domingo, 29 de maio de 2011

Panorama matinal





Janelas abertas para o domingão entrar

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Novos kits na praça


Ok, o kit gay não incomoda mais ninguém. Tá recolhido, lacrado, grampeado e silenciado. Mas o caso rendeu um barulho tão grande - aliás, os videos do kit foram tão exibidos que a garotada já viu tudo, nem precisa mais voltar ao assunto, objetivo alcançado, imagino - que deixou no ar a sugestão. Está mais do que na hora de a ofensiva tipo terceiro turno da campanha eleitoral botar na praça uma nova série de kits, todos do mais alto padrão, religiosos a ponto de ajoelhar em milho de sacristia, altamente familiares, daqueles que todos, do recém-nascido à vovó centenária podem assistir juntos na sala como há décadas não se usa mais. Assim:

KIT ANTI CLASSE C, afinal, todos precisam se proteger da fúria consumista e da deselegância deslumbrada dessa gente que, fazer o quê, foi - como se diz? - integrada ao mercado econômico do país. Dicas de como se lavar em casa após contatos inevitáveis, sugestões para fugir da conversa comprida desse povo, e um infográfico bem ilustrado com mais de 50 maneira de torcer o nariz diante de uma abordagem inesperada.

KIT ANTI PALOCCI, afinal, você também pode contribuir para derrubar um ministro e no final se vangloriar do seu antissedentarismo político do qual aquela sua vizinha que se julga melhor do que você sempre lhe acusou. Basta um clique numa tag de rede social e, pronto: sai pra lá, ministro. Ou então democratiza para gente a cobertura de 6 bi que nunca foi coisa pensada para morador petista, mesmo que seja da parte do PT que menos incomoda. Conteúdo: bandeirinha pra por no carro, adesivo "Eu sou fã de Miriam Leitão", e vale-seguro de que não vão botar no lugar de Palocci alguém refratário ao mercado.

KIT ANTI AMANDA GURGEL, afinal, parafraseando Nelson Rodrigues, unanimidade é coisa muito jeca. E se a massa de repente se colocou a favor dessa criatura do PSTU, quem cultiva bom gosto e distinção tem mais é que cair fora da manada. Conteúdo do kit: óculos de sol opacos para qualquer fenômeno de caráter popular, dossiê do tipo desmancha-reputação para usar nos bate-papos com simpatizante da coisa e fones de ouvido que traduzem o sotaque tipicamente natalense da moça em prosódia catarinense acima de qualquer cor local.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mais Palocci


Mais uma análise sobre o caso Antonio Palocci, desta vez do site Carta Maior. Pra você juntar os vários pedaços dessa história e ir tirando suas conclusões:

Caso Palocci muda postura de Dilma e prenuncia novos rumos

Agravamento da situação do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, obriga Dilma Rousseff a assumir relação com aliados, para reconstruí-la, aumentar exposição e liberar equipe para produzir notícias. Interlocutor amistoso dos meios de comunicação, ministro surpreendeu-se com tamanho do noticiário sobre suspeita de enriquecimento ilícito. Presidenta manda blindá-lo, mas permanência de Palocci é incerta.

André Barrocal

BRASÍLIA – Os partidos adversários do governo começaram, nesta segunda-feira, a colher assinaturas de deputados e senadores com o objetivo de criar uma CPI para investigar o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, cuja evolução patrimonial nos últimos quatro anos levanta suspeitas de enriquecimento ilícito. Nesta terça-feira (24/05), depois de ter fracassado na Câmara, a oposição tentará obrigar Palocci a comparecer ao Senado para explicar a fortuna.

A ordem da presidenta Dilma Rousseff aos aliados continua sendo “barrar toda e qualquer investida contra o ministro”. Mas o caso agravou-se de maneira inesperada por Dilma e Palocci, e jogar as fichas na permanência do chefe da Casa Civil é hoje uma aposta de alto risco. A troca dele pode ser o desfecho de um processo que já impõe mudanças à rotina do governo, expõe falhas em estratégias adotadas pelo Palácio do Planalto e força uma repactuação da relação presidencial com partidos a parlamentares aliados que terá impacto nos rumos da gestão Dilma.

Um sinal da alteração de hábitos do governo foi a publicação, nesta segunda-feira (23/05), de medida provisória (MP) que corta impostos para quem fabricar tablets (uma espécie de laptop em formato de livro) no Brasil. O governo negocia desde o início do ano a instalação de uma empresa chinesa (Foxxconn) no país, para fabricar o equipamento, mas a benesse fiscal foi apressada para que a imprensa tenha uma notícia positiva.

A viagem de Dilma a Salvador na véspera, um domingo, mesmo sem estar 100% recuperada de uma pneumonia, para assistir a uma beatificação, também foi um movimento planejado para virar notícia pelo menos simpática à presidenta.

Pouco afeita a aparições públicas e com antipatia por entrevistas de ministros e auxiliares deles, a presidenta reconhece, hoje, que o enfrentamento político do constrangimento causado por Palocci depende, em boa medida, de o governo produzir notícias com mais frequência.

“Não existe uma agenda clara do governo, e a Dilma e o Palocci são culpados por isso. O espaço político acaba sendo ocupado por fatos como esse”, diz Fabiano Guilherme Santos, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Jogo duro

A discrição natural de Dilma foi aproveitada pelo chefe da Casa Civil para se fortalecer, tomando à frente das relações com o Congresso e os partidos. Com aval da presidenta, Palocci vinha adotando uma estratégia de “jogo duro” com aliados que ele mesmo acredita estar na origem da notícia de que comprou apartamento de R$ 6,6 milhões, multiplicando seu patrimônio por vinte.

O ministro evitava abrir o gabinete a políticos em busca de nomeações de apadrinhados para cargos públicos, inclusive do seu partido, o PT. Para impedir a reação dos ignorados, decidiu que o governo tentaria só precisar do Congresso em votações de grandes temas estruturais, como a reforma política.

“A Dilma tem um deficiência importante, que é a pouca penetração junto ao PT e ao Congresso. Ela é um milagre do Lula. O Palocci supria essa deficiência. Mas, com ele enfraquecido, alguma repactuação [da presidenta] com os aliados vai ser necessária”, afirma o cientista político Fabio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Fogo amigo e novas relações

Nos bastidores, Dilma e Palocci acham que o episódio nasceu exatamente para que haja repactuação com aliados, mesmo que depois tenha adquirido uma dinâmica própria alimentada pelo interesse natural dos adversários de desgastar o governo e por jornalistas atrás de notícias. O ministro, aliás, surpreendeu-se com o tamanho do noticiário a seu respeito, pois achava que sua convivência amistosa com os veículos de comunicação desestimularia-os de dar tanto espaço ao caso.

Três dias depois de ter sido publicada a primeira reportagem contra Palocci, a presidenta recebeu, para um almoço no Palácio da Alvorada, o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Nem bem havia assumido o comando do partido, no início de maio, Falcão já declarava que sua primeira tarefa seria negociar 104 indicações petistas para cargos no governo. A lista dos apadrinhados fora enviada a Palocci, que a deixara engavetada.

Maior partido governista ao lado do PT, o PMDB tinha insatisfação semelhante. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), só conseguiu falar uma vez com Dilma até agora, ao pegar carona numa audiência da governadora do seu estado, Rosalba Ciarlini, com a presidenta, em fevereiro. Sem conseguir ser atendido por Palocci, o PMDB vinha recorrendo ao vice-presidente, Michel Temer, que é peemedebista, para tentar emplacar seus pleitos.

“A Dilma vai ter que se dedicar muito mais à política propriamente dita, em vez de delegar isso. Sendo ou não do seu perfil, ela não pode ficar eternamente dependente do Palocci e do Temer”, afirma o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, mesmo que não tenha começado como “fogo amigo”, o caso já permite que “amigos” tirem proveito. “O poder é extremamente atraente, não existe vácuo. Com o Palocci fraco, os adversários dele dentro e fora do governo tentarão ocupar esse espaço.”

A luta para ocupar o espaço decorrente do enfraquecimento do chefe da Casa Civil - com ou sem ele no cargo - será determinante para os rumos que o governo Dilma Rousseff terá daqui para frente.

Código legislativo, o video


Pra ficar em dia com o assunto do dia. Uma pensata em video sobre as mumunhas onde se mimetizam o Código Florestal e o processo legislativo, tanto no oficial quanto no paralelo. É trecho do CÃMARA HOJE dessa segunda-feira, mas tá valendo até que o Congresso resolva o impasse em torno do tema. Clique aqui para assistir.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tudo o que eu pensava sobre o caso Palocci...



...mas não tinha encontrado ainda tão bem formulado e formatado. O texto é do Blog do Miro (que vai, naturalmente, para a lista dos Outros Cardápios ali ao lado):

Palocci: fim do “namorico” da mídia?
Por Altamiro Borges


Durante quase cinco meses, a mídia demotucana deu uma trégua para Dilma Rousseff. Na campanha do ano passado, a imprensa insinuava que ela era um “poste”. Depois de eleita, passou a tratá-la como “estadista”, tentando cavar uma cunha entre ela e Lula, o “populista”. No congresso dos metalúrgicos da CUT, há três semanas, Lula até ironizou o “namorico” da mídia com a presidenta.

Agora, porém, a coisa parece que azedou. A mídia resolveu detonar a principal referência do atual governo, o ministro Antonio Palocci, da Casa Civil. A acusação é grave. A imprensa insinua que o ministro enriqueceu ilicitamente, adquirindo um apartamento de R$ 6,6 milhões – bem acima dos seus rendimentos. Em quatro anos, Palocci teria multiplicado por 20 o seu patrimônio.

A ofensiva contra o ministro todo-poderoso é até curiosa. Afinal, Palocci é reconhecidamente o homem de confiança do “deus-mercado” e dos barões da mídia. Ainda na campanha eleitoral, a revista Veja, já sentindo a derrota do seu candidato, aconselhou a futura presidenta a indicá-lo como “fiador” do seu governo. Agora, ela e outros veículos batem para matar no “fiador”.

Cabe a Palocci esclarecer as denúncias. Ele afirma que sua renda decorre do trabalho de consultoria às empresas que prestou nos últimos anos. De fato, o seu trânsito entre os ricaços é grande. Sua campanha para deputado federal em 2006, que custou R$ 2,4 milhões, já foi bancada pela elite empresarial, principalmente por banqueiros – conforme declaração oficial no TSE.

Mas o que explica, então, a ofensiva da mídia contra seu homem de confiança no Palácio do Planalto? Uma leitura atenta ajuda a entender os motivos da recente onda de escândalo. Na prática, a imprensa demotucana bate em Palocci para atingir Dilma – no mínimo, para mandar seus recados e enquadrá-la. Isto fica implícito nos editoriais e nos artigos dos seus principais “calunistas”.

O Estadão, por exemplo, não esconde seu ranço contra o governo “lulista”. Ao tratar de Palocci, o jornalão inicia seu editorial com a frase. “Lula ensinou muita coisa aos seus companheiros”. O alvo não é o ministro, mas sim o ex-presidente. Ele também insinua que o dinheiro usado na compra do apartamento é sobra da campanha, tentando envolver a presidenta Dilma no escândalo.

Na mesma linha, os “calunistas” da Folha batem em Palocci para atingir Dilma e o “petismo”. Fernando de Barros e Silva destila veneno já no título da sua coluna – “um petista neoclássico”. O seu alvo é o partido da presidenta. “O PT se confunde com a direita”, afirma o jornalista, sempre afinado com a direita, que tenta generalizar as críticas, ligando o ventilador no esgoto!

Já Eliane Cantanhêde, a entusiasta da “massa cheirosa” do PSDB, prega o fim da “lua de mel” com o atual governo e exige uma postura mais agressiva da oposição demotucana. Como já foi dito, Palocci deve esclarecer rapidamente o seu enriquecimento – se é que tem explicações para dar. Mas o alvo da mídia não é o ex-ministro, o queridinho do “deus mercado”, mas o governo Dilma!

sábado, 21 de maio de 2011

A Mulher Revoltada, o espetáculo



Xico Sá, o antibrasilianista do jornalismo nativo, estréia no teatro pelas mãos de Fernando Yamamoto e convidados dos Clowns. Estreia foi esta semana em Brasília

Morreu o último macho canalha sobre a face da terra. Sem ele, tudo o que restou foi uma matilha arrumadinha de metrossexuais aloprados. É mais ou menos este o ponto de partida de “A Mulher Revoltada”, o primeiro texto para teatro do multimídia cearense-pernambucano-paulista-brasileiro-assumido Xico Sá. Dito assim, “o primeiro texto”, soa com a solenidade nem um pouco adequada ao universo paralelo desse fornicador de palavras que vive de traduzir o Brasil de verdade, verde e rosa, Fernando Mendes e Ben Jor, blindex com sarjeta, para o veículo que aparecer – livro, paródia de livro, blogue, site que ressuscita antigos hebdomadários e, agora, por que não, teatro.

Pelo que se deduz das entrevistas publicadas no site do Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e reproduzidas pelo SOPÃO aqui, é texto de encomenda, para esse projeto sobre novos dramaturgos que está em cartaz desde a semana passada na capital do país. “A Mulher Revoltada” caiu nas mãos do encenador Fernando Yamamoto, o cara dos Clowns de Shakespeare, o grupo potiguar que projeta o teatro feito no RN pelo país afora. Os atores são Titina e Paula, Joel e Dudu – que o público já conhece como convidados dos Clowns. E o resultado – bem o resultado Xico Sá deixou a critério de Yamamoto, que repartiu o texto em esquetes quase autônomos e colou tudo
com uma iconografia cênica e sonora de certo mundo bem abaixo da Classe C. Um cult brega de muito bom gosto, marcado a giz no chão, levado em embalo de boleros e Nalva Aguiar e embrulhado em papel de jornal popular – que os personagens vêm todos das redações reais ou imaginárias por onde Xico Sá passou, passa ou vai passar.

O resultado é um caleidoscópio de situações, frases e antirreflexões que misturam Pimenta Neves com Matinas Suzuki, Tarso de Castro com Sandra Anemberg – todos, naturalmente, entortados, distendidos, repuxados pelo botox do teatro vivo que distorce para melhor espelhar. A estréia oficial foi na quinta-feira, mas como Paulinha teve problemas de saúde, Titina ficou só em cena com os dois marmanjos em crise, no que o espetáculo teve que ser refeito em questão de horas. Na sexta, afinou-se esta versão alternativa (e, em se tratando do caos necessário do pensamento de um Xico Sá, é de se pensar que imprevistos assim talvez tornem a coisa até mais interessante, por menos demarcada como se viu na estréia de fato, chego lá). Ontem, finalmente, o elenco completo, Titina e Paula dividindo o escracho da mesma personagem, a dita mulher revoltada que cutuca as varas desnorteadas dos machos em cena, deu-se a estreia de fato. Se a platéia do CCBB-BSB ajudasse, teria rendido mais: enquanto assisto, imagino que link pode haver entre aquele brasilzão pop-nordestino-reieira do texto e aquele público de classe média de plástico entupida de bom gosto fabricado. Mas isso é outra história.

Bom vai ser quando chegar a Natal, Recife, Salvador e mesmo Rio de Janeiro. Chega já – aguarde aí que o projeto vai andar. E todo mundo vai poder tirar um sarro junto com Xico Sá e Yamamoto da dançinha do macho cornofóbico da qual Joel/Pereira se desvencilha muito bem, dublando mambo como se fora uma Ângela Guadanin comemorando sem pudor a própria e ridícula queda. Ou o momento em que Paula e Titina quase fazem sexo explícito com o canalha morto e falante via um monitor de tevê algo anos 80, meio Wim Wenders meio Boneca Suzi da TV Tupi Recife, que deus a tenha – as duas. Ou ainda curtir a barbicha metrô que Dudu cultiva em imagem e metáfora durante todo o espetáculo, nossa vingança contra a estupidez bem-pensante que ilustra grande parte do jornalismo cultural em voga.

“A Mulher Revoltada”, que traz de volta ao palco aquele clima de botequim que os Clowns mostravam em “Roda Chico”, é também um semimusical – se é que isso ainda não ficou claro até agora. Deve muito àquele espetáculo de sucesso – e pode tirar ainda mais dessa herança: um pouco mais do ritmo frenético que ele tinha e não faria mal à recriação no palco do estilo Xico Sá de realizar a crônica de um Brasil revirado sobre si mesmo. Neste ponto, os esquetes truncam um pouco. Mas o espetáculo que vi ainda é – como se diz? – uma “obra em progresso”. Ou “buraqueira em atraso” como seria mais apropriado quando a gente está falando de Xico Sá e da boa bagunça cênica que sua nova investida pode proporcionar para o bem de platéias bem mais quentes do que a do inverno local.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Futuro do passado






Do passeio do domingão passado, na nova Feira da Torres. Breve, mais imagens do mesmo batlocal.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O código do Legislativo


APP versus PIB. Anistia ou multa? Lavoura na floresta ou floresta na lavoura? Nunca o Brasil havia olhado tanto para o ponto cardeal onde se cruzam produção de alimentos e preservação da natureza, agricultura para exportação e reserva ambiental. Quem poderia harmonizar com régua, compasso e muita negociação esse mapa da discórdia?

Para além da falta de acordo de cada dia, o debate sobre o Código Florestal espelha e expõe para o Brasil o instrumento com que contamos na hora de construir um consenso mínimo em país de tal diversidade regional e de interesses. Um legislativo que, criticado como casa de sogra e não poucas vezes à altura de tais vaias, não deixa de ser o meio, imperfeito que seja, ao alcance do clamor cidadão.

Diante dos enigmas do Código Florestal, assistimos a um trabalho de costura política de proporções amazônicas. O tema, transversal como poucos, derruba as cercas de antigas classificações. Nem todo governista é ecologista. Nem todo oposicionista é ruralista. E na rima do sufixo que sufoca, o objetivo é cantar o hino do acordo. Com o Legislativo operando em seu ritmo próprio, de avanços e recuos, até chegar ao denominador comum - e possível.

Foi assim nos anos 70, quando outro tema espinhoso dividiu a sociedade e turbinou um Congresso ainda à sombra da ditadura. O senador Nelson Carneiro levantou a bandeira e o divórcio, que era tema controverso, acabou sendo aprovado. Foi assim recentemente, quando se discutiu a permissão para pesquisas científicas com células tronco embrionárias, convulcionando ainda mais a gestão do então presidente Severino Cavalcanti. Também passou, ao fim de muito debate com a sociedade e com os parlamentares.

Sangria do Garga no Globo


De tanto tuitada e reuitada, a sangria do Gargalheiras foi parar no site do jornal O Globo na manhã desta quinta-feira. SOPÃO reproduz o texto e ilustra com foto de sangrias passadas (e a minha pessoa e a de Rejane igualmente pretéritas), já que até o presente momento não apareceu ainda um fotógrafo bom e ligeiro para postar a imagem tão festejada nas ondas da internet. Segue a notícia de O Globo:

SÃO PAULO - O açude Gargalheiras, no Rio Grande do Norte, começou a sangrar na manhã desta quinta-feira. Num paredão de 25 metros de altura, a água vaza formando uma gigantesca cachoeira feita pelas mãos do homem. A sangria do Gargalheiras está entre os assuntos mais comentados no twitter nesta quinta-feira.

O açude resulta do fechamento do Rio Acauã entre duas serras, a do Abreu e Gargalheiras e as águas represadas pela barragem abastecem as cidades de Acari e Currais Novos. São 44 milhões de metros cúbicos de água acumulada e a sangria não é comum. Em geral, ocorre em intervalos de três a quatro anos.

O secretário de Turismo de Acari, Sérgio Enilton, um ex-professor de História, conta que a região abrigou uma grande lagoa e uma área pantaneira. Ali, em volta da água, viviam as principais tribos índigenas da região.

O Rio Acauã faz parte da Bacia do Rio Piranhas-Assu, principal rio que corta a região do Seridó.

- A palavra Seridó deriva do tupi guarani e significa terra árida, seca - explica Enilton.

A cidade de Acari, de 11 mil habitantes e localizada a 210 km de Natal pela BR-226, e a vizinha Currais Novos disputam com suas belezas naturais o nascente ecoturismo. O povo da região há muito aprecia a natureza privilegiada e já ajudou a eleger a barragem de Gargalheiras como uma das "maravilhas" do estado, ao lado do Morro do Careca, em Natal, e da Serra da Barriguda.

A vizinha Currais Novos divide os louros com Acari. Em suas terras está o cânion dos Apertados, por onde corre a água do Rio Acauã. Trata-se do único canyon de rocha granítica do mundo e fica em uma fazenda particular.

A economia das duas cidades, basicamente de gado leiteiro, promete crescer atraindo turistas.

A história da barragem de Gargalheiras também reflete a história de como as coisas acontecem no país. Sua primeira planta, segundo Enilton, é de 1909 e em 2009 a região comemorou seus 100 anos. A ideia surgiu com a seca de 1877, que levou o então Instituto de Obras contra as Secas a estudar a construção de grandes reservatórios no Nordeste.

Da planta à inauguração da barragem os moradores do Seridó tiveram de esperar 50 anos. A barragem que originou o açude só ficou pronta em 1960,l quando foi oficialmente inaugurada. No meio do caminho, várias interrupções da obra, que chegaram a ser tocadas por empresas inglesas.

O nome Gargalheiras, segundo Enilton, vem das coleiras ou gargantilhas que eram usadas pelos escravos.

Pra encerrar, duas notas do SOPÃO:

1) Escrevi anos atrás, inspirado na paisagem do Gargalheiras e nas tradições do Seridó, um texto para teatro chamado "Valsa na Varanda". A primeira frase é uma referência à demora para o Gargalheira virar realidade: "Cinquenta anos. Há cinquenta anos o povo espera essa barragem..."

2)No twitter, junto com a corrente comemorativa pela sangria, vem também, naturalmente, a cobrança pela atenção para com a qualidade da água do Garga, capitaneada pelo sempre alerta Jesus de Miúdo, do Acari do Meu Amor. Muito justo e correto. Mas há também um pessoalzinho de espírito de porco que gosta de misturar bem as duas coisas e despejar água suja no festejo coletivo pela sangria. Não há nada de amoral em ficar feliz pelo fato de a barragem mais uma vez transbordar. É do nosso espírito sertanejo, é um signo de melhoria, fartura, alimento na mesa, colheira e bem estar geral. Como todo signo, tem suas limitações e não quer dizer necessariamente que traga tudo isso. Mas aponta pra tudo isso, o que por si só já é louvável. Quanto, por exemplo, à sujeira que Currais Novos e esgotos adjacentes despejam na barragem, gerando as infames cianobactérias, é fato, precisa ser cuidado. Mas não entendo que uma coisa comprometa a outra: o que compromete é o espírito pequeno de quem não compreende ou é incapaz de partilhar da felicidade humana, que também existe.

Xico Sá e a Mulher Revoltada


Mais uma entrevista transcrita do site do CCBB/Brasília sobre a peça "A Mulher Revoltada", em cartaz até este sábado na cidade, com nossa querida Titina Medeiros no elenco e direção do Clown de Shakespeare Fernando Yamamoto. Horários aqui. Agora quem falou ao site foi o autor, jornalista, blogueiro, escritor e muito mais Xico Sá. SOPÃO aproveita para link na lista dos Outros Cardápios o blogue do curioso cidadão. Segue a entrevista: O que mais te atraiu a participar do projeto?
Ah, o que me comoveu foi o destemor de quem convida um cabaço, um virgem em texto teatral, para uma empreitada do gênero. É muito risco. E é isso que me anima e me põe vivo.

O convite para escrever um texto para teatro, foi de alguma forma um desafio pra você?
Bota desafio nisso. Achei que nem iria sair, não iria entregar, mas gastei umas madrugadas e lá saiu essa coisa ai. Não tenho a menor ideia se presta ou não presta, sei que pode render uma boa fuzarca no palco. Nada como um bom diretor para salvar o amadorismo do autor.

Onde você foi buscar inspiração ou subsídios para a construção do texto para o espetáculo?
Comecei a fazer um texto sério, como se eu pudesse ser um Tennessee Williams do agreste, um Sam Sheppard do Crato... Não rolou. Ai disse pra mim mesmo: porra, escreva como você escreve suas crônicas e contos. Foi quando engatei na farsa bolerística, na tragicomédia das dores amorosas, tudo bem no universo dos meus últimos livros. Óbvio que a influência descarada, de quem roubo a obsessão dos personagens, é do tio Nelson, o gênio que já me guia na crônica esportiva e nos meus relacionamentos.

Você tem acompanhado a montagem do espetáculo? Como?
Não tive oportunidade, mas confio plenamente no meu diretor, que conheço de outras aprontações. Peço a ela que não tenha o menor respeito pelo texto, ajude a ampliar o grau de esculhambação e aumente o tom do bolero.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Titina e a Mulher Revoltada


O SOPÃO reproduz, diretamente do site do Centro Cultural Banco do Brasil - BSB, entrevista com Fernando Yamamoto, diretor de "A Mulher Revoltada", peça do pernambucano Xico Sá encenada hoje na capital do país dentro do ciclo de novos autores; montagem de que faz parte nossa querida Titina Medeiros. A foto acima é uma das peças promocionais do espetáculo. Segue a entrevista:

O que mais te atraiu a participar do projeto?
A proposta é muito original, e propõe uma multiplicidade de interrelações, entre mim e a Fomenta - produtora que tem tratado o projeto e o trabalho artístico com extremo respeito e cuidado -, entre os encenadores, entre os atores, a equipe técnica, os dramaturgos, enfim, uma enorme equipe que se entrelaça na criação destes quatro trabalhos. Além disso, tive a possibilidade de contar com quatro atores com quem já trabalho em Natal, e isso amplia também as possibilidades de trocas no que diz respeitoao que eu trago da minha experiência, já que o elenco também traz com eles o teatro de pesquisa que fazemos, representam comigo um pouco o teatro potiguar e nordestino.

O espetáculo leva a plateia a uma reflexão de valores e sentimentos pessoais?
Acredito que o espetáculo seja muito mais um exercício de estilo do que um "convite à uma reflexão de valores" em si. Pelo fato da criação dramatúrgica ter sido feita anterior e separadamente do restante do processo, o pensamento proposto pelo dramaturgo não necessariamente toca aos artistas (diretor e atores) que estão envolvidos na sua criação. No entanto, acredito que a beleza do projeto e do espetáculo "A Mulher Revoltada" em si seja a possibilidade de fricções entre o criador Xico Sá, o criador Fernando Yamamoto, os criadores Dudu Galvão, Joel Monteiro, Paula Queiroz e Titina Medeiros, e todos os outros criadores que estão envolvidos no trabalho. Em outras palavras, é um forte encontro criativo entre pessoas de lugares e referências muito diversas.

Qual o conflito ou acontecimento que norteia a trama do espetáculo?
Em linhas bem gerais e superficiais, trata-se do espírito do último canalha da terra que, do purgatório, tenta voltar ao mundo no corpo de um jovem jornalista metrossexual. Como uma espécie de teste, ele coloca este jovem no caminho da tal mulher revoltada do título da peça que, para vingar-se do marido, resolve ir para a cama com o primeiro homem que encontrar. E o canalha coloca o Marcelo, o jornalista, nesse lugar. A partir de então se desenrola uma série de encontros e desencontros entre essas figuras.

De que forma o tema central do texto te atraiu ao ponto de te inspirar a montá-lo?
Muito mais do que a trama ou as situações em si, o universo que o Xico propõe foi o que mais me fascinou. Esse ambiente boêmio dos boleros, dessa música ao mesmo tempo brega e belíssima, da canalhice, traições, das cores almodovarianas, da estética hispano-americana exagerada, intensa, foi a chave para a encenação. O que queremos é contar essa fábula que o Xico nos traz convidando a plateia a mergulhar nesse universo onírico, marginal, visceral.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Dossiê Manoel de Barnabé


Caricatura simplifica demais a variedade do mundo e não fica bem em ninguém, mas a gente bem que pode abrir uma exceção e dizer que Manoel de Barnabé é a típica figura popular seridoense. Feirante, vende “roupa feita” em várias cidades da região e não apenas na sua Acari de moradia. Também vende rede da boa e acho que faz a rota para as cidades que produzem este artefato tão regional, como a obrigatória e paraibana Santa Luzia, onde compra a mercadoria e sai revendendo pelo sertão do RN e da PB.

O diferencial de Manoel de Barnabé - sim, ele não mora em Higienópolis mas é um ser humano muito do "diferenciado" - é que enquanto compra, vende e revende, Manoel pratica a secular arte da conversa.Sobre o que quer que seja. Mas, de preferência, assunto que renda uma boa teima. Polêmica, como se diz na cidade grande. Mas por lá é teima mesmo. Por exemplo: se um trator daqueles dos pneus traseiros bem grandes descer uma ladeira parelha e meia com um caminhão de mudança em ponto morto, quem chega primeiro lá embaixo no fim do declive?

São questões assim, impossíveis de solucionar e repletas de non sense interiorano, que fazem o dia-a-dia da célebre “barraca da teima” que arrisco dizer, mas não tenho certeza, é a própria barraca de Manoel na feita de Acari. Ou então é algo que só existe virtualmente: onde dois ou mais se encontrarem para tirar uma boa e insolúvel teima nos oitões de Acari a Cruzeta, com a presença de Manoel de mediador (ou complicador) lá estará instalada a barraca da teima, sem precisar de lona e assento.

Manoel também é praticante de outra arte implacável na luta contra qualquer espécie de tédio interiorano: o dominó. Em Acari, ele deu um passo à frente e fundou uma “academia” de jogadores que se reúne nas praças da cidade. Jogadores de carteirinha, que fique claro. Carteirinhas idealizadas e encomendadas por Manoel, com seu raro talento para captar os anseios nem um pouco políticos da rapaziada ao redor. É um personagem bom de conversa, o homem da irreverência sertaneja, o antifilósofo da vida prática na cidade pequena. Ocupa-se de assuntos menores com a maior das importâncias. E vice-versa, só pra contrariar.

Entretém a todos como um talk show man forjado pela geografia local. Ah, sim: no passado, trabalhou nos Correios, mas foi dispensado nos tempos da ditadura militar. Jura que foi perseguição política e quando soube da comissão do governo que indeniza vítimas do arbítrio, achou que se enquadrava. Talvez não fosse bem o caso – era querela local. Mas pense num assunto bom pra começar uma teima, hein, Manoel?

*Este post é resultado de um e-mail enviado a uma colega jornalista que está no encalço de Manoel e precisava de mais informações sobre ele. Era um dossiê muito interessante pra morrer na ciclovia do correio eletrônico, daí ser reaproveitado aqui no SOPÃO. E, como um documento subjetivo sobre uma figura amiga, pode estar naturalmente coalhado de erros e meias verdades, mas o essencial da figura, garanto, tá espelhada no texto aí acima.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Gris/hot


Natal gris é refresco no calor.
Brasília hot é saudade do mar.
Natal gris é chuva na praia.
Brasília hot é cachoeira no cerrado.
Natal gris é vento no litoral.
Brasília hot é Caicó transfigurado.
Natal gris é inferno de turista.
Brasília hot é convite aos visitantes.
Natal gris é Genipabu in London.
Brasília hot é África Brasil.
Natal gris é alagamento em Mirassol.
Brasília hot é caldo de catedral derretida.
Natal gris é o outro lado da moeda.
Brasilia hot é a transparência que cega.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Cadáveres ilustres


Elis nao morreu. Virou estrela. Osama tambem não. Virou pum.
Elvis está vivo. Osama está fedendo.
Jim Morrison é a sepultura mais pop daquele não menos pop cemitério francês.
Osama virou comida para peixe grande e só poderá ser visto por turistas em aquários que James Cameron ainda vai acabar contruindo.
Janis e Hendrix morreram no auge - possivelmente, literalmente.
Osama morreu a caminho da aposentadoria, tipo rainha da Inglaterra da aucaida.
O Titanic naufragou. Osama foi ao fundo do poço marinho.
José Alencar morreu deitado no berço da unanimidade.
Osama bateu as botas trepado na árvore do apedrejamento da desunanimidade.
Renato Russo morreu de tristeza metafísica. Osama morreu de tédio medicado com tiros.
Cássia Eller misturou tanto que até hoje não se sabe muito bem de que morreu mesmo.
Osama era grau de pureza 100% em matéria de drogas&rock and roll, mas deu na mesma.
Os Mamonas Assassinas morreram voando entre uma gargalhada e outra.
Osama foi-se no primeiro andar de casa entre uma esposa e outra.
Roberto Carlos não morreu - é mito vivo.
Sobre Osama, há controvérsias - é mito indesejado.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Os novos consensos...


...à disposição dos tacapes de quem se dispuser a atacá-los, relativizá-los ou confirmá-los:

Os aeroportos brasileiros estarão um caos na Copa de 2012;
A inflação vai disparar e o governo não vai ter competência para segurar porque não tem nem sombra da ex-equipeconômica dos tempos Itamar/FHC;
A alcaida vai reagir na mesma moeda e detonar um hiper-super-apocalíptico atentado ainda maior do que o do onze de setembro;
Obama não nasceu nos EUA e por isso tem que cair fora;
Obama nasceu nos EUA e não se fala mais nisso;
Obama vai se reeleger na flauta e não se fala mais nisso;
A superexposição na mídia do massacre de Realengo foi tanto que mais cedo ou mais tarde vai aparecer outro maluco fazendo a mesma coisa só pra aparecer;
O STF vai acabar dispensando deputados e senadores de trabalhar e assumir de vez o papel do Congresso Nacional;
Rebeliões contra ditaturas para a vida inteira que ocorrem do Egito à Líbia vão resultar em regimes fundamentalistas islâmicos ainda piores;
A monarquia constitucional britânica recuperou sua imagem com o casamento real e William e Kate;
Kate é uma princesa muito simplezinha, mas jamais vai igualar o carisma de Diana;
A culpa da violência no Brasil é dos parlamentares que não votam os projetos do pacote pelo desarmamento;
A atualização do Código Florestal é uma motosserra disfarçada de proposta legislativa;
A atualização do Código Florestal é a única maneira de inocentar a produção de alimentos no Brasil, um crime falso crime ambiental;
Micarla de Souza é a pior prefeita que Natal já teve;
Micarla de Souza é a melhor celebridade local que Natal já teve;
O PT destruiu a política cultural do RN;
Ana de Holanda destruiu a política cultural do Brasil;
Os caças franceses são um desperdício de dinheiro para o estado brasileiro;
A carga tributária é o grande vilão da economia nacional;
A reforma política nunca vai sair do papel;
O DEM vai acabar.
O PSDB nunca mais vai se entender;
Os políticos todos deveriam esquecer a Classe C;
Os políticos todos deveriam vir da Classe C.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Os campeões de acessos


Já que tocamos no assunto, segue a estatística mais completa, com os textos mais acessados no SOPÃO desde que ele virou um hóspede do Blogspot:

Um filme, um cinema.............................356
Por que me desliguei do Novo Jornal.............309
O blazer de Manuela.............................192
O motor da tragédia.............................160
Sobre o "filme do Lula".........................139

Ficou curioso? Clique nos nomes das postagens e vá direto a cada uma delas.

Disparado na frente


Andei dando uma olhada rápida nas estatísticas do SOPÃO e constatei, incréu, que a postagem mais acessada desde hebdomadário virtual e pessoal foi uma de que eu nem mesmo lembrava mais. Mas vamos por partes: primeiro queria dizer que fui às estatísticas movido pela curiosidade de saber se a adesão ao twitter havia mudado alguma coisa por aqui, no SOPÃO. Mudou sim, o número de acessos deu aquele pulo - também com tanta chamada que eu boto lá, alguém há de cair no meu canto de sereio. Um negócio espetacular o avanço. Para os grandes blogues e as celebridades da internet, não signfica nada, mas 120 acessos oriundos do twitter pra mim é um caminhão de gente desembarcando na minha humilde festinha.

Foi então que passei a ver as estatísticas - sempre com uma certa desconfiança sertaneja, é verdade; será que aqueles números são reais mesmo, ainda me pergunto - das postagens isoladas. A que mais chama a atenção é aquela recente "O blazer de Manuela", que comenta o fato de a deputada do PCdoB do RS ter sido barrada no STF quando do julgamento da união civil dos homossexuais. É nesta postagem que se vê nitidamente o efeito do twitter no SOPÃO: virou o terceiro post mais acessado (192), com procedência praticamente toda do tuitim de todo dia. Aí você me pergunta: e a primeira?

Surpresa, meu caro, minha cara: a campeã, pelo menos segundo as estatísticas do blogger que até agora eu não sei se realmente são de confiança, é de um post muito anterior à entrada do SOPÃO no twitter. Um post de que, como disse, eu nem lembrava. Acabei de reler assim como quem lê um texto nunca visto de um blogue de um amigo, um conhecido. Eu falando comigo mesmo no túnel do tempo. Bom, o campeão de acessos (356)é o post "Um cinema, um filme", que trata da estréia do novo (?) Indiana Jones - quando foi isso, é até difícil se localizar nestes tempos de tantos e tamanhos acontecimentos. Bin Laden ainda era vivo, com toda certeza. E Ana de Holanda nem sonhava em ser ministra - muito menos em ser derrubada, o que tá pra acontecer. Deve ser o apelo do personagem, Indiana, que motivou esses acessos todos. Deve ser a força da marca Steven Spielberg sobre as cabeças de nosotros enfiados no cinema. Pode ser até mesmo o link acidental provocado pelo uso de um still do filme para ilustrar a postagem. Mistérios da internet.

Tire você mesmo suas conclusões, relendo a postagem. Basta clicar aqui.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ele estava lá


O histórico show inacabado da Legião Urbana em Brasília que entrou para a crônica pop e musical da cidade e do país já é bem conhecida por todos. O que nem todos sabiam - eu, pelo menos, não - é que nos bastidores daquela cena de fim de mundo estavam Vladimir Carvalho e sua câmera. Não há notícia "cultural" melhor por esses dias do que essa: o autor dos gigantescos documentários "Conterrênao Velho de Guerra" e "Barra 68", paraibano de Itabaiana, vai mostrar o que filmou depois de todos esses aos. Vejam a abertura da notícia dada pelo Correio Braziliense - e abaixo o link para o texto completo.

"O estádio Mané Garrincha havia se transformado num território selvagem, um campo de fúria e rock ‘n’ roll, quando Vladimir Carvalho entrou nos vestiários com uma câmera. Tropeçou em imagens que ainda provocam certo espanto. “Parecia uma grande enfermaria”, conta o cineasta. “Era muita gente machucada, um clima de terror”, lembra. Era 18 de junho de 1988. Minutos antes, no palco de 28 metros, diante de uma multidão indócil, Renato Russo era atacado por um fã, que agarrou o vocalista da Legião Urbana pelas costas. Antes, durante e depois do vendaval, o documentarista estava a postos: conservou as cenas da performance trágica — e crucial, já que a banda não voltaria a se apresentar por aqui — como quem protege uma relíquia. “Quando revi o material, percebi a dimensão toda: aquele momento havia entrado para a história.” Arquivadas por 23 anos, essas e outras “faixas secretas” finalmente serão desvendadas no documentário Rock Brasília — Era de ouro.

Texto completo aqui.

Seis coisas que aprendi com "Dez maneiras de matar Bin Laden"


Sábado à noite, todo mundo na gandaia boêmia e eu aqui em casa vendo na tevê "Dez maneiras de matar Bin Laden". Foi o jeito que encontrei de compensar as milhares de páginas de jornais que passaram pelos meus olhos, dezenas de milhares de sites, torrentes de chamadas, links e similares na internet. Só tinha visto mesmo a edição do JN do fatídico dia. O programa do History Channel, naturalmente, é mais um prato requentado e servido à sombra do acontecimento do ano, a morte de você-sabe-quem. Lista, como diz o título belicista como ele só, dez planos fracassados dos EUA para atingir seu alvo-mor. Na minha rede azul presente de dona Isabel, botei um olho na tevê e outro na caderneta para anotar o que se pode aprender com essas novas aulas de história feitas na base do entretenimento. Seguem as lições que dona Hildete não poderia me dar na oitava série:


1) Bin Laden foi vital para o desenvolvimento da indústria bélica: graças ao capeta mor, os EUA puderam testar à exaustão a Blue 82, pra quem não sabe uma bomba especializada em destruir florestas. Segundo o documentário do History Channel, a Blue 82 (o nome é muito pop, mas o efeito...) não é nem um pouquinho ecológica: quando ela explode numa região de mata fechada, abre imediatamente um campo de pouso para o helicóptero militar mais próximo. Ou seja, uma explosiva fabricante de clareiras anti-ambientais. Mas foi tanta arma usada contra o capeta enfim morto que até confundo: seria também a Blue 82 aquela arma especial para destruir cavernas? Também teve o rifle M-4, um cuspidor de projéteis capaz de perfurar o alvo com 30 tiros quase simultâneos. Um fazedor de peneiras humanas. E com alvo holográfico, pra você que pensa que 3D é só diversão no cinema.

2) Os novos documentários dão sua contribuiçãozinha para a cultura audiovisual da violência: há nitidamente um prazer em exibir, detalhadamente como uma bala de Matrix em ação, o efeito de um ato violento, de um disparar de bala, de uma explosão filigranada frame a frame. Numa outra série de documentários do canal, chamada Batalhas A.C (ou coisa parecida, não anotei o nome exato), vemos, enquanto a narração conta as epopéias de Alexandre, o Grande (apenas um dos enfocados), o prazer de um guerreiro ao manejar ao mesmo tempo duas espadas em cruz com um pescoço humano no meio. Claro, tudo em meio ao campo de batalha - mas o doc vai lá e focaliza isso, obviamente numa reconstituição gráfica, com um deleite visual que dá medo. O áudio, perfeito (?), completa a situação: é as espadas se cruzarem e o xxxxxx metálico dã a sensação de realismo que o amante da violência estetizada tanto aprecia. No doc sobre a caça a Obama, não se passa vinte segundos sem um tiro, uma explosão. E a aquela estética de câmera que não para, de corte que não dá trégua. O jeito é a gente se agarrar na narração - e não pensar. E neste não pensar é que mora o busílis.

3) Os homens altos do Afeganistão já podem respirar aliviados e transitar à vontade nas ruas e estradas. É que um "homem alto" - que era conhecido justamente assim no povoado onde vivia - foi morto por um bombardeio aéreo teledirigido somente por ter sido confundido com Bin Laden. Foi uma das dez tentativas fracassadas que o documentário enumera.

4) Aqueles livrinhos de Frederick Forsith que eu lia nas tarde quentes e demoradas lá em Parelhas não foram lixo cultural jogado fora. Pois não está tudo que estava lá de volta aí na narrativa das dez maneiras que os EUA usaram para tentar eliminar o outro cara? O climão é o mesmo: agentes sorrateiros, paisagens áridas do Oriente Médio, cenas de escritório na sede em Washington, momentos de adrenalina quando um comando invade uma unidade suspeita. Link imediato com "Os caes de Guerra", na saudosa edição do Círculo do Livro, ou "O Punho de Deus" na já mais recente da Editora Record.

5) Quantos anos se passaram: setenta, oitenta, cem? Mas uma frase no doc, além da aridez da paisagem que ambos habitaram, liga Bin Laden a Lampião: "A missão era trazer a cabeça de Bin Laden numa caixa", conta um dos militares envolvidos em uma das dez missões contra o terrorista. Replay na terra de deus e do diabo: filme velho, horror atualíssimo. Mudou o mundo, não mudou a humanidade; nossos vilões ainda são os mesmos, nossos métodos idem; não temos como fugir do mal a não ser assim; de outra maneira será ingenuidade? Questões, meus caros, questões.

6) No fim das contas (o doc é anterior à morte de Bin Laden) quem venceu não foi nenhuma das armas, técnicas, estratégias e artimanhas boladas desde o governo Clinton até o restinho da gestão Bush. Ora, quem conseguiu matar Bin Laden foi... Leonardo di Caprio. Ou você não assistiu à "Rede de Intrigas" do sempre elétrico mas inteligente Ridley Scott? Tá tudo lá: foi a infiltração de agentes que deu cabo do serviço. Na segunda tentativa, claro, que gente com Bin Laden, Lampião e Antônio Conselheiro não se derruba assim de primeira. É preciso uma, duas, três expedições para chegar ao the end.

* Aqui, o link para o site do History Channel. Mas já fuçei e vi que não há reprise programada. Talvez porque o programa em si já fosse uma reprise. Qualquer maneira, sempre se pode ficar de olho. E o link permanente vai para a coluna "Outros Cardápios".

domingo, 8 de maio de 2011

Insetos na merenda


Estado de emergência, secretariado que muda a cada quinze dias, abandono do padrinho político e agora uma reportagem no Fantástico denunciando a falta de água e de merenda nas escolas municipais de Natal (na verdade, a reportagem abre para o país todo, num panorama repugnante de insetos, mofo e alimento de última qualidade servido aos alunos por força do poder da velha propina; assista aqui). Voltando à seara poti: o inferno astral da prefeita Micarla parece um estado permanente. O que eu não consigo mesmo entender é como ela foi eleita por 50 por cento mais um dos natalenses, vencendo a disputa em primeiro turno acachapante como são todas as vitórias de primeiro turno. Alguém há de ter votado na garota. Não é possível que toda a oposição que ela tem agora, toda a vergonha que ela inspira nos blogues, colunas e jornais tenha surgido de uma hora pra outra. Lá atrás, ela teve muito voto - e cada um deles é corrresponsável pelo que está acontecendo na cidade do sol. Isso me lembra aquela relação complicada que o alemão tem com seu passado, com o nazismo e tudo o que esse sistema perpertrou. Não estou chamando ninguém de nazista, mas o processo parece muito semelhante. Se houve, se vigorou e durou tanto, é porque teve apoio. Idem para a ditadura militar brasileira, que durante um bom tempo fez a cabeça da nossa boa classe média tradicional. Mas chega de sermão. O objetivo aqui é apenas exercitar a memória, relançando uma postagem antiga, bem antigona do SOPÃO. Alguém há de lembrar de quando ela foi publicada originamente:

Borboletas

Se amanhã, você chegar à repartição municipal e for encaminhado para o programa de tevê mais próximo, não reclame. Se o nível de nitrato na água chegar a um nível insuportável, nem pense em chamar as autoridades – convoque urgentemente uma repórter, de preferência loura, bem penteada e falante como um papagaio. Se notar que a cidade está sendo administrada como um loteamento mercantil, conforme-se: é assim que funcionam os programas de auditório. Se achar que foi mal recebido pelo assessor do assessor do auxiliar do escritório do chefe do gabinete do secretário municipal, tome aquela providência ao alcance de todos: dê uma vaia nele, pois é esse o código de aprovação ou reprovação vigente na terra da inteligência jogada fora.

Não vá passar vexame espantando-se caso encontre na rua um multidão de tietes de terninho, saltinho e risinho no rosto sempre que a despachante municipal estiver em visita a uma obra qualquer. Contenha-se ou, no máximo, misture-se à massa para não chamar demais a atenção – que este, meu bem, é o crime supremo na nova geração do sim, claro, por que não?, agora mesmo, só se for agora. Nas datas festivas, esqueça o teatro popular – a gente já enjoou desses autos todos. Programe sua cabeça para assistir a shows animados com a presença de figuras que levantam qualquer audição com sua força de comunicador popular. Nas bibliotecas, finja-se de morto. Nas livrarias, socorra-se com a sessão de auto-ajuda. No cabeleireiro, fique à vontade – agora este é o ambiente supremo da cidade do Sol.

Em Ponta Negra, reclame um pouco do serviço do quiosque que é para não lhe confundirem com um bocó qualquer. No Praia Shopping, curta sua nova vida variando as cores e os tecidos conforme as mudanças de estação e nunca deixe de simular a importância de se estar a par de tudo o que há de mais atual. No Miduei, reprove – mas com aquele ar de pouca importância – o nível da freqüência. No Centro da Cidade – mas quem vai ao centro da cidade, querido? Ah, só se houver um evento muito especial. Sinto contrariar mas, naturalmente, você terá que ir ao Centro da Cidade, pois que a sede da Prefeitura – aquele prédio precisando de um retoque há muito tempo – fica por lá. Não tem problema: use o carro – com películas, claro. Na Ribeira, faça de conta que é turista como a moça daquela canção de Chico Buarque.

Canção de quem, amor? Deixa pra lá. O importante neste momento é que você se convença da importância da mudança que vem aí. Se você achava que a cidade estava ficando estressada, abusada, nova rica e tão pedante quanto ignorante, não tema: o futuro imediato anuncia algo muito pior. E você precisa se adaptar, não é mesmo? Comece a treinar agora mesmo. Repita, olhando-se no espelho mais próximo: tudo vai ficar melhor porque eu sou linda como uma borboleta!

Foi ele, foi ele sim


Graciliano Ramos, o prefeito, é o autor das declarações dos textos anteriores aqui no SOPÃO. Em janeiro de 1929, com 37 anos, o futuro autor consagrado de "Memórias do Cárcere", "Vdas secas" e tantos outros marcos literários brasileiros enviou ao governador de Alagoas um relatório de prestação de contas sobre sua gestão à frente do município de Palmeira dos Índios. É um texto já bem conhecido, publicado em edição de bolso não tão longuinquamente assim pela revista EntreLivros. O curioso é que o relatório acabou nas maos do poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, uma figura de relevância na época e, por vias tortas, acabaria resultando na primeira publicação de um livro de Graciliano - "Caetés", um quase monólogo sombrio de um homem entediado com o mundo à sua volta que eu li, sim, naturalmente, quando não tava pronto pra isso (lembra a segunda parte de "O Encontro Marcado", de Fernando Sabino, no desespero contido em frases enxutas). As informações que estão aqui fazem parte do prólogo do "Relatório do Prefeito de Palmeira dos Índios" e foram escritas por Ricardo Filho, neto de Graciliano. E você aí pensando em Micarla, Dilma, Arruda... é muito veneno.

Chamamento


Natal em Estado de Emergência?
Chama os bombeiros.
Chama o síndico.
Chame o ladrão.
Chame a equipe da TV Ponta Negra.

Natal em Estado de Emergência?
Chama a polícia?
Chame chame chame de gente.
Me chama, me chama, me chama
Chame o Lobão.

Natal em Estado de Emergência?
Chamada a cobrar
Foram me chamar, tô aqui, quequeá?

sábado, 7 de maio de 2011

Que administrador público disse isso ? (2)


"Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus erros, porém, foram de inteligência, que é fraca.
Perdi vários amigos, ou indivídos que possam ter semlhante nome.
Não me fizeram falta.
Há descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por estes dois anos dependesse de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos."

Última chance para arriscar o nome do autor dessas declarações. Só pra facilitar, adianto que não foi Micarla de Souza.

Que administrator público disse isso?


Carga tributária: "As despesas com a cobrança de impostos foram altas porque os devedores são cabeçudos. aqui os contribuintes pagam se querem, quando querem e como quiserem".

Infra-estrutura viária: "Faltam-nos recursos para longos tratos de rodovias. É necessário que se esteja sempre a renová-las, pois as enxurradas levam nuim dia o trabalho de meses".

Limpeza urbana: "As ruas estão varridas; retirei da cidade o lixo acumulado pelas gerações que por aqui passaram".

Opinião Pública:
"Há quem ache tudo ruim, e ria constrangedoramente, e escreva cartas anônimas, e adoeça, e se morda por não ver a infalível maroteirazinha, a abençoada calhalhidce, preciosa para quem a pratica, mais preciosa ainda para os que dela se servem como assunto invariável; há quem não compreenda que um ato adminstrativo seja isento de lucro pessoal".

Alguém há de identificar a fonte de onde saíram esses comentários. Todos hão de fazer o link quase palpável entre o que foi dito outrora e o que ocorre nos dias que correm.

O jogo do sertão


Por essa eu não esperava - e devo ser o último a saber. Então, meu amigo leitor desatualizado que só nós, veja mesmo: existe, noticia o sábio Bráulio Tavares no seu "Mundo Fantasmo", uma versão em game de computador para o "Grande Sertão:Veredas". Pronto, é agora que eu, três dias depois de aderir por derradeiro ao tuíte, me acabo de vez ingressando no mundo dos games. É a desculpa perfeita. E é também, segundo BT, que parece entender do ramo, o jogo perfeito: uma meticulosa adaptação da trama, dos personagens, do universo do livro de João Guimarães para o mundo dos jogos de computador. Mais um preconceito vem abaixo: nunca mais eu vou achar que, se não é vulgaridade pop (embora eu goste de muitas delas), o game de computador também é cultura. Mais sobre isso está aqui.

Atire o primeiro raciocínio


A imprenssão que tenho ano no meu canto é de que a ministra vai cair, outro ou outra vai chegar, o governo Dilma vai terminar, sabe-se lá o que vem depois, a inflação não vai disparar, Bin Laden logo-logo vai ser substituído no altar das malvadezas por outro vilão à disposição e, nunca, em meio a tudo isso, em tempo algum, nós, leigos que residimos fora do quadrado da cultura cibernética mais guetificada vamos entender direito o que foi esse imbróglio Ana de Holanda. Aqui e ali cai uma gotinha de racionalidade no oceano desse debate(?) - melhor seria dizer desse embate. Uma dessas gotinhas tá neste post aqui, do blogue de Mauro Dias. Não encerra assunto, não absolve ninguém, mas pelo menos dispensa um certo elemento emocional que, assim como na imprensa pig mais juramentada, também costuma surgir no mais alterntivo dos portais: o efeito manada. Esse efeito, cada vez mais comum hoje em dia, nunca é bom conselheiro, seja culpada ou inocente a ministra em processo de apedrejamento. A propósito: o blogue citado passa a fazer parte dos links fixos do Sopão, ali no Outros Cardápios ao lado.

Rumo aos Cadernos


É aquele negócio: caminho de pedras, estrada natural. Que liga o escritor ou seu leitor. Tô falando da mão que o Instituto Moreira Sales está dando para quem, como eu, nutre especial curiosidade por aqueles Cadernos de Literatura Brasileira, com fotos, textos, ensasios, originais corrigidos pelo autor e outras mumunhas mais de gente como João Guimarães, Clarisse Lispector, Érico Veríssimo e até contemporâneos como Millor Fernandes. A boa é que os livros - um tanto quanto caros para a minha muchibice crônica que só mui dificilmente dá o braço a torner - está de graça no site do IMS. Negócio meio fac-similar, que dá pra navegar na boa. Só precisa de tempo para não navegar como quem se afoga em mares afoitos. É biscoito fino, pra sentir o sabor - e não para embotar o estômago. Tá aqui, ó..

Panorama matinal




Bateu saudade de uma daquelas manhãs de Pipa (foto acima) e dum giro por uma das inúmeras lagoas do litoral sul (foto no alto). Deve ser o sol daqui do quadrado, em contraste às chuvas que lavam o elefante de onde vim.

O caminho das pedras


"Os Sertões", aquela selva de caatinga às vezes intransponível às vezes repleta de clareiras transcendentes sobre a realidade primeva de nós outros nordestinos, teve, quem diria, um making off. Editado em livro, também, é o "Diário de uma Expedição". Inácio França, do Caótico, abriu a vereda em meio aos espinhos de xique-xique e deixou um mapa no blogue lá dele. A edição (do livro, não do blogue) é barata tanto no sentido lato quanto no simbólico. Mas deve mesmo valer a pena, especialmente para quem é chegado num bastidor. Euclides, por sinal, devia ser bem este tipo de pessoa que escreve o tempo todo em blocos de papel, folhas soltas, cantos de mesa, paredes, postes e afins. Pra conferir a dica do Caótico, clique aqui.

Programa de intercâmbio


Intercâmbio cidadão: e se todo parlamentar tivesse que passar 1 semana morando com uma família Classe C?
Intercâmbio cultural: e se todo ativista anti-Ana de Holanda tivesse que passar 1 dia despachando no Ministério da Cultura?
Intercâmbio ambiental: e se todo ecologista urbano tivesse que passar 1 mês num sitiozinho sem luz e água no interior da PB?
Intercâmbio jurídico: e se todo ministro do STF tivesse que passar 1 mês atuando como advogado de porta de cadeia?
Intercâmbio rosa: e se todo machão tivesse que passar 1 dia como gay esculachado que nem boneca de programa de humor?
Intercâmbio racial: e se todo galeguinho bem nascido tivesse que passar 1 semana como preto suspeito de roubo em supermercado?
Intercâmbio químico: e se todo traficante tivesse que passar 1 mês como pai de garoto ou garota que perdeu o rumo de vez na onda do crack?
Intercâmbio Bolsonaro: e se todo e qualquer um que negue as atrocidades da ditadura tivesse que servir de cobaia pública para uma daquelas aulas de tortura?
Intercâmbio estético: e se todo intolerante do bom gosto tivesse que passar 1 fim de semana num boteco de beira de estrada goiano tomando uma surra de sertanejo?

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cidade da chuva / Capital do sol





Natal em estado de emergência; Brasília, de lentidão. Enquanto chove a cântaros na cidade do sol, estiou geral na capital planejada. O fim da estação de chuvas aqui coincide com o início nas bandas de lá. Aqui, abril estreia a temporada de céu de brigadeiro, traz vento frio que anuncia o curto inverno meteorológico e antecipa a secura que, deixa estar, daqui a pouco chega para construir torres metálicas nas nossas narinas fatigadas. Tá muito mofo aí na esquina do continente? Venha pra cá sentir um pouco da rarefação planaltina. Alagados-frenquestal demais da conta? Pegue um TAM promocional a 1,99 ida e volta, faça um teste draive dos nossos aeroportos já visando a 2012 e desça aqui para apreciar um ressecado-ceilândia de primeira. Faroeste Caboclo, o filme, vem aí - sinta o treiler antes dos amigos e se pabule cheio de razão depois. Quer trocar o prefeito, se livrar da gasolina cara, marchar contra a derrubada do Machadão? Então fique. Que mudar de preocupações, marchar contra o código ruralista, dar um tempo para o governador que veio depois de Arruda e ver show de Jack Jackson a 700 paus o ingresso no estacionamento do Mané Garricha? Então, venha. Emergência, lentidão / chuva, sol / poti, candango. As paralelas dos pneus na água das ruas são duas estradas nuas em que foges do que é teu.

*Nas fotos, tarde fotográfica padrão nas tardes da Asa Sul.

O blazer de Manuela


Um detalhe chamou atenção ontem em meio ao noticiário sobre a análise que o STF faz em torno da validade da união civil entre homossexuais. A deputada Manuela D´'Avila queria assistir à sessão e, vindo de uma série de eventos em Belo Horizonte direto para a sede da corte suprema do país em Brasília, estava naturalmente bem vestida sob o critério do bom senso. Mas foi barrada porque... não estava usando blaser. Pois é: o critério da elegância ritualística do Supremo é o blazer e não se fala mais nisso. Se o resultado da votação, esperada para hoje, confirmar a validade da união civil gay (na verdade, validade da declaração de convivência, o que equivale a casamento civil em várias situações legais), terá dado um passo à frente rumo à realidade brasileira. Mas vai ficar sempre aquela pulga incômoda não atrás da orelha, mas bem diante do nariz, quanto ao detalhe do blazer.

Ora, como é que uma corte de tampas jurídicos da maior relevância tem a clarividência de legalizar a convivência homossexual para fins jurídicos a mesmo assim ainda exige, em 2011, que uma parlamentar não entre na sala onde seu plenário está reunido porque não está usando blazer - embora esteja, independente disso, vestida em condições nem um pouco agressiva diante das capas negras dos senhores ministros? Dá vontade de dizer que, sim, deputada Manuela, a gente gosta da atuação da senhora independente da forma como a senhora esteja vestida - mas aí o risco de ferir o decoro na abordagem pode sim, dar razão ao ultrapassado código de moda jurídica que ainda vige no STF, como bem demonstra o emprego dessa forma verbal tão antiga quanto toda essa discussão.

Manuela tem dito, no twitter ou no seu blogue (que agora está ali ao lado na lista dos outros pratos do Sopão) que o blazer é um detalhe. Tá certo, mas é o tipo do elemento menor que cresce de dimensão toda vez que se lembra que ele, na sua pequenez, só reforça o caráter inútil de certas prescrições associadas à liturgia do poder. Há sim um certo prazer exclusivista em funcionários, chefias e pequenos e grandes poderosos em fazer valer essas antiguidades. Mesmo que eles concordem, com cara de tolerância, em acabar com elas. É a velha história do poder do rei de decidir se o prisioneiro será morto ou não - o que vale não é o caráter imperial de mandar matar, mas o poder em si de tomar essa decisão; inclusive absolvendo o pobre diabo. O blazer de Manuela é uma atualização contemporânea desse antigo preceito. Abaixo o blazer e o poder que ainda veste sobre homens e mulheres.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tião no Tuíte


Depois de uma vã resistência, este blogue e este blogueiro jogaram a toalha no chão eletrizante deste pequeno e instantâneo palco chamado twitter. Sim, senhor: desde ontem à noite, quando uma licença médica proporcionava o tempo necessário para investir em tarefas outras, criamos uma conta no site que funciona como um pequeno eletrochoque informativo toda vez que se entra lá. Não faz 24 horas que começei a,como dizem, tuitar, e já estou viciado, fissurado, eletrizado em corrente de alta tensão comunicativa. É o barato da informação interligada, o êxtase do link facilitado, o frisson da interligação de dados, imagens, videos, notícias e outros trecos mais.

E sem mais, segue o itinerário para quem quiser, como se diz, me seguir: @TiaoVicente

Os profetas da chuva


Á sombra das castanholas acarienses, os profetas do Seridó mapeiam os itinerários das chuvas na região. Nem sempre concordam com o que a obviedade cinza do céu anuncia - e até realiza, como aconteceu de ontem pra hoje na cidade, sob a chuva de 120 mm. É que a teimosia é um talento local, tão poderosa e resistente quanto a desconfiança crônica diante das facilidades que a vida meteorológica oferece assim do nada. Vocês sabem: chuva demais o sertanejo também desconfia. Mas há outros menos osamianos em sua radicalidade empoeirada: os que enxergam sim na chuva da véspera o prisma de um inverno certo e franco. Sobre tudo isso, melhor ir à fonte primária, que será sempre Jesus de Miúdo no seu Acari do Meu Amor.

Para tanto, clique aqui e sinta o cheirinho de terra molhada que dá dor de garganta mas também faz o sujeito se sentir momentaneamente mais feliz.

P.S: A foto que ilustra o post é de Hugo Macedo, parelhense de nascença e acariense residente, cidadão honorário do Seridó.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Memórias do operador de telex


"De operador de telex até virar jornalista demorou um bocado. Quanto mais eu tomava gosto pelo trabalho, mais começava a perder interesse pela universidade. Comecei a abandonar disciplina pelo meio. Demorei muito a terminar o curso, enquanto estive na Tribuna. Só fui terminar o curso quando saí de lá e, ainda como estudante, fui para o Diário de Natal. Era um jornal mais organizadinho e, por isso, mais sem graça. Era bom porque era cômodo. Margareth Rose controlava cada coisa. Um dia ela me perguntou se eu não estava escrevendo rápido demais, estava preocupada. Mal sabia ela que eu escrevia na rua, enquanto esperava o carro do jornal ir me buscar. Eu voltava para a redação com a matéria toda escrita em um bloquinho, à mão. Como bom datilógrafo, eu passava rapidinho o texto para as laudas e corria para a Universidade. Com isso, terminei o curso."

Minha velha carteira de trabalho que não me deixa mentir: um dia eu fui operador de telex, numa redação da Tribuna do Norte muito diferente da atual. Essa história está contada na íntegra do texto acima, que na verdade é a transcrição de uma entrevista que Roberto Homem me obrigou a conceder, um troço meio confessional sobre a vida de jornalista entre Natal e Brasília, para o jornal Zona Sul, que circula ali pelas bandas azuladas de Ponta Negra. Procurando uma foto para ilustrar o "tuíte" que hoje, de licença médica em casa, cismei de fazer (e fiz, detalhes nas próximas postagens), encontrei na internet não apenas minha pobre auto-imagem clicada pelo amigo jornalista e servidor do Senado, como também a entrevista completa. E eu achando que já não servia há décadas sequer para embrulhar peixe a minha memorialística jornada rumo a mim mesmo.

Um dia desses, contando pedaços dessa história a um jovem jornalista de Parelhas que esteve aqui em Brasília e sua tia que foi minha contemporênea na cidade, ouvi um exclamação que me surpreendeu. A tia do garoto achou impressionante minhas idas e vindas até topar neste porto seguro que é a TV Câmara, onde me encontro e onde se deu a conversa. Bom, pensando nisso, acho que vale a pena botar aqui um link para a entrevista com Roberto (lembrando apenas que há um erro lá, quando ele diz que um texto teatral escrito por mim foi encenado no Praia Shopping; na verdade, trata-se da peça "Barra Shopping", feita por um grupo de atores de Natal há um par de anos a partir do texto "A Exclusão", com o qual disputei um concurso do Ministério da Cultura muitas eras antes do Creative Commmons, de Maria Bethania e da irmã de Chuico Buarque passar por lá).

Clique, então, aqui para ler tudo. E tome fôlego, que Roberto pergunta que é um negócio.

Estou / não estou (1)



Estou desatualizando este blogue porque estou com tempo sobrando. Não estou atualizando este blogue porque estou parado, de licença médica, com o dedo mindinho do pé esquerdo quebrado. Estou andando dentro de casa, não estou com pressa, mas estou em movimento. Meu pé esquerdo passa, mas o dedo mindinho fica retido para explicações no móvel onde acomodo um som, uns CDs e outras traquitanas mais. Estou sentindo uma baita dor, estou rolando no chão mas não estou chorando – estou rindo de dor; coisa dos extremos da vida. Estou com o pé inchado e uma mancha roxa começa a colorir a extremidade esquerda do meu pé gauche. Estou pouco me lixando. Passa. Mas estou agora na van que me leva do estacionamento ao trabalho e a motorista não está me contanto uma história cabeluda de um parente que também deu aquela topada, o pé foi ficando roxo e daqui a pouco – você não está ouvindo isso, relaxe aí. De modos que estou agora, dez e meia da noite, depois do trabalho e de sentir o pé doendo mais do que o previsto pelo meu diagnóstico ateu, estou/não estou esperando com paciência o atendimento médico. Corta para a sala do raio xis, meus dedos fazendo poses para a máquina do velhote que comanda as explosões atômicas de luzes infra qualquer coisa. Estou de volta ao consultório, não sem antes me perder três vezes nos corredores do Santa Helena que, apesar de ter esse nome de ilha européia do período napoleônico, é apenas o hospital que fica ali na ponta da Asa Norte. Estou diante do médico que contrariando minhas análises de paramédico ateu, confirma: estou com o dedo do pé quebrado. Estou de licença médica por quinze longos



dias. Estou obrigado a andar o mínimo. Estou no sal. Estou mal – e nem desconfiava. Negocio o prazo da licença médica com o doutor como se fora um marroquino no mercado e consigo reduzir de 15 para sete dias – devo ser um caso único da humanidade a fazer isso – e estou, aqui estou/ não estou, finalmente diante da tela do meu Dell atualizando o inatualizável. Neste ínterim, aquela belezura que é dona Kate midou-alguma coisa se casou, a imprensa transformou Delúbio Soares no novo inimigo público número um das nossas (hipócritas) decências, o Real Madrid perdeu feio para o Barcelona com os dois gols de Messi e, notícia das notícias, os ianques finalmente pegaram Osama Bin Laden – demorou, hein? E meu dedo mindinho, enfaixado até o talo,



só refletindo sobre as mazelas e maravilhas do mundo, enquanto passa o tempo assistindo à últimas grandes invenções da máquina de entretenimento humana a meu alcance: o HD Mais da Net, o Blue Ray da Samsung ou os dois combinados. Por isso tudo, estou / não estou sempre por aqui, povoando de vazios este blogue de pé quebrado e templates em branco. Quem sabe estou voltando, como na música de Paulo Sérgio Pinheiro e Maurício Tapajós, quem sabe nunca me fui, como no poema que ninguém escreveu.

* Leia / não leia a segunda parte dessa conversa clicando aqui.