço para democratizar informações absolutamente parciais sobre o mundo daqui de casa e o universo dos amigos espalhados por Brasília, Natal, Acari etc. Então:

Essa postagem rápida é parar informar que Rejane se recupera bem de um procedimento médico a que se submeteu na noite de ontem, para a remoção de cálculos vesiculares alojados no pâncreas.

Rejane está hospitalizada desde a manhã de ontem para tratar desses malditos cálculos que, calculisticamente, cresceram-lhe na vesícula e não menos calculisticamente conseguiram se evadir por canais estomacais até atingir o pâncreas.

Vai ser preciso, claro, tropaelitizar o problema, removendo a vesícula. Mas antes, era preciso dar cabo dos cálculos alojados no pâncreas e adjacências.

Agora, feita a primeira parte do procedimento, é preciso que Rejane se recupere bem para submeter-se à cirurgia de remoção da vesícula propriamente dita. Ela dorme bastante para que o organismo se reequilibre e pelo menos foi liberada para amamentar Bernardo.

Minha mãe e minha cunhada Sandra estão em casa ajudando na infra necessária para essa operação toda. Acho que até o final da semana sai a cirurgia e Rejane pode voltar pra casa com a saúde no ponto.

Dou mais notícias quando novidades houver.

Um estranho no ninho




Por falar em metalinguagem (vide o post "Jô, Ian, eu e o cinema"), vocês já viram o filme aí ao lado? "Mais estranho que a ficção" brinca com o exercício da criação, promovendo um inusitado encontro entre um personagem e seu escritor.

Will Ferrell reaparece com aquela cara de nada que já emprestou a títulos como "Melinda e Melinda" e comédias menos recomendáveis, como "O Âncora ", uma quase escatológica anti-reflexão sobre o mundo da mídia eletrônica. Cito só pra dar a circunstância - fiquem certos de que não dá nem pra comparar com esse "Mais estranho".

O exercício metalinguístico começa de uma maneira até banal, com o personagem percebendo que há uma voz em off narrando tudo o que ele faz, tudo o que ele pensa. É uma crítica até já gasta ao uso da narração em off no cinema - por sinal um recurso que, de tão combatido, às vezes passa por injustiçado. A questão não é usar ou não usar - mas saber utilizar. Mas, vocês sabem, chega um "Tropa de elite" e desmoraliza completamente esse instrumento que Ridley Scott tentou, tentou e não conseguiu banir da montagem original de "Blade Runner" (somente numa versão recente, editada para DVD, o diretor conseguiu seu objetivo).

Mas esse "Mais estranho que a ficção" vai além: ele não é só uma brincadeira metalinguística inconseqüente sobre formatos cinematográficos e técnicas desgastadas. O filminho realmente promove, na sua discreta falta de pretensão, o encontro do personagem com o escritor e extrai disso um drama sensível e poético - por vezes, poderoso. Para quem não viu o filme ou não se interessou até aqui:

1) A escritora é...Emma Thompson, que volta ao cinema depois de um período de ausência (lamentável) e exibe o talento e o carisma de sempre. Sempre quer dizer aqueles filmes do início dos ano 90, em que ela estava sempre admirável, como "Vestígios do dia", quanta saudade.

2) Pois a escritora Thompson é conhecida por matar todos os seus protagonistas e o personagem Farrell logo toma conhecimento dessa informação.

3) Agora, Will Farell precisa desesperadamente encontrar Emma Thompson para ver o que é possível fazer. Então...

...4) Salvar o quê? A vida do personagem Farrell, que existe de fato (nessa "dobra metalinguística e surreal" que confere toda graça e coerência ao filme), ou a qualidade do romance que Thompson está tentando conseguir acabar de escrever?

O ítem cinco vai por extenso, para não arrancar do desfecho da postagem o impasse pretendido: tudo isso é contando em imagens caprichadas que não têm vergonha de se deter, à medida em que o filme se encaminha para o final, de maneira a dar um tempo mínimo ao personagem angustiado, à escritora atormentada e ao espectador ansioso, porém instigado.

"Mais estranho que a ficção" saiu direto em DVD, sem passar pelos cinemas. Isso é mais um argumento em favor dele.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Para contraditar

Para nadar contra a corrente, para não embarcar nas verdades estabelecidas, para parar antes de dizer sim, para chatear os imbecis, segue o texto de Nelson Motta (cidadão de cujas opiniões muitas vezes discordo, por ipanemenses demais) sobre o assunto do momento - aquele, vocês sabem. Copiei da Folha de S. Paulo de hoje.

Sonho americano, pesadelo carioca

O capitão Nascimento ficaria surpreso: o Departamento de Polícia de Nova York admite que, apesar de seus esforços, a cidade é a maior consumidora de drogas do mundo. Mas a criminalidade e a violência urbana -sob controle de uma força policial eficiente, honesta, bem paga e aparelhada- só diminuem.Sim, é possível. Apesar do poder do tráfico, que disputa o abastecimento de tão rico mercado, não há balas perdidas nem guerras de quadrilhas, nem infiltração no aparelho policial e judiciário, nem tortura e impunidade. Ninguém diz que, se os nova-iorquinos parassem de consumir drogas, a criminalidade acabaria. Eles viveram a experiência da Lei Seca, quando o crime se organizou a partir da indústria clandestina de bebidas.

Desde a histórica campanha "Tolerância Zero", do prefeito Giuliani, nos anos 90, que começou com uma implacável limpeza na polícia, os índices de criminalidade violenta despencaram em Nova York, apesar do crescimento do tráfico de drogas. Mas os roubos, assaltos, homicídios, estupros e seqüestros caíram drasticamente, e Giuliani foi reeleito com apoio até da oposição.A polícia de Nova York persegue traficantes e consumidores, não aceita subornos, denuncia e pune com rigor seus desvios e violências, assume as suas responsabilidades e faz o que tem que ser feito, para o que são pagos: garantir segurança e liberdade aos cidadãos.

Enquanto isso, no Rio, dizem que o tráfico é a origem de todos os males que assolam a população. Parece até que se ele acabasse a cidade voltaria a ser o paraíso tropical dos anos dourados. Mas, se o "movimento" acabasse, eles não venderiam doces: seriam legiões de bandidos desempregados e armados descendo sobre a cidade indefesa. Sofia não teria pior escolha.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Jô, eu, Ian e o cinema



Nossa amiga Jô me entregou o livro com uma cara brava e uma recomendação ao contrário: tome, e veja se gosta, ou se eu é que não entendo mais nada. Não foi bem assim, com essas palavras exatas, mas me dou o direito de literarizar um pouco a situação para que vocês entendam melhor. O livro era “Reparação”, de Ian McEwan, elogiado pelos mais respeitados críticos literários. E o problema é que Jô – nossa amiga Joelita, que trabalhou comigo no Correio Braziliense quando cheguei a Brasília e agora trabalha com Rejane no Unafisco – destestou cada página, a despeito do que leu em resenhas e mais resenhas de um culto quase acadêmico à prosa do autor britânico.

Agora vocês vejam a minha situação: junto com o livro, Jô me entregou também um envelope pardo, fechado, dentro do qual havia dois textos: um era uma resenha do livro publicada no finado site Nomínimo; o outro era uma espécie de carta da prória Jô, explicando pra mim por que não havia tolerado o livro e confrontando a palavra do crítico do Nomínimo com as impressões dela própria. Mas quando recebi o envelope, não sabia do seu conteúdo, porque Jô, além de tudo, advertiu-me: eu só deveria abrir o envelope quando tivesse acabado de ler o livro.
Duvido que algum de vocês já tenha sido incumbido de semelhante tarefa. Se foi, deve imaginar como eu me sentia diante disso tudo: e agora? Se eu gostar do livro e confirmar a impressão dos críticos, Jô vai no mínimo me riscar da lista dos amigos dela; e se, ao contrário, eu também ficar desapontado com um livro tão elogiado, então deve haver alguma coisa errada com os críticos mais afiados, os escritores mais celebrados – e eu e Jô é que somos dois incompreendidos.

Comecei a ler “Reparação” e, para ser coerente com o espaço de uma postagem de blog, resumo minha impressão: o livro tem uma grande tensão interna ao contar como uma adolescente sublima uma atração sexual pelo namorado da irmã mais velha fazendo uma acusação grave – a de que o rapaz, por sinal o filho de um serviçal da família, estuprou a prima de ambas. A denúncia e seus desdobramentos – e o título do livro se refere ao esforço inútil de anular seus efeitos – se dá a partir de 1935. E o problema – acho que foi isso o que irritou Jô – é que a narração, além de demorada pela necessidade de explorar as sutilezas dos sentimentos da adolescente, de sua irmã e do pobre rapaz sob acusação, tem um floreado esquisito, que às vezes soa como uma estranha espécie de fraseado barroco, mas ao mesmo tempo bem britânico.

A chave para isso o leitor só vai descobrir quase no final da leitura: é que o texto que lemos é, na verdade, o livro escrito na maturidade pela adolescente que fez do desejo um instrumento de incriminação. E as aspirações literárias de Briony – esse é o nome da personagem – são marcadas pelas debilidades do escritor que idealiza a si e ao seu objeto de trabalho. Isso explica o floreio da prosa e, ao mesmo tempo, faz de “Reparação” o tipo do livro que dá ao leitor, encerrada a última página, um ímpeto de voltar à primeira e ler tudo de novo, sob a perspectiva de algo que somente no final tornou um elemento revelador.

Os críticos, naturalmente, adoram esse recurso, porque confere ao romance o que eles chamam de “dobra metalingüística” – aquele instrumento que faz da narrativa uma investigação tanto sobre o dilema humano explorado pelas situações quanto um estudo sobre o próprio uso da literatura como elemento de análise desse mesmo dilema. Vocês sabem: o livro que na verdade é outro livro, o avesso do avesso, o espelho infinito da modernista reflexão literária.

Jô, somente tempos depois de terminar a leitura foi que encontrei o envelope com o texto do crítico e as suas considerações. Por isso nunca formulei a resposta que você na realidade esperava – algo assim, por escrito, pingos nos is. Então a resposta fica sendo esta e fica servindo pra você para os demais leitores deste Sopão: o livro tem sua tensão, mas é realmente uma narrativa às vezes difícil de atravessar, tanto devido ao tempo próprio que utiliza quanto por causa dos muros de trepadeiras e fontes quase vitorianas com que se reveste.

Uma última observação, antes de encerrar o post. Voltei ao assunto “Reparação” porque acabo de ver nos portais da internet que o livro virou filme. E veja só: pelo que mostra o trailer, parece ter rendido um filmão, do tipo espetaculoso, valendo-se tanto daquela tensão psicológica e intimista que permeia o livro quanto da parte dele que se passa na retirada dos britânicos de uma frente de batalha na Segunda Guerra Mundial.

A pergunta é: Jô, e agora, será que a gente vai gostar do filme e, gostando, seremos tentados a reler “Reparação” na desconfiança de que nossa primeira leitura terá sido equivocada?

P.S. 1: Por hora, enquanto o filme não chega aos cinemas, me conformo com Philippe Roth, aquela da “Pastoral Americana”, de quem gosto, a quem admiro e em torno do qual não tenho nenhum conflito com os críticos, nem mesmo os mais especializados.

P.S. 2: O trailer da adaptação de “Reparação” para o cinema está em exibição no portal G1.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

pincelada rápida



Parque Olhos d'Água, Asa Norte, Brasília, no verde de um inverno passado que logo logo vai reprisar suas cores



P.S: para explorar os detalhes do desenho na parede de madeirite, clique na foto que a imagem vai se ampliar

que filme é este?

"Por tratar de questão de ordem do dia, tende a vestir um colete à prova de contestação. Mas nenhum assunto tem poder de salvo-conduto. Ainda mais em um país cuja tradição nas telas é alimentada por retratos da pobreza e debates sobre a postura ética das elaborações estéticas. Com encenar as causas e os efeitos do mundo-cão sem banalizar sua gravidade ou deixá-lo fascinante com uma representação cheia de glamour?"

(Do crítico CLÉBER EDUARDO, na revista ÉPOCA, 26 de agosto de 2002, analisando o filme CIDADE DE DEUS)

tempos de outras tropas

"A progressão da violência que atordoa os paulistas ocorre em uma sociedade cujas forças influentes são refratárias a investimentos sociais e encabeçam, no país, o movimento em tal sentido.
(...)
Os raros governantes que pensam em dar prioridade a investimentos sociais passam, no Brasil, por situações impiedosas. Luiza Erundina sofreu campanha sem interrupção e até, em várias ocasiões, sem escrúpulo, pela disposição de atentar sobretudo para áreas desassistidas e não, como é da tradição administrativa, para as áreas de moradia ou trânsito da classe média para cima. Roberto Saturnino na Prefeitura do Rio e Leonel Brizola, no seu primeiro governo fluminense, viveram experiências semelhantes, embora em menor grau, à de Luiza Erundina."

(JANIO DE FREITAS, na Folha de S. Paulo, data não anotada)

imprensa amiga é isso aí

"Primeiro ex-chanceler a chegar à Presidência, Fernando Henrique é o presidente brasileiro que mais se empenhou na prática da chamada diplomacia presidencial. Medindo seu desempenho em números, é um recordista. Em dois anos de mandato, Fernando Henrique viajou 76 vezes para o exterior, uma média 50% superior à de seus antecessores. Mas seu sucesso reside na desenvoltura com que circula pelos salões internacionais e na intimidade que conquistou com grandes personagens mundiais. Já tem agenda carregada para os próximos meses.
(...)
Girando assim pelo mundo, Fernando Henrique poderá compensar sua relativa perda de peso no plano interno em razão da sucessão presidencial - e emprenhar-se numa tarefa que só costuma render-lhe aplausos."

(revista VEJA, 20 de fevereiro de 2002)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Segura essa

Lembra do alerta feito pelo professor Luiz Felipe de Alencastro no "entreblogs" lá embaixo? Se não leu, desça e passe os olhos. Depois, experimente segurar a batata quente abaixo, que deu o que falar mas eu, contumaz leitor de jornal velho, só agora vi na folha dos Marinho:

"James Watson, ganhador do Prêmio Nobel de medicina e um dos descobridores da estrutura do DNA, declarou sentir-se pessimista em relação ao futuro da África porque 'as políticas sociais (aplicadas lá) são baseadas no fato de que a inteligência deles (os africanos) é igual à nossa, embora todos os testes demonstrem o contrário'. Em entrevista, disse ainda que existe o desejo natural de todos os seres humanos sejam iguais, 'mas as pessoas que lidam com empregados negros descobrem que isso não é verdade'."

jornal velho (mas nem tanto)

Leio no jornal dos Marinho:

"A classe média tem uma visão parcial dos acontecimentos e é adepta do velho ditado que diz que bandido bom é bandido morto". (Wadih Damous, presidente da OAB-RJ)

"As estatísticas mostram que não há situação de confronto. O que há aqui é execução. A polícia deve investir em equipamento e inteligência. Deve proteger seus homens. São mais de mil autos de resistência por ano, índice sem igual no mundo. E o crime só se intensifica. A própria repercussão do filme Tropa de Elite prova isso. A sociedade criminaliza a pobreza." (Sandra Carvalho, coordenadora-executiva da ONG Justiça Global)

"Hoje, tanto a PM quanto a Polícia Civil atuam como polícias pró-ativas, visando o enfraquecimento do tráfico, o que aumenta as chances de confronto. Na história da humanidade, em qualquer guerra convencional ou mesmo na violenta guerra urbana do Rio, a população civil sempre sofrerá os seus efeitos. É inevitável." (Cel. Milton Corrêa da Costa, especialista em segurança)

"É uma política totalmente equivocada, que não funcionou nos EUA e não vai funcionar aqui. Foi uma tragédia a morte de inocentes. Mas é impossível analisar a proporcionalidade da reação dos policiais, porque não sabemos o tamanho do bando e quantas armas dispunham. A questão central é que a operação, como foi feita, não devia ter acontecido." (Walter Maierovicht, ex-secretário Nacional de Segurança Pública)

A edição é a do último sábado e o episódio que todos estão comentando é de conhecimento geral.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A Tropa e a Cidade


Na época em que “Cidade de Deus” chegou aos cinemas, arrebanhando multidões de espectadores e dominando – como ocorre hoje com “Tropa de elite” – o noticiário cultural e social do país, logo foi objeto de uma segunda leitura, feita por parcela dos cineastas e críticos brasileiros. A crítica era de que o sucesso do filme se devia a um desonesto aproveitamento das imagens da miséria brasileira como ingrediente de um cinemão feito nos moldes da estética do arrasa-quarteirão norte-americano, num oportunismo de videoclipe que pouco tinha a ver com a verdadeira essência do cinema.

Na época, fui assistir, com grande expectativa, a “Cidade de Deus”, embalado tanto pelo êxito popular do filme, quanto pelas críticas que lhe eram favoráveis e também estimulado pelas que lhe eram furiosamente contrárias (só para lembrar, uma das ressalvas mais veementes vinha da cineasta Suzana Amaral, diretora do primoroso “A hora da estrela”).

Nas últimas semanas, aconteceu comigo – e certamente com muitos dos leitores desse Sopão – um fenômeno semelhante. Estou falando, claro, da “Tropa de elite” do capitão Nascimento. Primeiro foi o fenômeno da pirataria do filme, um processo sociológico (ou mercadológico, quem irá saber?) à parte – mas não queria entrar nesse aspecto aqui. Depois, com o filme oficial nos cinemas, veio o “debate” nacional sobre a validade ou não do enfrentamento do tráfico nos morros cariocas segundo o evangelho heterodoxo do Batalhão de Operações Especiais. Nesse “debate”, ganhou força uma tese sempre assobiada mas nunca gritada de tal maneira como no filme – a de que o grande responsável pela violência do tráfico é o usuário de drogas. Os mesmos usuários que, nos anos 80, eram considerados párias, e no período seguinte, com um pouco de bom senso e informação de natureza médica, sem falar no auxílio de filmes como “Bicho de sete cabeças” (Laís Bodansky), para ficar em outro exemplo cinematográfico, perderam um pouco do estigma e passaram a ser vistos de maneira menos preconcebida pela sociedade. E finalmente, veio o famigerado caso do assalto ao mauricinho-mor, um quase factóide que, como tantos, a imprensa tratou de inflar até o limite da irresponsabilidade, como ademais tem sido seu hábito há mais de um par de anos. Vocês sabem: rollex roubado, o cidadão cogitou de chamar seu herói, o Capitão Nascimento.

O resultado de tudo isso foi um tremendo empurrão na bilheteria do filme, do tipo de movimento coletivo que praticamente obriga todo mundo a assisti-lo, quando menos para ter uma opinião sobre ele – ou para apenas confirmar casualmente o que foi lido aqui ou ali, e a fartura confusa de textos sobre o filme foi um outro fenômeno à parte dentro do fenômeno maior. Fartura que esse blogue desconhecido evidentemente está a alimentar, reconheço.

De maneira que me encontrava assim, confuso, antes de assistir ao filme, o que fiz esta tarde. Tenho de dizer que o caráter meio viciado do “debate” nos jornais e revistas (na internet, como tem acontecido sempre, a discussão adquire uma qualidade maior, embora com certos pronunciamentos pessoais e pontuais assustadores) teve sobre mim um efeito diferente daquele suscitado pelo falatório que precedeu “Cidade de Deus”. Na época, eu queria muito assistir ao “Cidade” – quanto mais se falava dele mais aumentava minha curiosidade. Agora, quando mais foi sendo ampliado o “debate” sobre o “Tropa”, mais meu interesse caía.

Porque eu fui percebendo que havia duas coisas distintas: o filme e a repercussão dele, ainda que o primeiro se preste ao triste papel que vem sendo sustentado pela segunda. Os conservadores deste imenso país estão usando descaradamente o “Tropa de elite” como discurso para legitimar uma política de segurança reducionista, do tipo bandido versus mocinho, numa abordagem no mínimo desonesta, que desconhece propositadamente a realidade histórica passada e presente que gerou a violência do tráfico. Tentam, tanto quanto possível, usar o filme como retrato do Brasil atual do governo dos permissivos petistas mensaleiros. Usam a popularidade que o filme alcançou – inclusive com o fenômeno da procura pela cópia pirata – como atestado de que esse “estado de coisas” aflige a todos e não apenas a tal elite bem-pensante que é a verdadeira consciência brasileira, segundo prega o evangelho da revista Veja.

Enfim, capitulei e fui ao cinema. Entrei na sala ainda com uma leve impressão de que seria atingido pelo mesmo efeito que se deu na época de “Cidade de Deus”. Só precisei de uns poucos quinze minutos para me impressionar com a verdade do filme de Fernando Meirelles. Logo notei que os recursos formais usados pelo cineasta vindo da publicidade eram mais do que legítimos – eram um instrumento de expressividade. Nunca esqueci da cena em que o garoto mal saído das fraldas toma um tiro no pé disparado por outro garoto. “Cidade de Deus” não tinha violência gratuita – tinha a força de imagens que expressavam assombrosamente a pressão sob a qual vivia uma comunidade inteira. E, no caso de “Tropa de elite”, havia uma recomendação a mais: vi e gostei muito do documentário “Ônibus 174”, que o diretor José Padilha tem no currículo.

Pois não foi nada disso que aconteceu quando me vi diante dos primeiros vinte minutos de “Tropa de elite”: percebi que o filme de Padilha, além de não ter um milésimo da força expressiva de “Cidade de Deus” (e de apenas copiar seus recursos estilísticos, como uma versão pirada do seu antecessor), apaga deliberadamente dados da realidade que gerou seu principal cenário, o morro carioca dominado pelo tráfico, e manipula informações fazendo dos dirigentes de uma organização não governamental um bando de traficantes disfarçados. O filme faz pilhéria do conhecimento ao ridicularizar simploriamente uma aula de universidade. Eu não tenho simpatia especial nenhuma pela juventude dourada e privilegiada de Ipanema (espelho, há muito tempo, da de outras capitais), mas também não simpatizo nem um pouco com essa visão rasteira que o filme apresenta dela. “Tropa de elite” criminaliza os usuários de drogas a um ponto nunca visto antes (pode até ter razão parcialmente, mas da maneira como o faz, é quase como sugerir que a polícia mate logo os usuários otários no lugar de se arriscar diante dos traficantes armados).

Bang-bang

Para o público em geral, o que fica é um enfrentamento mal circunstancializado entre policiais do Bope e chefes do tráfico. Então é como se o público comum, do tipo que pouco se aprofunda na linguagem do cinema e quer mais é se divertir, estivesse assistindo a um bang-bang moderno, ambientado no país (e na realidade) que ele conhece, com a cor local que dá um outro gosto ao espetáculo – e sem maiores firulas que o obriguem a quebrar a cabeça pra entender o que se passa na tela.

Até porque durante o filme inteirinho temos a narração em off do Capitão Nascimento – um tipo entre o boçal e o intransigente, que traduz uma a uma as situações em exibição, comentando cada lance, cada personagem, cada inflexão do roteiro, cada ponto de ruptura que transforma policiais que se professam honestos em monstros violentos. Alguém já disse nos textos que li sobre o filme na internet que há dois níveis de leitura na tela: uma coisa é o que o capitão diz, outra é o que as imagens e os sons mostram, muitas vezes contrariando o narrador onipresente. Pode ser, mas o fato de a narração permear o filme todo – eu disse, todo – faz da leitura dele, do personagem, uma ditadura verbal que direciona tudo, valoriza tudo, legitima cada visão (estritamente) policial sobre o problema da violência carioca. E eu duvido que o público geral, especialmente esse ansioso que viu o filme nas cópias piratas, esteja atento para esse tipo de sutileza. Se ela existe, é mais para servir como desculpa do diretor na hora de justificar o resultado de seu trabalho. Aliás, numa manobra similar à ambiguidade contida na violência dolby em mil canais, que tanto reproduz um dado da realidade dentro da sala de exibição, na sinfonia sinistra dos tiroteios, quanto funciona como agrado e atrativo para o público.

Você há de dizer: mas “Cidade de Deus” também usava tais recursos. É verdade, mas Fernando Meirelles não negou ao público a circunstância que gerou monstros como Zé Pequeno. A gênese daquela comunidade, da segregação inicial aos primeiros assaltos “inocentes”, passando depois ao mundo da droga pesada e das armas, estava tudo lá. O entretenimento espetacular que também é um característica marcante e definitiva para o sucesso do filme não nos roubou nada disso. Também é verdade que "Tropa de elite" mostra como funciona a máquina da corrupção policial no próprio Bope, num exercício de investigação sociológica semidocumental. Mas parece fazer isso apenas para legitimar seu discurso frio e distanciado quando estiver atacando a leniência da classe média consumidora do produto dos morros.

Feitas as contas, ao final do filme não restava mais nada do que eu havia lido, fosse contra ou a favor. Não havia a revolta que muitos dizem sentir ao final da exibição. Não havia o horror nem o torpor, muito menos a catarse que por um momento tomou o lugar do cinismo no coração de Arnaldo Jabor. Como não houve muita expectativa favorável, também não havia propriamente decepção. Sabe o que havia? Uma estranha espécie de tristeza, pela desonestidade intelectual contida no filme e ampliada com a sua repercussão. Me senti enganado, manipulado, um bonequinho como aquele da crítica do jornal O Globo nas mãos do cineasta. Senti que o filme, como as drogas que critica, faz mais mal do que bem. Tire as drogas do morro – por exemplo, como muitos defendem, legalizando tudo – e outra mercadoria vai surgir, porque o histórico de exclusão é de séculos e não se resolve de um dia para o outro. “O sistema” – aquele chavão explicativo a que o capitão Nascimento tanto recorre – vai encontrar um substituto. Por isso o filme não atinge seu alvo: o que faz é se aproveitar de um momento de estupefação nacional diante do drama carioca.

P.S: Eles não vão saber, mas pouco importa: queria dedicar essa postagem a Arnaldo Antunes, Lobão, Rita Lee e Gilberto Gil. Acho que não preciso explicar os motivos (se você for um leitor de menos de trinta anos, pergunte aos seus pais, o que pode render, aí sim, uma discussão honesta sobre drogas, tráfico, violência e in-tolerância).

Letícia e Santiago

Assistindo ao filme "Santiago", o metalinguístico documentário de João Moreira Salles, lembrei da figura de dona Letícia. Explico: Santiago, o personagem que dá nome ao documentário e lhe preenche praticamente todas as cenas, é o ex-mordomo da casa do pai de João Salles - um homem que foi banqueiro, embaixador, ministro, figura notória do Brasil de seu tempo. O filme, como vocês já devem ter lido, é uma estrada de mão dupla: de um lado, examina a figura incomum de Santiago; de outro, questiona o interesse do próprio cineasta em realizar o documentário - e a forma como conduziu as filmagens há coisa de dez anos.

Ante de chegar a dona Letícia, preciso gastar mais algumas linhas falando da relação entre Santiago, João Salles e a casa onde o cineasta morou até os vinte anos, com os pais, os irmãos e o então mordomo. Repito que é coisa que vocês certamente já leram nos jornais e revistas, mas preciso recuperar antes de fazer um corte da casa modernista da Gávea onde viveram os Salles para um quartinho de uma casa de cômodos no centro de Natal, onde encontrei dona Letícia. Então: o cineasta João, autor de excelentes documentários ("Notícias de uma guerra particular", "Entreatos" e o roteiro de uma bela série televisiva exibida nos anos 80 pela Manchete, "América", dirigida pelo irmão Walter Salles), começou a rodar o que seria "Santiago" em 1998. Mas não conseguiu dar ao material filmado uma montagem expressiva - ou que lhe satisfizesse a necessidade artística embutida no projeto do documentário. Agora, reviu os takes gravados e retomou a proposta, mas, com a maturidade que o tempo confere até ao mais intempestivo dos artistas, reavaliou tudo e descobriu que foi dele mesmo - e de sua ansiedade juvenil - a culpa pelo fato de o filme ter ficado inconcluso.

Neste exercício, o documentarista construiu um filme que serve o tempo todo como matéria de questionamento sobre o valor da verdade e da espontaneidade em contraposição à expressividade formal que preside o suposto cinema autoral, especialmente no terreno do documentário. É uma profunda e tocante aula sobre a maneira como nos relacionamos com a emoção filmada - e a forma como o cineasta burila, anulando ou potencializando, essa mesma emoção. Numa sentença: João Salles forçava a barra e, agindo assim, não apenas falsificava como escondia a verdadeira aura de seu personagem.

É preciso lembrar que Santiago se prestava bem a tal exercício: é o tipo de pessoa que parece mais um produto de ficção, tal a variedade de facetas que oferece ao seu documentarista. Argentino, é um serviçal deslumbrado com o estilo de vida das famílias aristocráticas. Uma vez dispensado de seu trabalho na mansão dos Salles, gasta seus últimos dias enfurnado num apartamento habitado por pilhas de anotações sobre tais famílias e outras figuras públicas feitas por ele ao longo dos anos. É pouco? Pois ele também adora dançar usando as mãos ou empunhando castanholas.

Dona Letícia Galvão também vivia dos restos de lembranças de outras eras, quase vitorianas de tão remotas quando a conheci, em algum ponto dos anos 80. Aluguei um apartamento no Parque das Pedras, ali em frente ao bairro de Neópolis, em Natal, cujo dono era o único neto de dona Letícia - um médico que residia em Brasília. Você entendeu certo: o dinheiro do aluguel era praticamente a única renda que tinha dona Letícia. E eu, todo fim de mês, ia até a casa de cômodos em que ela morava, ali perto do Ginásio de Esportes, pagar o aluguel. Dona Letícia ocupava dois quartinhos conjugados no que um dia havia sido o quintal da casa de cômodos. Era dois quartos escuros e entulhados de móveis velhos, vasinhos de plantas, muito papel, embalagens de margarina e porcelanas manchadas. Para usar uma imagem que dê conta da descrição sem se ater aos detalhes dela, posso dizer que a moradia de dona Letícia parecia mais um soturno depósito de pequenos bibelôs quebrados e colados com grude caseiro. E ela, uma quase delirante zeladora de seu antiquário pessoal.

A cada visita, logo descobri, teria que fazer mais do que pagar o aluguel que lhe garantia a sobrevivência. Letícia Galvão não queria só dinheiro: como tantos idosos que terminam sozinhos, queria ser ouvida. Tinha memórias e mais memórias para narrar. Queria lamentar o fato de não ter mais vinte anos. Desejava compartilhar de qualquer maneira seus dramas pessoais, como o fato de ter perdido cedo o marido e o único filho - este, salvo engano, morto por atropelamento no Recife. Restou-lhe o neto, o mesmo que morava em Brasília (hoje sei que trabalha no hospital público de Sobradinho) e deixava para ela o parco dinheiro do aluguel do apartamento onde eu morava.

Do que mais Letícia Galvão sentia falta era do que chamava de literatura. Ela escrevia à mão romances de moças em pequenos cadernos escolares. A protagonista de um deles se chamava Suerda. E as capas ela mesma se encarregava de produzir, usando colagens, letras desenhadas e recortes. Enquanto escrevia, lembrava dos saraus de poesia que eram realizados na casa dos seus pais na distante juventude. Ansiava por voltar a fazer parte de alguma coisa parecida com tudo aquilo. Sabendo que eu era jornalista, agarrou-se à minha visita mensal para, de alguma maneira, dar vazão a isso. Blogue não é lugar para narrativas tão longas quanto esta está se tornando. Para encerrar, direi que dona Letícia Galvão, essa Santiago de vestido que, tanto quanto o ex-mordomo, lutava em vão para fazer o tempo parar (ou, quiçá, retroagir), tornou-se objeto de uma reportagem que escrevi para a Tribuna do Norte. Título da matéria: "A última beletrista". Depois, essa matéria deu origem a uma outra, produzida e veiculada pela TV Cabugi - um pequeno curta jornalístico feito com competência e sensibilidade pela repórter Lúcia Matias e editado com a categoria de sempre por Adriano de Sousa.

Ao contrário de João Sales diante de Santiago, eu tinha uma paciência infinita para ouvir dona Letícia. Talvez por não ter a ansiedade formal do cineasta que encontra um personagem e quer fazer dele objeto de seu exercício artístico. Talvez por não ter o poder que João Sales tinha na circunstância dele (de filho do ex-patrão, com a superioridade natural do cineasta). Minha relação com dona Letícia era mais do tipo de igual para igual. Um dia, ainda trabalhando na TV Cabugi mas já morando em outro apartamento, abri casualmente uma edição do Diário de Natal e quase tombei de susto. Ali estava, natural como a passagem do tempo, um anúncio de uma missa de sétimo dia, em memória à alma de Letícia Galvão.

Vá ao cinema ou espere a chegada de "Santiago" em DVD e experimente o amargo sabor do legado de Letícia e Santiago: ao contrário do que se pensa, cedo ou tarde o tangível se tornará memória. Para saber viver, é preciso contar com isso. Como diz a ululante letra da canção mais que popular: "e tudo passa, tudo passa".

Vá por mim


Por motivos absolutamente óbvios, a gente não vai poder assistir. Mas o leitor do Sopão que mora em Natal bem pode ir no lugar da gente. Garanto que não será nenhum sacrifício. A dica também vai para a pequena mas significativa comunidade de leitores do Sopão que reside em Acari: o que são duzentos e poucos quilômetros quando se tem no ponto de chegada a música agora pop-visceral de Valéria?







Mais confidências de Corumbá

Uma terceira postagem sobre os segredos muito bem guardados de Corumbá de Góiás. Quem amplia as confidências da alma dessa cidade é a jornalista Thais Pires, goiana legítima e colega de Rejane no Unafisco. Rejane enviou o texto que o Sopão publicou sobre Corumbá para Thais e ganhamos de presente, via e-mail, a seguinte resposta que, por rica em informações e curiosidades, estampo de volta aqui no Sopão. Segue o texto:

Corumbá é uma belezura. Talvez nós, goianos, conheçamos bem esta pequena cidade. Alí já se vivia intensamente a cultura a partir dos meados do século XVIII. Embora o primeiro jornal goiano seja de Pirenópolis - o Matutina Meiapontense, que data dos anos 1700.

Se um dia você tiver a chance de conhecer algumas pessoas da cidade, principalmente as mais idosas, verá os discos que têm - bolachões de músicas clássicas e também músicas francesas. Muitas das famílias ainda hoje conservam seus gramofones, belíííísimos!.

É de Corumbá de Goiás o escritor de maior projeção nacional e internacional do Estado. Digo maior projeção porque é o único goiano a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras: Bernardo Élis -que é, inclusive, xará de seu filho. Ele tem contos, muitos bons, cujo cenário é a cidade.

Se você fizer contato com alguns parentes dele, verá a coleção de revistas francesas de moda, datadas de 1800 - o maior charme, os vestidos todos desenhados com bico de pena - um luxo. Eles têm também livros onde registram a família desde o final dos anos 1700. Tem coisas muito interessantes e muito tristes ao mesmo tempo: recorte de jornal dizendo do desaparecimento de escravos. Para descrever como é a pessoa do 'fugitivo', digamos assim, eles tomam como referência os dentes: tantos superiores, tantos inferiores.


Nota do Sopão: Thais, desculpe aí. Agora me dei conta de que nem pedi sua permissão para publicar o texto do e-mail. Mas, pensando bem, não veja como isso possa lhe contrariar, não é mesmo?

terça-feira, 16 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Corumbá, Goiás

Era como se a gente estivesse entrando em um cenário de um filme antigo e de época imprecisa – mas sem tropeçar em cabos, luzes e técnicos. Tudo em volta estava limpo, tanto quanto o ar no meio da praça, início da tarde quente, plataforma de paralelepípedos flutuando entre fachadas coloniais. Muitas cores, aquele sempre simpático contorno que têm as janelas de lugares como Pirenópolis ou Diamantina. Mas não era nem uma nem outra. Era Corumbá de Goiás, pequena cidade que ladeia a estrada que leva a Pirenópolis e na qual raramente o viajante apressado lembra de entrar, tal é a pressa para chegar logo ao destino consagrado. Pois que fique anotado: se entrar, corre o risco de sofrer uma espécie de feitiço visual e sensorial, e ficar por lá mesmo, bebendo o silêncio de ruas desertas e casas atemporais, e esquecer durante um final de semana que existe Pirenópolis, Goiás Velho, Brasília, Recife, Rio ou Cuiabá.

Corumbá de Goiás oculta-se cuidadosamente ao visitante – inclusive àquele que efetivamente já entrou nos seus limites e agora passeia por suas ruas, curioso por entrar em suas casas. No dia em que estivemos lá, era domingo, início de tarde como dizia. No ponto central da cidade, estávamos ali, aproveitando sombras em bancos da praça ampla e vazia, suspensa na geografia da cidade guardada em conchas. Em volta, um imenso ninguém na falta de qualquer sinal de transeuntes. Fora isso, que já era algo bem marcante, muitas cores e a harmonia quase musical composta pelas fachadas e pela ausência de sons. Ao longe, mas explodindo nas nossas vistas, o vale aberto que adorna a alvenaria do lugar. De movimento, havia, sim, alguma coisa: um casamento. Nem muito longe nem muito perto, divisamos ali dos bancos que ocupávamos, sutilmente, sorrateiramente, um vestido de noiva a sair da igreja, brancura rendada envolta em convidados, a ponto de levarmos um tempo até percebermos se tratar de uma noiva mesmo, de um casamento mesmo, de uma pequena galeria de padrinhos abrindo caminho para a passagem dos recém-casados. Mas tudo sonorizado com surdos ruídos tão sorridentes quanto distantes, como se fora um filme visto numa projeção caseira de super oito.

Suprema tontura, de porre anti-etílico de sonífero real. Viagem chã, essa proporcionada por uma inesperada visita a Corumbá, a de Goiás. Território profundo que já nos entregava a feérica natureza alucinante das pedras de Pirenópolis, além da igualmente brumosa experiência de estar em Goiás Velho – e agora temos ainda as sensações de Corumbá. Que, de quebra, ainda se permite ser literalmente lida como se fora um livro. É que pelos muros e fachadas espalham-se textos, em prosa ou poesia, de goianos que forjaram em palavras o outro ouro desses brasis perdidos. Da próxima vez, adie um pouco Pirenópolis, rememore assim-assim Goiás Velho, e entre, ancho e completamente embriagável, no território enladeirado de Corumbá. Uma vez lá, seja bem-vindo, respire a cidade e leia seus livros nela mesma, suporte urbano da lírica que a faz tão distinta.

P.S: breve, aqui, algumas fotos do lugar.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Entreblogs

A primeira sessão Entreblogs do novo Sopão traz uma postagem do Seqüências Parisienses, o blogue do professor Luiz Felipe de Alencastro, cientista político e historiador que sempre tem uma observação inteligente sobre o que somos como povo e como país. Falando nele, recentemente deu entrevista para duas edições do programa Sintonia, da TV Câmara. É mais de uma hora de uma conversa instigante que você pode assistir agora mesmo, se quiser - basta procurar com paciência (que vai encontrar) no site da TV, onde se chega por meio do portal da Câmara (www.camara.gov.br). Mas vamos ao texto do Seqüências Parisienses, blogue que há tampos faz parte da lista dos links recomendados pelo Sopão.


A tara da discriminação

Escrevo de supetão depois de ler as três matérias da Folha de hoje sobre os jovens entre 16 e 18 anos que hesitam em se tornar eleitores. O TSE lançará campanha para mobilizá-los. Como declarou o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, “...a apatia não conduz a nada. O que nós precisamos é de perseverar e procurar a correção de rumos. E a forma de se corrigir rumos é participando ativamente, fazer uma revolução pelo voto, bem escolhendo aqueles candidatos que devem nos representar nos diversos cargos”.

Belas palavras. Mas nem o ministro, nem a propaganda do TSE, nem os jornalistas da Folha se lembraram do outro lado do problema: a Constituição deu o direito facultativo de voto aos jovens entre 16 e 18 anos, mas também aos analfabetos [art.14° § 1, a) e c), da Const.].Sucede que os últimos dados do IBGE, datando de 2005, mostram um contingente de 14,9 milhões de pessoas com 15 anos ou mais analfabetas no país. É muita gente, gente! Quando se verifica o critério da cor aparece de novo a tara da discriminação racial. Cito o relatório do IBGE “a taxa de analfabetismo de pretos (14,6%) e de pardos (15,6%) continua sendo em 2005 mais de o dobro que a de brancos (7,0%)”. Noutro post me referi ao fato que a proibição de voto dos analfabetos constituiu um fator importante de exclusão da população negra da vida política brasileira. .Ora, desde o início, a propaganda do TSE e da mídia tem procurado incitar os jovens de 16 a 18 anos incompletos a se tornarem eleitores. Mas não há notícia de propaganda similar dirigida aos analfabetos em geral, ou de medidas específicas para facilitar-lhes a obtenção do título de eleitor.

Lembro-me de uma notícia ouvida no final de 1988 ou começo de 1989, antes da primeira presidencial direta, dizendo mais ou menos isso: “ a jovem Adriana Rezek, de 16 anos, filha do ministro Francisco Rezek (então presidente do TSE), foi uma das primeiras a obter seu título de eleitora, etc...”. (a moça se chamava Adriana, mas não estou seguro se tinha 16 ou 17 anos). Lembro também da reflexão que fiz então no Cebrap, ou escrevi alhures: ‘que tal prevenir dona Maria de Tal, empregada doméstica há 40 anos, negra e analfabeta, que ela também pode ser eleitora e festejar a obtenção de seu título eleitoral’?Na época, aparecia na TV, na propaganda do TSE, um jovem surfista dizendo algo do gênero: “ e aí garotão, não vai tirar seu título eleitoral?”Nada mudou de lá para cá.

Fala-se sempre dos jovens (leia-se: jovens de classe média) que podem obter título de eleitor aos 16 anos e jamais dos analfabetos adultos que também têm este mesmo direito. O PT nunca se mexeu para mudar isso. O Movimento Negro nunca se mobilizou para mudar isso. A imprensa e a mídia deram pouca ou nenhuma notícia sobre o assunto, e os tribunais eleitorais continuam insensíveis ao tema.Não há preconceito de classe? Não há preconceito de raça no Brasil? Então tá!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

o escritório da aluna cecília







Alguma pendência? Favor marcar horário. No momento, ela está deveras ocupada com questões relacionadas à dieta de Magali.






terça-feira, 9 de outubro de 2007

Ojuara é o caralho! Meu nome agora é Zé Pequeno!

Se você não suporta mais ler avaliações sobre o filme feito com base no livro de Nei Leandro, pode pular pro blog seguinte. Eu mesmo fui assistir à versão de Ojuara do cinema já bem enjoado de tanto ter lido sobre a adaptação que Moacir de Goes e Mr. Barretão fizeram do livro. E digo mais: ainda que saturado, entrei na sala de exibição com a melhor disposição possível, certo de que minha infinita generosidade diante do cinemão daria conta de contornar pelo menos parte das críticas que o filme sofreu. Saí de casa com um espírito de "é apenas um filme, o que importa?". Mas, pelos poderes de Ojuara, bastaram uns vinte minutos de projeção para essa predisposição vir abaixo.

"O homem que desafiou o diabo" começa bem, especialmente nos dez primeiros minutos. Sugere um bom filme do catálogo de entretenimento, embutido no escaninho da comédia nordestina, sacado dos fichários onde guardamos nossos anti-heróis de estimação. Nas primeiras cenas, mostra logo uma cor saturada que aspira o realismo e joga o filme direto no terreno da fábula, que é mais ou menos a estrada que a prosa de Nei Leandro sugere. Ze Araújo surge com a dimensão do cidadão comum - um bom espelho do seridoense metido a uma pilhéria, gaiato das pequenas transcendências. Dualiba, com quem divide esse prólogo, também aparece bem resolvida na figura de Lívia Falcão, que dá conta de um personagem difícil, por tão divertido quanto repugnante, caso você tenha o livro em mente enquanto assiste ao filme.

A coisa começa a fazer água logo a seguir, numa cena fundamental para sustentar o resto do filme. É o momento em que Araújo vira Ojuara, esporeando um cavalo brabo em praça pública. O diretor resolveu a cena quase que totalmente com base na trilha sonora. Tire a música grandiloquente e veja o que sobra. E o ator principal mostra que, se deu conta de Araújo, não comeu feijão o suficiente para incorporar Ojuara. Ainda há uma boa seqüência - aquela em que Ojuara enfrenta o diabo pela primeira vez, na tapera do preto velho - mas fica nisso.

O Ojuara do cinema não tem grandeza, não enche a tela, não tem aquela característica que dá a um personagem o desenho do extraordinário. Chega a ser justamente o oposto do Ojuara do livro: é cheio de boas intensões, posa de defensor de pobres e oprimidos, busca o repouso do guerreiro mais do que a aventura da estrada. Se o leitor reparar bem, vai notar que Araújo é muito mais Ojuara do que o inverso. Sem mostrar nunca o país de São Saruê, o filme também subtrai do seu (anti) herói o cenário que confere um poder mítico a Ojuara. Se o filme recorresse a texturas diversas para desencravar seu mito, até um desenho animado daria vida a uma São Saruê imprescindível.

Mas o roteiro e a direção preferem investir num Ojuara mais para o romântico do que para o endiabrado. Abre um parêntese de vertigem amorosa quando Ojuara conhece Sue que nada tem da marca picaresca do cabra que conhecemos no livro. O motor de Ojuara é outro e fica mais embaixo. Não tem nada daquelas alturas em que a Sue readaptada desfila (aliás, numa seqüência muito parecida com uma outra de "Abril despedaçado", de Walter Salles). Sei que o autor do livro também é autor do roteiro, mas a mão pesada da produção fica evidente: o objetivo era extrair do livro o que fosse o mais assimilável possível, numa apropriação da uma pequena mitologia regional como matéria de lucro nas bilheterias.

Essa é a impressão geral, mas como nem tudo é um bloco acabado ou uma conspiração cultural, aqui e ali esbarramos em boas performances que se não foram melhor aproveitadas é porque o propósito era outro (aquele do parágrafo acima). Por exemplo: há, ao longo do filme, três belas atuações (uma bem inesperada) que dariam um Ojuara menos retilíneo e previsível. O pernambucano Otto, que chuta o pau da barraca com seu Zé Tabacão, renderia um Ojuara agalegado e foribundo, como sugere o livro. Helder Vasconcelos, que eu nunca havia visto, rouba a cena com seu diabo inquieto e faria o espectador enxergar um Ojuara menos herói de novela de Aguinaldo Silva do que Marcos Palmeira. E ainda há o simpático Leon Goes, irmão do diretor, com uma pronúncia que significa sotaque sem afetação - uma cumplicidade interiorana, um excesso de confiança que ficaria muito bem em... Ojuara, o autêntico.

Mas nada disso foi aproveitado à altura, devido à opção de realizar um filme fácil sobre um livro consumível (o que não quer dizer que não seja ótimo). Há uma clara disposição em não arriscar nada. Muito pelo contrário - e Fernanda Paes Leme, à frente do elenco feminino, elimina qualquer dúvida. É um filme preso ao roteiro, pouco preocupado em estudar seus personagens, que foge da ousadia tanto quanto o seu herói anuncia procurar uma boa encrenca. E, mesmo tomado como entretenimento, é fraco: porque mesmo um produto destinado à diversão prescinde de invenção. E o filme não inventa nada - antes, repete: Palmeira reciclando seus protagonistas televisivos, uma piada que se repete como bordão de programa humorístico, um desfecho à altura da dramaturgia das seis da tarde na tevê.

Repetição por repetição, sobrou até para o Casseta e Planeta, que também virou fonte de inspiração. Lembrei dos Cassetas (e acho que não fui o único) bem naquele momento em que todos temem a chegada de um pistoleiro cruel e sangüinário. Quando ele aparece, é... Zé Pequeno (o ator Leandro Firmino da Hora, que, na seqüência, como que consciente da redundância, passa a brincar com seu "personagem" e tira sarro de tudo). Parece ou não uma piada dos Cassetas: Zé Pequeno invadindo o set de "O homem que desafiou o diabo"?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O Abraço Partido


"O Abraço Partido", de Daniel Burman, é o tipo do filme a que você termina de assistir com um sorrisinho irônico no canto da boca. Um leve esgar nem um pouco amargo - pelo contrário, um ar de riso que pretende apenas dizer que "a vida é bela apesar de tudo". Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim de 2004, o filme argentino gasta muito diálogo, muitas cenas de interior, uma rica fauna de personagens e quase nenhuma ação de fato para falar sobre identidade, nacionalidades, memória, futuro, crises comunitárias e sobretudo, quando menos se espera, intimidades.

Deixe eu desempacotar esse palavreado todo: é um daqueles filmes de situação meio cíclica, do tipo que dá voltas e voltas em torno do mesmo quadro, estudando personagens, tateando desentendimentos, enfiando dedos em feridas e ao mesmo tempo passando remedinhos caseiros. Isso tudo acontece dentro de uma galeria de lojas populares numa Buenos Aires mergulhada na crise econômica até o último fio de cabelo. Nessa galeria convivem judeus nem um pouco ortodoxos, coreanos remediados e latinos fodidos mas, enfim, prontos para o que der e vier. Pelo corredor de lojas minúsculas transita um fiapo de trama, aproveitado até o tutano: a difícil relação entre Ariel, sua mãe, dona de uma das lojas do lugar, e seu pai ausente, que deixou a família para lutar nas guerras israelenses da década de 70.

Em Ariel está grudada a sina do jovem sem perspectiva dos países em crise. Tudo o que ele quer é deixar para trás a pátria de origem, em troca de uma nova nacionalidade. Na perseguição dessa meta, ele renega tradições, esnoba genealogias, faz pouco caso de si mesmo. Um sentimento que contamina a galeria inteira, mas de outra maneira: o que vemos lá são coreanos, judeus e latinos que sustentam apenas aparentemente seus parcos repertórios simbólicos. Assim, o rabino dá as costas à comunidade falida para pregar num tempo em Miami Beach, da mesma maneira que a circuncisão das crianças virou um vídeo bolorento e a comida típica um mata-fome casual. Enfim, tudo parece mais um fim de feira de restos de tradição que os pobres habitantes da galeria exibem quando e como podem. O casal de coreanos é o exemplo acabado dos produtos de uma era que conjuga catástrofe financeira com comércio global e nenhum escrúpulo diante das culturas locais. Representante maior dessa era, o protagonista Ariel está prestes a cometer uma dupla traição: desprezar tanto a origem judaica quanto a nacionalidade argentina. Numa palavra, abrir mão do mais rico tipo de história - a pessoal. Talvez por que ainda seja jovem, ao contrário dos demais personagens que nem têm mais a que dar as costas.

Mas todo esse quadro de crise comunitária vai desaguar em impasses individuais que injetam força no filme e o fazem transcender à própria ansiedade e verborraria. O pai não se mandou da maneira como Ariel imagina e a mãe vai se revelando uma grande figura de mulher que o filho não consegue enxergar. Enquanto isso, as várias nacionalidades seguem convivendo como podem - muito bem - no interior da galeria. Um cenário que serve, obviamente, como microcosmo recriado de todo um país em fim de linha.

"O Abraço Partido", há muito disponível em DVD (eu é que pego os filmes com atraso de séculos), começa (e vai até o fim) com uma incômoda câmara titubeante que balança mas não cai, abusa dos diálogos (sempre preferi filmes onde se conversa menos), contém uma impaciência angustiante (talvez para expressar a urgência dos que, como Ariel, querem uma dupla nacionalidade para escapar da crise e do país terminal) e ainda provoca uma tremenda sensação de claustrofobia com suas cenas enfurnadas na galeria, quando não são externas noturnas - ou soturnas mesmo, apesar do humor recorrente (e negro, claro).

Mesmo assim, quando acabar a última cena, aquele sorrisinho vai aparecer sutilmente no seu rosto. O esgar meio irônico meio terno que comparece a título de conclusão. Mais do que comércio, estética ou conteúdo, considero cada vez mais que cinema é efeito. O que vale é o que o filme provoca - não necessariamente o que ele diz, o que ele discute ou o que ele retoca. É o que ele toca. "O Abraço Partido" tem o efeito de tirar uma poesia mínima e uma graça discreta do rastejante dia-a-dia de lugares em crise, seja Buenos Aires, São Paulo, Brasília, Recife ou Natal.

P.S: Se o sorrisinho não aparecer ao final da última cena, não se aflija. Espere pacientemente os créditos finais e você vai ganhar um belo número musical para guardar no porta-retratos da sua cinematografia de estimação.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Irmãos, coragem

Aguinaldo Silva tem medo de José Dirceu
Regina Duarte tem medo de Lula
Ali Kamel tem medo de Marco Aurélio Garcia
William Bonner tem medo de Hugo Chavez
Arnaldo Jabor tem medo do Congresso Nacional
Diogo Mainardi tem medo de Franklin Martins
A TV Globo tem medo da TV Pública
Você tem medo de quê?

conforme anunciamos





a aluna Cecília pronta para mais um dia de aula

Dialética caseira

Cecília dorme Bernardo acorda
Bernardo espia Cecília ouve
Cecília canta Bernardo balbucia
Bernado chora Cecilia ecoa
Cecília cala Bernardo silencia
Bernardo gofa Cecília fastia
Cecília sorri Bernardo geme
Bernardo mama Cecília aceira

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

As cianobactérias estão no ar

Postagem rápida só pra informar aos amigos que a TV Câmara começa a exibir hoje à noite a série de reportagens "Desafios do Saneamento", que aborda esse assunto complicado - mas vital para a saúde pública no país - a partir da realidade de uma pequena cidade (nossa bela Acari), uma capital de porte médio em crescimento acelerado (isso mesmo, Natal) e outras regiões do Brasil, como o chamado Entorno do Distrito Federal e São Paulo.

Se você tem um interesse mínimo em saber o que diz e o que se pode fazer com base no chamado "marco regulatório" do saneamento, também deve assistir à série. Vai estar tudo explicado lá, na altura da quarta-reportagem.

No total, são cinco VTs, feitos pela ágil, bonita, simpática e inteligente repórter Ariadne Oliveira, minha colega de concurso público e de TV Câmara. Fiz, sob encomenda da direção de Jornalismo da TV, a pauta da série, ajudei na produção e já que estava metido até o pescoço nessa história, resolvi eu mesmo editar. Os caras deixaram e o resultado será exibido a partir de hoje dentro do "Câmara Hoje", o telejornal noturno da TV Câmara.

O jornal começa às 21h (nos outros dias da semana, pode ser que entre no ar mais tarde, já que só começa depois de encerradas as atividades no Plenário). Na primeira reportagem, o grave problema da contaminação da barragem Gargalheiras, em Acari, pelas cianobactérias. Com a participação de um blogueiro dos bons, nosso diligente Jesus de Miúdo, o cidadão que tomou para si a responsabilidade de alertar a cidade para o problema. E quase foi - injustamente - crucificado por isso.

A terceira reportagem, a ser exibida na quarta-feira, levanta o problema do nitrato na água das torneiras de Natal. A TV Assembléia nos ajudou e muito na produção das reportagens feitas no RN. E também deve exibir o material todo.

Caso você não possa ver a reportagem no horário original da exibição, basta entrar na página da Câmara na internet (http://www.camara.gov.br/), acessar lá dentro a página da TV Câmara e assistir ao mesmo material.