domingo, 21 de fevereiro de 2010

O nome certo


Pode não parecer, mas o mais básico de tudo é o nome. Pouco adianta a proposta, o curriculo, a ideologia, os aliados e as contradições. O nome, queiram ou não queiram, vem em primeiro lugar. É aquela tal primeira impressão que pode botar tudo a perder, assim, num piscar de olhos. Ou você votaria para presidente num cara chamado Austregésilo. Já pensou, nas manchetes dos jornais: "O presidente Austregésilo anunciou ontem que vai privatizar o Banco do Brasil"? A privatização nem é algo tão remoto assim, agora, ela ser feita por um presidente chamado Austregésilo vai contra a mais elementar noção de marquetingue caboclo. Por isso, pra começo de conversa, é preciso ter um nome. E um bom nome, que funcione, que grude no ouvido, que emplaque.

Aposto que você nunca havia dado atenção a este detalhe quando lia metros e metros de reportagens sobre as pré-candidaturas à sucessão de Lula (pense num nome bom, esse "Lula"; Dona Lindu podia ser uma flagelada nordestina solta na periferia paulista, mas entendia e muito do riscado). Sempre que falavam na necessidade do "nome certo", você e eu, com nossas cabeças viciadas pela terminologia do noticiário político, pensávamos logo que isso queria dizer a pessoa certa, com biografia à altura, ficha limpa e tal. Ledo engano, meu caro: a mensagem oculta era a mais literal: a importância do nome proprimente dito, Maria, José (ops), Teresa, Zequinha (ops novamente), Barnabé, ou o que seja.

Bem, por esse tão essencial embora tão esquecido quesito, Dilma até que não é má candidata. É um nome tão povão quanto Lula - talvez mais, viu? Lembra a vizinha dona de casa e mãe de onze filhos da rua ao lado, é nome de empregada doméstica, nome de fã de Emilinha Borba - quer dizer, de Ivete Sangalo -, nome daquela colega da sétima série que sempre ficava em recuperação em português. E esta é a primeira lição que Dilma tem para ensinar a Serra, que precisa urgentemente reunir os marqueteiros para providenciar sua mudança de nome. Mudança, não - basta uma inversão: José. O presidente José soa muito mais pé no chão do que "o presidente Serra", esse sobrenome de duplo sentido, meio ecológico (coisa para poucos), meio autoritário (do verbo serrar, cortar, reprimir). Já Marina, que entrou no jogo com jeitão de elemento surpresa no início do segundo tempo, tem um trunfo e tanto, que pode continuar fazendo novos e inesperados gols na trave dos adversários. É que, se Marina soa moderno, uma coisa bem carioca, ipanemense, contraparente de Madonna, palavra revestida de um frescor de ideias novas, há também, para contrabalançar, o nome de batismo da candidata, que é Osmarina - a versão popular que poderá muito bem ser empregada da Bahia pra cima. Uma candidata com dupla denominação, conforme a necessidade do momento político. Nas casas das madames paulistanas, esposas de empresários tão verdes quanto um chuchu maduro, ela será Marina. No comício em cima de um caminhão improvisado lá numa clareira do seu Acre natal, ela voltará a ser Osmarina. E todos ficam satisfeitos.

E Ciro, você há de perguntar? Ciro não tem jeito, gente. É isso mesmo - não muda nunca, por mais que tente. É esse nome meio rústico, que se pronuncia com um jato de respiração só, como quem assobia um palavrão. Você pode até não gostar, mas terá de concordar numa coisa: é, entre todos os candidatos, aquele cujo nome tem uma sonoridade que mais se aproxima do próprio perfil. Em outras palavras, o menos hipócrita. Até no nome.

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