sexta-feira, 24 de junho de 2011

O momento da consagração


Temos um novo herói – e não vamos reduzir esse fato apenas para parecer melhores do que somos. A dúvida é: será que o espera a mesma sina de tantos outros? Ou a consciência de "fazer história" afeta o modelo de atleta pop star?

Nada mais desagradável – de um desagrado pequeno e circunstancial, mas não menos perverso – do que tentar minimizar algo grande que está transcorrendo no ar, no espírito de um povo, na visão espelhada que uma nação obtém de si mesmo. Da noite de quarta-feira até agora, se o Brasil inteiro por um momento se olhar no espelho como faz aquele garotinho no filme “Era uma vez na América” com expressão de quem tenta entender quem é e em que está se transformando, vai ver a imagem amalgamada de um povo inteiro nos traços de um moleque de bola a caminho do que ainda não sabemos exatamente – embora desconfiemos, e embora não gostemos do que nos diz esse desconfiar.

Desde quarta-feira, o Brasil em frente ao espelho se vê em Neymar. Não é nem no Santos propriamente, nem na dupla Neymar-Ganso, nem no trio Neymar-Ganso-Elano. Porque dupla fica muito bem em cantores caipiras e trio de força simbólica absoluta só mesmo a santíssima trindade. Quando o país quer se admirar no espelho de suas próprias possibilidades tantas vezes adiadas, prefere a figura única e sintética de um herói individual. Fittipaldi, Senna, Zico. Já tivemos vários, cada qual removido do posto supremo à sua maneira. No momento, temos um novo titular, que acabou de botar o pé direito no piso transcendente deste podium tão particular. Seu nome, com rima e tudo, é Neymar. Santos, Ganso e Elano apenas compõem o caldo de cultura que tempera ao paladar certo das massas a carne do ídolo.

A vitória santista na Libertadores da América, gerando todo aquele espetáculo de comemoração, choro, congraçamento e epifania coletiva demarca definitivamente a ascensão de Neymar ao posto único de ídolo nacional do momento. Ele merece, o país idem – quem não tem sede mínima de um momento de elevação acima da rotina trabalhista honrada da vida comum deve ter também, como diria FHC, algum problemas psicológico. Não é bem isso o que incomoda. Tampouco o que surpreende.

Começando pela surpresa, se é que a palavra é a mais apropriada, espanta um pouco perceber o quanto a consciência da existência desse posto também se estabeleceu – inclusive entre o candidato a ocupá-lo. Nas entrevistas em meio à comemoração, ouvimos o bravo Neymar bradar ao microfone da Sportv de plantão: “Hoje nós fizemos história”. Mesmo sabendo que no circo monetário do esporte atual cada gesto – da forma de comemoração do gol até a marca na camisa – é microscopicamente planejada, surpreende, espanta, pega o cidadão de jeito ouvir o astro da partida declarar com todas as vogais e consoantes algo que até algum tempo atrás se deixava para os analistas – os “formadores de opinião” que também vicejam na área do futebol globalizado. O fato de Neymar se adiantar e já colar em si mesmo, antes mesmo que os legitimadores o façam (com toda justiça, não é isso o que se discute aqui), o fato de ter “feito história” – e ainda que “fazer história” vá se tornando um chavão gasto já meio incapaz de abrir a fechadura de qualquer raciocínio mais avançado – aponta para um significado fora de campo.

Não basta jogar bem, brilhar em campo, vencer a competição propriamente dita. É preciso vencer a batalha simbólica que está lá fora do estádio. Neymar entendeu isso, cacifou-se antes que outros o fizessem, faturou duplamente a noite do seu estrelato. A dupla exposição, simbolicamente imbatível e insuperável, com o totem Pelé, ligando as pontas soltas de dois grandes momentos do futebol de clubes no Brasil, completou o retrato desse momento de consagração. Por isso pode soar cínico, desrespeitoso e pequeno deixar que uma ideia aparentemente fora do lugar manche a visão desse fenômeno esportivo, midiático, autêntico mas, enfim, passageiro. Mas qual deles não é – passageiro?

O fato é que vendo a festa do Santos, o momento da consagração de Neymar, o encontro de décadas Neymar-Pelé, não há como fechar também os olhos para a mosca na sopa enxerida que insiste em lembrar de outros nomes, outras consagrações. Ronaldo, Ronaldinho não é aqui letra de canção infantil a embalar o sono de futuros moleques brilhantes soltos em Pacaembus e Maracanãs da vida. No jornal na mesinha ao lado da tevê, o caderno de esportes comenta as olheiras de Ronaldinho Gaúcho nos treinos do Flamengo, a falta de rendimento do ídolo milionário. E ainda flutua na lembrança os “coments” em torno da despedida de Ronaldão, seu legado, seus barracos e sua pança. Os dois já tiveram seus dias de Neymar. Neymar terá seus dias de Ronaldão e Ronaldinho?

Deixa pra lá: não vamos estragar a festa, a lembrança ainda recente da vitória, o simbolismo da vibração e, só pra jogar outro assunto sobre este (o que parece ser a única maneira de estancar sangrias desagradáveis), o quanto este simbolismo nos antecipa sobre a Copa de 2014, a Copa brasileira que, de uma hora pra outra, parece que ninguém quer. Ou, pelo menos, quem tem canal para dizer o que pensa ao país – ainda que seja um tuite jogado no mar revolto das redes sociais. Porque diante do levante de alegria proporcionado pela vitória santista na Libertadores, frente ao momento de consagração de Neymar, também não há como estranhar um certo silêncio de uma parcela da população que, jornalismo fiscalizatório selecionado à parte, deve sim estar torcendo para que o país tenha um campeonato mundial à altura do seu fervor.

Sexo, drogas e (falsas) soluções



Por sob a crosta bela e suja de sexo e drogas que serve de glacê ao bolo literário de Reinaldo Moraes arde o custo das soluções simples dos tempos atuais (ou de todos, o que é bem pior)

Na superfície, na prosa de papo de rua, na paraliteratura de mesa de bar, a “Pornopopéia” de Reinaldo Moraes é uma enxurrada verbal de confissões aliteradas, um jorro moderninho-psiquê que derrama a lama de uma história comum dos dias vigentes em narrativa de afunilamento dramático progressivo com atmosfera rock and roll fim de século. Na gíria, na isca da palavra, no pau da letra, a Pornopéia é esse caleidoscópio caótico de situações urbanas onde se mesclam e se fodem família, dinheiro, cultura, poesia, propriedade, futuro – num monólogo que aplica ao asfalto esburacado contemporâneo o fluxo de conversa-consciência de um neo-Riobaldo urbano, vencido e covarde, pero mucho boa gente, ao seu ouvinte metalingüístico que se no papel é o editor do dito livro que se lê, na literalidade é o próprio leitor convertido em editor de tal antijornada rumo àquele lugar onde tudo é nada, sem rima que dê solução.

É sedutora essa forma de escrita que joga no mesmo caldeirão o niilismo prático que legitima a preguiça crônica em ritmo de sexo, drogas e rock and roll – embora este último item não seja muito presente de maneira propriamente dita ao longo das páginas nervosas do livro. A musicalidade está mais no espírito da narração, na turnê fugitiva de seu protagonista terminal, o malandro-intelecto-pop-qualquer-coisa Zeca, e na fauna que o cerca e o conforta, à maneira dele. Entre pó, trocadilhos, coxas e bucetas segue este Zeca movido a todos os defeitos, mas inocente do crime supremo de que o acusam. Sua narrativa-desabafo é assim como um documento das falências todas do tempo presente, dita com um ritmo de tambor literário capaz de fazer o leitor engolir as maiores barras sem sentir propriamente aquilo que se chama de ânsia de vômito. Tudo desce redondo. Tudo, menos a armadilha que essa bad trip toda vai construindo em torno de seu herói sem caráter – esse Zeca que não é Macunaíma porque, no fundo (ops), é um bom sujeito no lugar errado e na hora imprópria. Mas quem mandou ele se meter lá, entre o traficante mais próximo e o tiroteio policial mais espetacular da semana?

A questão é que, por baixo dessa saltitante crônica contemporânea da urbanidade perdida, tanto no sentido do trato quanto no da arquitetura das tais relações humanas, há um recado nada simples. A superficialidade aparente dessa “Pornopopéia”, com seu sexo de palavras explícitas e sua decadência de drogado escancarada, facilita a identificação, favorece a projeção e arredonda a leitura, mas deixa entalado na garganta da fruição esse caroço nem um pouco pop, rock ou ligeiro-qualquer coisa: o que se lê ali é a vencida, humilhada, torpe e bêbada defesa individual de um cidadão que, antimodelo para o que quer que seja, é incapaz de se provar inocente do único dos defeitos que ele não tem – o instinto assassino banalizado dos mesmos dias atuais. Então, como se diz, vamos combinar: Zeca não presta, mas não matou ninguém. O problema dele – e o nosso, e dos nossos vizinhos – é que nunca foi fácil fazer essa distinção. Fácil, aliás, é não fazê-la. Simplifica as coisas, torna a vida menos difícil. E neste ponto a “Pornopéia” de Reinaldo Moraes mostra, categoricamente e com uma beleza poluída e fascinante, a contradição que cinde os espíritos desse tempo que nos envolve agora mesmo. Ou de todos eles, humanos tempos, o que seria bem pior.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Agosto antecipado


Dilma recuou na revisão da anistia.
José Rainha se corrompeu com dinheiro do Incra.
Ricardo Kotscho soltou os cachorros em Ideli
(o normal seria o contrário, não?).
FHC faz 80 ano sob elogio unânime da velha mídia.
Lula posa com Sarney e Temer no dia seguinte à tragédia do Código Florestal.
Jorge Viana dá sinais de que vai ser o Aldo Rebelo do Senado no Código Florestal
(normal se a gente considerar as amplas coligações que o elegeram no Acre).
Henrique Alves festeja liberação de $ para portal turístico na entrada de Natal.
(nornalíssimo e sinal de novos acordos no pós-Palocci no Planalto).

E agosto ainda nem chegou.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Banho de sol




Do domingão, 12 de junho, no Parque da Cidade.

domingo, 12 de junho de 2011

Dos namorados

O namorado do PMDB é a barganha.
A namorada do PT é a briga interna.
O namorado do PSDB é FHC 80.
A namorada do PDT é a indefinição.
O namorado do PPS é quem Roberto Freire mandar ser.
O namorado de Lula é um novo mandato.
A namorada de Sarney é a longevidade.
O namorado de Ideli é o bom humor.
A namorada de Luiz Sérgio é a conta.
O namorado de Dilma é o João Teimoso.
A namorada de Temer é a sombra.
O namorado de Brasília é o crachá.
A namorada de Natal é (foi) Micarla.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Procura-se ministro


Segundo todos os indicadores e as fontes mais confiáveis dos gramados secos de Brasília, há uma vaga de ministro praticamente desocupada em um dos andares do Palácio do Planalto. É o lugar ora ocupado pelo "garçom". Mas que ninguém vá fazer piada com relação ao apelido do ministro que sai em função de sua alegada pouca importância na negociação política. Pelo simples fato de que o outro, muito mais poderoso na teoria, o "fiador", na prática caiu. E antes. Então, à guisa de anúncio jamais publicado, segue o classificado da hora na capital dos crachás (conforme nomenclatura do professor Gustavo de Castro):

Procura-se ministro que não seja tão fraco quanto um garçom nem tão forte quanto um fiador.
Procura-se ministro que fale à direita, à esquerda e ao centro mas não sofra de torcicolo ideológico crônico.
Prucura-se ministro que goste tanto de ver o Faustão quanto o Gugu, sem perder uma edição dominical do Manhatan Conexion.
Procura-se ministro afeito à defesa da natureza e ao mesmo tempo chegado ao agronegócio, mas que não consuma agrotóximo não declarado à Receita Federal.
Procura-se ministro Fla-Flu quase virando a casaca para o lado vascaíno mas sem olho grande e mal disfarçado para o campeonato europeu.
Procura-se ministro que não se sinta meio deslocado em reunião de trabalho com Dilma, Gleisi, Miriam, Izabela e Ana.
Procura-se ministro que seja desenvolvimentista ortodoxo e metista inflacionário heterodoxo sem que seja preciso renegar o Consenso de Washington com tanta ênfase.
Procura-se ministro que saiba segurar a bandeja nos momentos de desequilíbrio político e também assinar o cheque na hora em que o locatário não pagar o aluguel.
Procura-se ministro que saiba subir sem soberba e cair sem perder a elegância.
Procura-se ministro que fale à velha mídia e aos blogues progressistas usando palavras do mesmo dicionário.
Procura-se ministro que, na iminência da ruína, não vá sair correndo pra arrotar grandeza sob a marquise da Rede Globo.
Procura-se ministro que, alvo de búlingui feito menino de escola secundária, seja capaz de perder a calma por pelo menos dez minutos (depois pode voltar a alisar calmamente os bigodes).
Procura-se ministro.
Deixar currículo no Palácio do Planalto.

Parelhas no RNTV



Tem a capelinha, o marco dos ex-combatentes, a história da promessa para interromper o surto de cólera, Ivo e sua orquestra de sanfonas e a garotada nova de violão em punho. Clique aqui para assistir. A foto que ilustra o post é de Hugo Macedo.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Câmara Hoje e a segunda queda de Palocci


Pra quem estava ocupado com a vida prática, essa coisa menor de que se ocupa a Classe C, e não acompanhou as emoções do cai-cai~Balão, digo cai-cai Palocci desta terça-feira, segue o link para a edição completa do bravo CÂMARA HOJE com o resumo da história. Se chamar de chapa branca, leva de brinde um DVD com os melhores discursos do camarada Bolsonaro na tribuna da Casa. Clique, passe a régua e não pague a conta: Aqui.

Quando Palocci cair


Quando Palocci cair, o índice de vendas das lojas Americanas não vai oscilar um milímetro sequer.
Quando Palocci cair, o percentual de jovens classe C interessados em uma bolsa do Pronatec para estudar no exterior não vai aumentar mais do que já era esperado.
Quando Palocci cair, os consumistas sem culpa recém-integrados ao mercado continuarão comprando bits, bites and trecos enquanto mandam uma banana para as Eliane Cantanhedes de la vida.
Quando Palocci cair, a venda de ingressos nos cinemas vai continuar subindo muito além dos 59% registrados de 2009 para 2010.
Quando Palocci cair, os festejos de São João em Campina Grande ficarão muito mais animados sem que haja a menor relação de causa e efeito e sem que ninguém tenha a mais remota pretensão de estabelecer qualquer tipo de paralelo.
Quando Palocci cair, a expansão da tevê a cabo no Brasil vai estender sua rede por mais alguns quilômetros quadrados sem que seriado algum, brazuca ou enlatado, dê conta do fenômeno.
Quando Palocci cair, Vitor & Leo estarão fazendo o bilionésimo show de retrospectiva da carreira em algum palco entre Caldas Novas e Formosa sem que o público tenha o mais distante interesse em saber quem vai ficar no lugar dele, Palocci.
Quando Palocci cair, o DEM continuará a ser o velho PFL sem o poder de outrora, o PSDB seguirá sendo a mais decantada forma de social-democracia à brasileira admirada pela banca e Roberto Freire poderá tranquilamente seguir fazendo seus discursos que mais do que a ninguém deixam ele mesmo indignado.
Quando Palocci cair, a vida - política inclusive - vai continuar.
Quando Palocci cair, você ainda estará aí.
Vivendo a ascenção ou queda que a vida momentaneamente lhe ofereça.
Então, dito isso, deixe o homem cair em paz.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Das penas indecisas



Dilma era "poste", depois virou "Lula diferenciado" e agora é "birrenta". Afinal, quem é Dilma?

Lula já foi o líder sindical que ameaçava a ditadura militar. Depois foi sapo barbudo disputando a Presidência da República. Depois foi o queridinho da juvenília política do final dos anos 80. Depois foi o presidente da semi-unanimidade no primeiro ano de governo. Depois foi o presidente que não conseguia tira o fome zero do papel. Depois foi o bebum do New York Times. Depois foi o presidente do mensalão. Depois foi o presidente que acreditou no mercado interno e livrou o Brasil da crise financeira internacional. Depois foi o presidente que envergonha a juvenília política da velha classe média do novo milênio. Depois foi o presidente que conseguiu eleger um poste para sucedê-lo. Depois foi o presidente que descolou passaporte diplomático para a filharada. Neste ínterim, também foi "o cara" do Obama. Foi nosso mito e nosso orgulho, nossa decepção e nossa vergonha. Tudo depende do momento e dos humores dos articulistas de plantão (sim, não são apenas os políticos que dão plantão no poder, como tão bem gostam de escrever os jornalistas de ponta, todos candidatos a uma vaga na Academia Brasileira de Lesmas).

Dilma já foi a ministra-limão das Minas e Energias, já foi a pedetistas que aderiu ao PT na última hora. Já foi a antipática que ninguém imaginava ocupando o ministério da Casa Civil (Golbery devia ser um doce, mas isso é outro assunto). Já foi o poste que Lula escolheu para tentar sucedê-lo. Já foi a candidata abatida por um câncer em estado inicial de campanha eleitoral. Já foi a sapatão dos panfletos apócrifos. Já foi candidata que não tangiversava nos debates eleitorais. Já foi a presidenta que seria teleguiada por seu mentor durante todo o mandato. Já foi a presidenta que contrariava a deselegância indiscreta de seu mentor durante o mandato. Já foi a presidenta séria que ninguém, ninguém mesmo, imaginava que seria. Já foi a presidenta séria que examinava com lupa cada indicação e preferia sempre alguém com estofo técnico para os cargos a ocupar. Agora, Dilma é a presidente birrenta, que bota tudo a perder, do Código Florestal a medidas provisórias que caem por decurso de prazo, já que não sabe conversar com... o PMDB. É o que dizem no presente momento os articulistas candidatos à Academia Brasileira de Lesmas. Mas não se apavore, amigo leitor e eventual simpatizante da birra de Dilma (talvez você até tenha votado nela justo por causa dessa característica incomum em presidentes): a toda hora, eles, os articulistas candidatos à Academia Brasileira de Resmas, mudam de opinião, como demonstra este mesmíssimo texto que você está a ler.

domingo, 5 de junho de 2011

O governo depois de Palocci, segundo Kotscho


O novo Balaio do Kotscho, agora abrigado no portal R7, adianta-se à queda iminente do ministro da Casa Civil. É o velho Ricardo Kotscho acompanhando de longe o projeto político que ele também ajudou a construir, expondo o telhado de vidro ou calcáreo como muita gente boa se nega a fazer. Projetos assim não se fazem só com louros, não. E a novidade do fim de semana é que essa novela toda vai sobrar pro Luiz Sérgio, caso você saiba de quem estou falando. Segue o trecho:

"O mais provável é que Dilma aproveite o desfecho da maior crise do seu jovem governo para fazer uma reformulação geral na articulação política, que já não vinha dando bons resultados antes mesmo das denúncias contra o ministro Antonio Palocci. Para isso, ela vai ter que conversar com os líderes do PT e do PMDB, os dois principais partidos aliados, que estão descontentes com o governo e brigando entre si pelos cargos que ainda faltam ser distribuídos no segundo escalão. Junto com Palocci deverá sair também o ministro Luiz Sergio, das Relações Institucionais, abrindo vaga para que efetivamente Dilma coloque no lugar alguém que faça a relação do governo com o Congresso e os partidos, papel que era centralizado por Palocci."

Atalho para o texto completo aqui.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O dia em que ouvi João com décadas de atraso


Joãozinho, aquele moço recatado que vive socado num apartamento no Rio de Janeiro remoendo notas musicais e que de vez em quando bota a voz pro lado de fora e lança um novo disco que já nasce clássico, vocês sabem, está até na capa do Correio Braziliense deste 2 de junho, está fazendo 80 anos. A bossa nova, se sabe, é como filho de Geni, tem um punhado de pais a lhe abençoar o sucesso, o bom gosto, a intervenção brasileira na maneira como o tal ser humano faz música, do Japão à Venezuela, do Carnegie Hall ao Ovidão de Parelhas. A música é boa, e isso basta. Há também quem não goste, ache enjoado demais, e isso também é normal. Meio anormal, se a gente pensar bem, é João Gilberto chegar aos 80 anos vivendo trancado naquele apê carioca. Mas ele tem as redes dele, esquemas que sobrevivem à passagem do tempo, inexorável como suas gravações do repertório de Tom Jobim, Vinicius e algumas recentes de Caetano. Viva João 80 anos, mas... será que vamos ter de ler e reler, outra vez, nos cadernos comemorativos, aquele velho mote sempre que o assunto é bossa nova e João Gilberto?

Sim, meu caro, onde você estava quando ouviu pela primeira vez o gênio de Juazeiro cantando "Chega de saudade"? O mantra, durante muito tempo, foi esse. Todo mundo tem uma narrativa sobre este momento, um êxtase de transcedência que parece ter colocado em suspenso os mais sensíveis corações musicais em tal momento. Caetano já contou o dele, Edu Lobo tava em Recife, não sei quem tava não sei onde. Disco enganchado. Pois se é assim, antes que começe tudo de novo, deixa eu aproveitar para uma postagem bolada e jamais publicada aqui no Sopão: o momento, com anos de atraso, em que ouvi João Gilberto pela primeira vez.

Foi em 1979, eu havia acabado de comprar um daqueles LPs tipo pau-de-sebo, coletânea oportunista para os críticos mas absolutamente econômica para os meus tostões de estudante que era. Baita coletânea, chamada "Disco de Ouro", com que a Warner tentava seduzir o ouvinte a adquirir outros títulos de seu vasto catálogo. Tinha Elis Regina cantando "Altos e baixos", tinha Raul cantando "Por quem os sinos dobram", tinha Baby cantando "Menino do Rio", tinha algo que até hoje me deixa meio mole que era Zezé Mota cantando "Dores de amores" (e eu nem sonhava em saber quem era o negão Melodia)e tinha, sim, tinha, um outro desconhecido chamado João Gilberto cantando "Wave". Gravação oportunista sim, que acabava antes do final da música (como acontecia em outras faixas) apenas para que no disco coubesse o maior número de artistas possível.

De maneira que meu "Chega de saudade" atrasado de trinta anos foi "Wave", com aquela introdução tomjobiniana que trinca os dentes até hoje de tão boa. Eu morava no interior, era adolescente e naquele tempo, lembrem, o mais próximo que havia da internet era a Rádio Rural de Caicó AM (eu morava ali perto, em Parelhas-RN). Nem a Rede Globo tinha chegado à cidade - a gente assistia ao monopólio visual do fim da TV Tupi, retransmitida de Recife, razão pela qual até hoje os nomes dos bairros da capital pernambucana me falam mais ao coração do que os de Natal. O leitor deve estar estranhando, achando que eu vivia em Marte. Era mais ou menos isso, mas saiba que vivíamos muito bem, na medida do esperado e possível.

John Lennon tem aquela frase célebre, de que os Beatles se tornaram mais populares do que Jesus Cristo. Só se for na Inglaterra dele ou nas capitais de muitos de vocês que me lêem agora. Porque naquele tempo e lugar, uma cidade do interior nordestino no final dos anos 70 a milhas e milhas da costa dourada, não chegava tudo não. Até os Beatles tinham que dar um duro danado para aparecer por lá décadas depois de terem encerrado as atividades. Não tenho vergonha de dizer que tomei conhecimento de quem era o senhor Lennon no preciso dia em que ele foi morto, por obra e graça de um negóio que existe até hoje e se chama Jornal Nacional. Depois, claro, foi aquela overdose informativa sobre os garotos que mudaram o panorama da cultura pop (não é isso que está em questão aqui, mas o alcance simulado de fenômenos de massa).

Hoje João Gilberto faz 80 anos e tudo mudou. Todo mundo tem internet em Parelhas ou Carnaúba dos Dantas e ninguém faz questão de ouvir "Wave" de queixo caído se tem Calcinha Preta arriada à disposição. Compreendo os espíritos de cada tempo. Mas, junto com a falsa vergonha de ter conhecido João Gilberto em 79 e sido informado sobre Lennon no dia em que o mataram, guardo a constatação, talvez vigente até hoje (há que se pesquisar e comprovar) de que o interior, por receber menos e mais tardiamente as informações, tem um poder de reter e analisar melhor o impacto de cada uma delas, ao contrário da nossa pressa compulsiva nas metrópoles arruinadas. Conversando com atores do "Ricardo III" montado pelos Clowns de Shakespeare, um dele registrava o espanto com o (para ele) inesperado conhecimento do repertório pop usado na peça pelas pessoas do interior. O ator notou que muitos estavam bem mais familiarizados com aquele cancioneiro interplanetário tipo Supertramp do que ele, habitante do litoral bombardeado por tendências e frequências. É por aí a explicação: demora a chegar, mas também demora a ir embora e ser trocada por outra. Fica mais, ecoa muito, é consumida sim, mas sem a agonia que aprendemos com os fast foods da esquina metropolitana.

Leia na Hamaca


"Outra faixa do disco é uma curiosidade digna de figurar em um ainda não lançado "Almanaque do Anos Pré-Neoliberais": é o xote "Sou do Banco", que lista, um a um, com orgulho então vigente naquele 1979, os bancos estaduais que se espalhavam pelos estados do Nordeste. O Bandern tá lá? Acho que não. Talvez por isso tenha sido um dos astros da quebradeira desse setor. E só de falar a sigla Bandern já nos vem à memória o Nordeste circunstancial do pano de fundo desse "Eu e Meu Pai". Se discos evocam, palavras também. Você há de lembrar do xote: "O banco do Nordeste, cabra da peste/ no Ceará, eu sou do BEC..." e por aí vai. Ou ia. Até quebrar tudo."

Post completo está aqui.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fraqueza e força na crise


O pepino Palocci, o jiló Código Florestal e o chiclete amargo do MinC na visão de Emir Sader:

"O governo Dilma não sairá o mesmo da crise. Ou sairá mais fraco ou mais fortalecido. Como ocorreu em 2005, que foi o marco decisivo no governo Lula. A atitude que o governo tomar diante da crise atual – seja no Código, seja em relação a Palocci – vai definir um estilo de governo, uma forma de encarar os interesses públicos e a forma de enfrentar problemas da ordem da ética pública, que o marcará por todo o mandato. Nunca como agora crise significa oportunidade. Será perdida ou ganha: está nas mãos do governo a decisão."

Leia o texto completo aqui.