domingo, 21 de fevereiro de 2010
Eu, você, nós dois
No dia em que José Serra olhar para uma multidão popular com a mesma ternura com que olhou para Madonna, o Brasil dará mais um salto de qualidade rumo ao futuro. Mas não é o caso de culpar o governador de São Paulo e virtual candidato do PSDB à sucessão de Lula. Antes de jogar mais uma pedra na careca do homem, é preciso respirar fundo e lembrar que, naquela multidão popular diante dele, não estará exatamente uma Madonna pop star, mas um quadro de Portinari, cheio de rostos disformes, dentes cariados, olhares pedintes e roupas puídas - sem falar naquele cheiro desagradável, bem diferente do que exala a cantora americana. Ou será que mudou muito a maneira como a maioria dos políticos brasileiros encara aquela coisa genérica chamada povo?
Deixa pra lá. O que importa, no fundo, é que Madonna conseguiu o que criancinha alguma em comício nenhum ou inauguração qualquer jamais havia obtido: um olhar entre terno e sedutor de José Serra. Não é pouca coisa - só mesmo alguém como Madonna para atingir esse objetivo. Portanto, na próxima vez em que as frases, a voz, o tom e a prosódia tão tecnicamente correta usada por Serra soar levemente amorosa, é obra de Madonna. Tera sido graças a ela que Serra perdeu um pouco daquela imagem de vampiro do bem para ganhar uma nova embalagem de político antenado com o mundo pop. Claro que tem também o tuiter dele, que bombou e tal - mas quem me garante que isso também não foi dica de Madonna?
Ao que se saiba, antes de Madonna, a única pessoa a dar essa pincelada de fragilidade a esse Serra tão obelístico foi a vereadora paulistana e ex-VJ da MTV Soninha Francine. Pois é, a julgar pela troca de olhares entre Serra e Madonna que fez a festa dos jornais e revistas, Soninha foi só um preparativo - um estágio para tirar Serra do mundo refrigerado dos gabinetes e trazê-lo um pouco - com cuidado, claro, que essas coisas não se faz com estardalhaço - ao mundo do sol, aqui fora. A questão é que no caso de Soninha, a gente não tinha a foto. E a foto, a gente sabe, faz toda a diferença. Em ano eleitoral, então, nem se fala.
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