quinta-feira, 31 de março de 2011

No encalço de Cyntia


Todo mundo quer ir, ou vai, ou já foi, a Paris, Nova York, Tóquio (com terremoto ou sem), Berlim e Londres. A jornalista Cyntia Campos, uma baiana que instala sua moradia em lugares variados de acordo com a configuração do exercício de sua atividade – pode ser Salvador mesmo, ou Brasília, ou o Rio de Janeiro, como acontece agora – já foi a todos aqueles lugares, como todo mundo – menos eu, esse matuto imóvel como uma oiticica de beira de rio. A diferença entre Cyntia e as multidões de modernos que espalha suas pernas, malas e sacolas pelos quatro cantos consagrados do mundo é que ela vai um bocadinho além. Cyntia Campos vai a... Cartagena das Índias! Conhece?

A primeira pergunta que deve vir à mente de muita gente nem é – onde fica? Alguma coisa muito pobre perto de Calcutá? – mas outra: será que fica bem viajar para essa Cartagena... Olha lá, um lugar com um nome assim, tão... latino. Pega bem – ou melhor evitar? Cyntia Campos nem liga: ela sabe das coisas e sendo assim arruma as malas serelepe de animação quando diante da possibilidade de uns dias numa praia semidesconhecida ali na... Venezuela. Mas não confunda, que Cartegena, como você já deve estar desconfiando, não tem nada a ver com a Venezuela, e sim com a Colômbia. Matou a charada? Ora, vamos: na falta de outras referências, Catagena das Índias é aquela cidade que serve de locação para páginas e mais páginas da vida de Gabriel García Marquez em sua autobiografia “Viver para contar”. A cidade onde o autor de “O Amor nos Tempos do Cólera” iniciou-se no jornalismo”.

Tá bom: admito que não pega muito bem hoje em dia gostar do velho García Marquez, por causa das históricas simpatias do homem por Fidel Castro, que também não anda com muito ibope nos tempos atuais. Lá se foi o tempo em que caravanas de escritores e artistas brasileiros da nata da MPB contrariavam a ditadura pátria visitando a ilha de Fidel – e faziam o maior sucesso pelo fato de terem essa ousadia. Então citar o autor dos “Cem anos de solidão” hoje em dia é algo tão desagradável e malcheiroso como seria dizer, de passagem, que ainda se gosta pelo menos de algumas músicas de Chico Buarque. Apreciar Maria Bethania, então, é suicídio social certo! (se é o caso, melhor o leitor admitir que tem uma queda por parte do repertório de Fafá de Belém).

Mas agora também é fato que a postagem descambou para a paleta de mini-assuntos contemporâneos que domina vinte entre dez portais de internet. O que se queria dizer nessa conversa aqui é que Cyntia Campos tem essa mania não muito saudável e socialmente aceita hoje em dia de visitar lugares inusitados, para não usar palavra menos votada do dicionário do turismo do tipo CVC ao qual nós, gente enganchada num monte de filho e agregados, tem de recorrer. Ela viaja só, sem companhia a não ser a dela própria, e, na falta de testemunha com quem dividir o prazer de flanar pelos lugares movida apenas pelo prazer estético e sensorial que cada lugar oferece, despeja, ao voltar para casa, todo o conteúdo dessas incursões no blogue “Fragata Surprise”.

Muito de vez em quando o Sopão recomenda um novo blogue, inclui na lista de links ali ao lado e, pra marcar posição no bom sentido, bota um textinho destacando o que o internauta vai encontrar por lá. No caso de Cyntia, a Coca Cola é isso aí acima. E a recomendação, como se deduz, é pesquisar, na lista lateral, as postagens que levam a Cartagena das Índias, apenas um dos muitos lugares que constam do mapa de viagem da jornalista. Boa viagem!

Para ir direto ao blogue, clique aqui.

Chame Tarzan!


Se você tem mais de trinta anos, é bem possível que, num esforço de memória, lembre daquele tempo em que a Rede Globo produzia uns especiais infantis bons pra danado para os adultos. Não sei se as crianças gostavam, porque afinal de contas não as tinha naquela época. O fato é que nostálgicos atávicos que nem eu não resistem quando vêem nas boas lojas do ramo a reedição das trilhas sonoras daqueles já antigos petardos. Pior é quanto o cidadão realiza seu projeto pessoal de infantilização dizendo que está comprando o CD para os filhos que, além da rabugice dos pais, ainda são obrigados a levar a fama pelo gosto musical não muito recomendado hoje em dia.

Em resumo, essa história toda é pra dizer que estou eu a ouvir, deleitadamente, as firulas do velho e bom “Pluct Plact Zum”, coletânea pop-infanto-juvenil-nostálgica, quando toca o refrão daquele velho sucesso da era pré-FM, na voz coletiva do saudoso conjunto “Gang 90 e Absurdetes”:

“Chame, chame, chame Tarzan!”
“Chame, chame, chame Tarzan!”

“Será que o King Kong é macaca?”
“Que o King Kong é macaca?”

Você não se recorda? Então você é muito novo ou nova. Não lhe resta outra opção a não ser comemorar diante do espelho ou envelhecer de costas para a vaidade.

Bernardo, que com seus 4 anos a se completarem agora em maio é alguém que praticamente acabou de sair da embalagem e ainda tem cheiro de carro novo, espichou o ouvido para o refrão do roquinho inocente da Gang 90.

E eu, já tentando dirigir o futuro gosto musical do menino:

- Olhai, Bernardo, é a música de Tarzan!

E ele, refutando minha débil tentativa:

- Não, papai. É a música do “gulira”

- De quem?

- Do “gulira”!

Do dicionário de Bernardo


Por falar em Bernardo e suas denominações em andamento, tem mais uma para o anedotário caseiro. Alguns de vocês devem lembrar que ele, em idade ainda mais tenra do que a atual, cismou de beber um “suco de fumaça” que, demoramos para descobrir, trata-se apenasmente de uma boa vitamina C dissolvida no meio copo de água. Suco de fumaça! Fffffffffffff!

Pois bem, esta semana ele se saiu com outra: diante de um quitute no qual nunca tinha prestado atenção, uma reles cocaca branca mais comum do que bolacha seca do Seridó, tascou a denominação:

- É doce de farofa!

terça-feira, 29 de março de 2011

Alencar


Hoje é dia de reprise no SOPÃO, que posta novamente texto publicado neste blogue em fevereiro de 2010. É como se tivesse sido escrito hoje, a data em que o ex-vice-presidente sorridente nos deixou.

Vida Longa a Alencar

Por dever de ofício, assisto pelo menos três vezes a praticamente todas as reportagens que a TV Câmara exibe em seus telejornais. Como editor do "Câmara Hoje", que é o telejornal noturno (segunda a quinta, 21h, veja aqui), reviso as reportagens antes de elas irem ao ar, para ajustes eventuais, para distribuir os assuntos ao longo do jornal, para escrever as aberturas e outras tarefas do ramo. Depois, assisto a tudo de novo no momento mesmo em que o jornal está indo ao ar, junto com o pessoal do switcher, que é uma cabine onde um monte de técnicos atuando em sincronia absoluta leva o telejornal até sua casa. E, finalmente, vejo tudo de novo toda sexta-feira, quando minhas tardes e noites são dedicadas a revisar a versão final do programa "Panorama" que, por sua vez, é uma espécie de resumo dos telejornais da semana que está terminando. Por isso, quando chego à terceira revisão, é impossível evitar uma certa sensação de saturamento. Mesmo assim há momentos que contrariam esse enjoo visual e saltam da tela até na terceira revisão.

Semana passada, houve um desses momentos. Foi na reportagem sobre a reabertura do ano legislativo no Congresso. Depois dos discursos regulamentares, dos aplausos protocolares e das declarações habituais, a reportagem destacava a homenagem prestada no Plenário ao vice-presidente da República, José Alencar. Uma salva de palmas daquelas de arrepiar coração veio abaixo, fazendo o vice levantar algo timidadamente e agradecer se curvando, com um sorriso meio encabulado no rosto. Belo momento, para sublinhar a bela experiência que o velhinho Alencar tem transmitido a tantos brasileiros quanto sejam aqueles interessados em acompanhar sua epopéia contra sabe-lá quantos tumores.

Por sinal, um deles, parece que o maior de todos, tem diminuído, segundo as últimas notícias. Mas, de fato e no fim das contas, nem interessa muito o desempenho médico de Alencar. Interessa, comove, impressiona é a maneira mineiramente sábia como José Alencar carrega sua doença, sem demonstrar o fardo que ela com toda certeza representa, mas, ao contrário, sempre exibindo aquele sorriso que não parece combinar em nada com quem acabou de sair de uma unidade de terapia intensiva, de uma cirurgia de dez horas, de um exame nem sempre reabilitador. Alencar, com seu bom humor imune aos tumores, é um tijolinho a mais no muro de otimismo que o brasileiro vem erguendo em torno de si nos últimos anos.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Subatômica


Nenhum vidente, clarividente ou visionário enlouquecido nos porões mais fétidos da década de 80 seria capaz de prever que, em 2010, estaríamos à mercê do acontecimento que mais tememos naqueles tempos. Por quantos anos tiritamos de medo de que um dos donos do mundo, fosse na banda ocidental ou além do muro de então, apertasse o botão? Nem o mais extravagante dos astrólogos de jornal seria capaz de prever que na virada da segunda década do milênio seguinte um terremoto no Japão funcionaria como possível interruptor da grande detonação.

Eram tempos em que a gente via, nas tirinhas da revista Mad, um Reagan bobão dando a clássica balançadinha no pinto depois daquela mijada presidencial. No quadrinho seguinte, lá ia o astro-presidente-direitão apertar o botão da descarga quando, no quadrinho ao lado, explodia em gritos a humanidade inteira: “Não!” Um mero cartum desdobrado que expressava como nenhuma obra de arte os temores de então. Flagrantes ligeiros – mas, como por ironia, acertadíssimos – de um tempo em que se imaginava o ano 2000 como uma impossibilidade futurística. Antes disso, acreditávamos então com a humildade que a era atual tirou de cena, alguém apertaria aquele tal botão e tudo iria pelos ares – nossos feitos, nosso orgulho, nossos arsenais, nossos comunistas, nossos yuppies e nossa inflação, só pra fechar com um exemplo de extração mais nacional.

Veio 2000, o bug do milênio revelou-se uma bolha, por um tempo se viveu a ilusão de que a história acabara, só para 2010 nos colocar às voltas com dois dos mais sombrios fantasmas daquele passado: Kadafi, que era o Sadam daqueles tempos e andava esquecido no canto dele, e a grande explosão nuclear. Só falta mesmo o grande terremoto de Los Angeles dar o ar da graça para Hollywood suspender o gênero cinema catástrofe por absoluta falta de apelo. Nem Reagan, nem Margareth, nem Brejnev e tampouco Kadafi – quem apertou o botão foi essa entidade de rosto, RG, nação e mandato indefinível a que uns chamam de acaso, outros de Deus, terceiros de Jeová.

Ou por outra, se não é o caso de livrar a nossa cara botando a culpa no todo-poderoso, fomos nós mesmos, a humanidade inteira e não um mandatário em particular, ao tratarmos o planeta como a lata de lixo resistente à nossa infinita capacidade de usar e jogar fora, tanto no sentido material como no emocional mesmo.
De uma maneira ou de outra, não se sabe quem está prestes a botar o dedo naquele lugar proibido. Só podemos especular, sem chances de certezas – o que só reafirma o tamanho da nossa dimensão tantas vezes hipervalorizada.

Feito para lembrar


Recomendado por dez entre dez ansiosos candidatos a pioneiros do bom gosto, ainda que seja o gosto médio, é o CD de estréia do músico, compositor e agora também cantor Marcelo Jeneci, “Feito para acabar”. Um disco certamente superestimado, embora seja agradável como afinal de contas se propõe – e se o incensam além de seu alcance não deve ser somente culpa dele. O disco está sendo vendido nas mais sofisticadas publicações que mais dia menos dia estarão embalando peixe como o mais vulgar dos jornais de província como o petardo pop convencional de um cara que não se furta a fazer música inteligente embora ligeira. E com influências que vão da velha Jovem Guarda até uma coisa meio Arnaldo Antunes.

Então a gente pega o disco na loja, leva pra casa e de cara, logo na faixa de abertura, vem uma batidinha eletronizada que lembra aquele antigo teletema, um clássico menor do cancioneiro de novela dos anos 70. E a voz que se ouve, além de um Marcio Greyck meio cool, que é como soa à primeira vista o cantor Jeneci, é a de sua partner meio Evinha (o Google e o YouTube podem ajudar os mais jovens a saber quem são esse Márcio e essa Evinha). O tecladinho segue marcando bem direirinho o ritminho da canção e só faltam mesmo as palmas do auditório. Mas é tudo muito cantarolável e enganoso, porque, como se verá adiante, tem coisa melhor por baixo desse creme de galinha de festa de fim de ano em família.

Marcelo Jeneci, o cara que foi do acordeão às bandas de estrelas da MPB e descambou neste seu primeiro CD tão festejado realiza no disco sínteses tão improváveis quanto efetivas – se ninguém fez antes é porque o preconceito auditivo falou mais alto. E isso ele tem a favor dele: a coragem de, embora soando às vezes meio distanciado como uma performance do Los Hermanos, não esconder ou até explicitar que deseja ser ouvido com a avidez fiel que os fãs de Odair José um dia devotaram ao autor da música da pílula. E o CD “Feito pra acabar” realiza isso em faixas e mais faixas que lembram casamentos inesperados. Há músicas em que temos a nítida sensação de estar ouvindo um dueto de Jorge Ben Jor com Padre Zezinho. Outras que dão a impressão de ser a trilha sonora de um caso secreto entre a bossa nova e aquele gênero de música para lual que deu fama ao sulista Armandinho. É Rumo com Roupa Nova, Titãs com Leonardo (ele mesmo, que gravou, em formatão mainstream, a mesma “Longe” incluída aqui no CD), Lulu Santos com vanguarda paulista. Raul Seixas com Chico Cesar.


Mas o filé – inesperado filé pela qualidade potente da composição e pelo painel vasto traçado no espaço exíguo de uma canção popular, como só em felizes ocasiões acontece – está na faixa “Por que nós?”, composta por Jeneci em parceria com Luiz Tatit (eu disse que o perfil das parcerias, reais e sugeridas pelo disco, é surpreendente). Com a leveza que caracteriza o conjunto, esta faixa isolada encara um assunto bem sério: o contraste entre o mundo que vivemos e fizemos durante um passado ainda recente, coisa dos anos 70 e 80, e a tecnotroglodítica vida consumocompetitiva que está em vigor hoje em dia. Sem saudosismo fácil, é uma bela olhada no retrovisor tentando divisar fronteiras que infelizmente foram atravessadas com uma pressa que a gente não precisava ter. E como dói. Segue boa parte da letra, que diz tudo e merece leitura atenta:

“Éramos célebres líricos / Éramos sãos / Lúcidos céticos / Cínicos não / Músicos práticos / Só de canção / Nada didáticos / Nem na intenção / Tímidos típicos / Sem solução / Davam-nos rótulos / Todos em vão / Éramos únicos / Na geração / Éramos nós dessa vez / Tínhamos dúvidas clássicas / Muita aflição / Críticas lógicas / Ácidas não / Pérolas ótimas / Cartas na mão / Eram recados / Pra toda a nação / Éramos súditos / Da rebelião / Símbolos plácidos / Cândidos não / Ídolos mínimos / Múltipla ação”


Links do Sopão:

Para ir direto ao original e ouvir Márcio Greyck de uma vez por todas no site oficial do cantor, clique aqui.
Para visitar ouvir "Por que nós?" e outras faixas do disco de Marcelo Jeneci, clique aqui.
Para vestígios perdidos da cantora Evinha, o atalho é aqui.

Cinemania


Há certo tipo de livro que a gente leva meses e meses lendo, por vários motivos. Porque se trata de livros enciclopédicos, que pedem tempo, paciência e degustação lenta. Porque a gente tem medo de acabar logo de uma vez e ficar com saudade quando chegar à última página. Porque o conteúdo é tão instigante que não dá pra ler sem parar um pouco aqui e ali para absorver melhor o que diz uma frase, um parágrafo, um capítulo. “Grandes Filmes”, o segundo volume de estudos sobre filmes feitos pelo crítico Roger Ebert, lançado pela Ediouro, é um desses livros. Não é nem mais uma novidade nas livrarias, mas aqui em casa continua nessa condição, já que se trata de um desses livros que se lê lentamente – até se abandona uns tempos, enquanto se aprecia outras leituras – até que chegamos à última resenha. Mesmo sem chegar a este ponto, adianto, pra degustação do leitor do SOPÃO, trechos de alguns dos estudos de Ebert, esse apreciador de cinema que não torce o nariz para títulos como “Alien”, embora obrigatoriamente tenha na sua carta de preferidos clássicos como “Amacord”.

OO7 CONTRA GOLDFINGER

Bond é um arquétipo tão persuasivo que seria um sacrilégio alterá-lo.


ALIEN

Uma versão dessa história, hoje, se deslocaria depressa para a parte em que o alienígena salta sobre os membros da tripulação. Hoje, os filmes violentos, do gênero ficção científica e outros, são cem por cento barganha e zero construção. O que o público aprecia não são os golpes cortantes, mas a expectativa desses golpes. Sinais, de M. Night Shyamalan, reconhece isso e pouco se importa com seus alienígenas.


AMADEUS

Não se trata de uma vulgarização de Mozart, mas um meio de dramatizar que os verdadeiros gênios raramente levam a sério a própria obra, porque esta não lhes demanda esforço. Grandes escritores (Nabocov, Dickens) fazem suas obras parecerem brincadeiras. Escritores menos brilhantes (Mann, Wolfe) fazem-nas parecerem esforços hercúleos. Salieri suava e se esforçava ao máximo para produzir pouca música: Mozart compunha com tamanha facilidade que “a música parecia lhe ser ditada por Deus”, segundo uma queixa de Salieri.


AMACORD

O filme retrata “memórias” de memórias, transformadas pelo afeto e pela fantasia e muito valorizadas pela narrativa. Fellini reúne as lendas de sua juventude onde todos os personagens parecem maiores e menores que na vida real – atores brilhando em seus palcos particulares.


BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES

O cinema de animação era considerado um entretenimento infantil, seis minutos de gags envolvendo ratos e patos, antes do cinejornal e do filme principal. Branca de Neve demonstrou que a animação poderia libertar um filme da armadilha de espaço e tempo; que brevidade, dimensão, limitações físicas e regras de movimentos poderiam ser vencidas pela imaginação dos animadores.


OS BRUTOS TAMBÉM AMAM

Se introduzirmos Freud nesse filme, descobriremos toda sorte de possibilidades, como quando o recém-chegado vai à taberna vestindo roupas pouco viris e é insultado e castigado pelos brutamontes até sacar a arma e provar que é melhor.


OS IMPERDOÁVEIS

Se o western não tinha morrido, estava morrendo; o público preferia ficção científica e efeitos especiais. Era hora de uma elegia.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Olivia, Cacaso e um caso de amor em Natal


"Corte brusco: Natal, RN. Lá, vive uma conhecida muito querida da gente lá de casa que um dia, na rua, talvez numa manifestação pública como aquelas que não se realizam mais, os tempos são outros, o individualismo venceu, nossos heróis morreram de overdose, pois bem, nossa conhecida viu de longe, ou ao longe, como soa poeticamente tão mais antiquado quanto melhor, um certo poeta local calçando sandálias e meias. Sim, leitores, sandálias de couro com meias do tipo soquete, se é que é assim que se diz. Numa cidade quente como Natal, numa tarde abafada como devia ser aquela, e o poeta de sandália de couro com meia branca, um visual bem pouco comum na deselegância discreta da poetagem em geral da cidade Natal. Apaixonou-se a nossa conhecida. De cara, ali, no ato. Dizem que o diabo mora nos detalhes, pois neste caso pode-se dizer que é a paixão que neles reside sem pagar aluguel."

Leia o texto completo clicando aqui.

sábado, 12 de março de 2011

Oh,Ana


Quem diria, seis meses atrás, que a crise que marcaria os primeiros 100 dias do futuro governo Dilma estaria no Ministério da... Cultura! Nem nos embates com o PMDB - a posição do partido na votação do salário mínimo desmoralizou dez entre dez analistas políticos da imprensa escrita, televisada e internetizada - nem nos constrangimentos diante dos evangélicos de extração medieval e tampouco frente à economia propriamente dita, que a grita diante dos cortes no Orçamento é como uma crítica do PSDB que se autodesmente (como é que um partido tão partidário de restrições de gastos e investimentos públicos pode criticar cortes, me explique quem puder).

Bom, na falta de uma inflação realmente aterrorizante - e diante de um pibão que a imprensa registra com cara de criança mimada que não quer dar o braço a torcer - e outras catástrofes governamentais tão esperadas, sobrou a pobre da... cultura. E parece que não poderia haver ninguém mais apropriado para ancorar essa crise inexistente nos demais prédios da Esplanada dos Ministérios do que a pobre da irmão de Chico Buarque. Trato a ministra assim porque é assim, pejorativamente assim (houve um tempo em que ser irmã do Chico Buarque seria um elogio automático), que ela começou a ser tratada tão logo teve seu nome anunciado. A revista "Veja" meteu-lhe na cara duas páginas daquelas ultraeditorializadas com pitadas de rancor e doses cavalares de ressentimento vindo não se sabe bem de onde. A ministra nem tomara posse e já foi tachada de, no máximo, "irmã do Chico Buarque", como se esse fora o maior dos defeitos que um ser humano pode ter. Nem de "filha do Sérgio Buarque" a criatura teve a piedade de ser chamada. Era ruim, péssima, infeliz escolha só por aquele outro predicado. Uma raça condenável a priori pela Veja, a dos irmãos, filhos e netos do autor de "Vai Passar".

Parecia o anúncio antecipado do que viria a seguir. Mas o que veio a seguir complicou um pouco mais as coisas. Caímos todos, Ministério e seus expectadores, jornalistas e ativistas culturais, majors da música e alternativos da mais tenra indigência criativa, na vala de um debate que parece tragar a todos sem explicar bem o que se passa a ninguém. Ecad, Criative Common, anteprojeto de lei do direito autoral, Emir, autistas e afins parecem legumes a girar no caldeirão de uma sopa confusa, pastosa e de sabores variados dependendo de quem dela vai se servir a título de degustação ou como último recurso para matar a fome.

Para além da crise em si, que existe de verdade e envolve correntes de pensamento político dentro do governo embora às vezes pareça só uma projeção dos debates virtuais na internet, há uma grande falta de comunicação. Um grande "e eu com isso" escrito numa faixa visível somente aos olhos do brasileiro em geral e pendurada no alto do primeiro prédio daquela rua tipicamente brasiliense chamada Esplanada dos Ministérios. Nem os ativistas da liberação mais do que compreensível dos conteúdos que caem na grande rede virtual conseguem se fazer entender - e parece que não pretendem mesmo ir além do muro do gueto de bits e bytes - nem a ministra parece ter a capacidade de colocar as coisas nos seus devidos lugares, justificar de maneira acessível suas decisões e chamar a atenção da população em geral para o problema, angariando alguma adesão. Não precisa nem botar Emir Sader nesse balaio, que o problema começou bem antes.

Oh, sim, o nome da ministra é Ana. Ana de Hollanda, com o perdão do sobrenome.

Trio de ouro


Tanto quanto uma evolução lenta, necessária e meio torta mas evidente, a história política recente do Brasil também parece uma piada. É assim quando a gente se dá conta de que, nos corredores, plenários, gabinetes e cafezinho do Senado transitam e se esbarram, a toda hora, três ex-presidentes de vasta memória. Memória recente, é bom que se lembre - caso contrário a piada perde o apelo.

Sarney, Collor e Itamar estão sempre lá, como se fossem fantasmas teimosos de um Brasil que já desencarnou - ou pelo menos deveria estar bem quieto no tal andar de cima. Nada a ver com o obituário de Sarney que o pessoal do Senado - voluntária ou involuntariamente, vai-se saber - vazou para a imprensa. E a morte propriamente dita deve ser o que menos passa pela cabeça e pelos papos do nosso trio de ex-supremos mandatários quando eles tropeçam um no outro entre uma audiência pública e um colóquio privado.

- Cara, o seu topete definitivamente não é mais o mesmo - provoca um Collor bem menos estressado do que a sua imagem pública para um Itamar bem mais penteado do que seu visual pretérito.

- Olha lá, Fernando. Não venha me falar em coisas que se perderam pra sempre que eu me lembro logo de um cara que choramingava: "ah, minha gente, não me deixe só..."! - reage Itamar.

- Realmente! - rebate, astuto, Collor.

- Peraí, piada com o Real eu não admito. Morro jurando que quem inventou tudo fui eu e não aquele outro Fernando.

- Calma, brasileiros. Não importa quem bolou o plano. O que importa é que a inflação acabou. A inflação acabou. A inflação acabou. A inflação...

- Para com essa lorota, Sarney. O Plano Cruzado já está na terceira reencarnação em algum gabinete na Islândia arruinada pelo crise financeira mundial e você aí repetindo essa cantoria. Desapega, criatura - é Itamar repreendendo o colega de biografia.

E assim vai o trio, como três velhinhos rabugentos e divertidos dividindo pequenas queixas e antigas memórias pelas quais ninguém mais se interessa a não ser eles mesmos. Como aqueles personagens de Jack Lemmon e Walther Mathau numa série de comédias do início da década de 90. Pena que, além de tudo, grande parte dessa piada permanente no Senado nem possa ser entendida por grande parte da população brasileira atual. Sobretudo os mais jovens, que ficam com cara de loira tentando decifrar a chave do humor oculto nas mais básicas anedotas de salão. "Por que Sarney vive repetindo que a inflação acabou, a inflação acabou..."

Leia na Hamaca


Do Japão
Duzentos e quarenta quilômetros de buraco, digamos assim. Uma vala onde parece que poderia cair a humanidade inteira num átimo de segundo, como uma piada do caos absoluto que juntasse, nas margens opostas do abismo, a maior e mais ínfima das grandezas e, entre elas, em queda livre, o bicho homem - impotente na tragédia mas ainda assim crédulo no dia a dia.

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quinta-feira, 10 de março de 2011

Woerdenbag


O menino de 50 anos João Luís é, definitivamente, nosso maldito de estimação. Nosso rebelde de predileção. O enfant terrible do tempo em que era moda usar e abusar dessa expressão. É também, como é salutar e recorrente entre os artistas, um bicho humano a se reinventar de tempos em tempos. Do rock-baladeiro autor da irresistível “Me chama” a inimigo público número um da imprensa, de porta-estandarte gargalhante da cultura das drogas a realizador da mistura rock-samba que dava pruridos em ouvidos metaleiros de butique, de contestador da pirataria oficial da indústria do disco e líder do movimento compre a revista e leve o CD (numerado) ao posto de reflexivo quase senhor ciente e cioso de sua biografia tortamente reta.

É este último o papel que ele vem desempenhando precisamente agora, escudado na autobiografia “50 anos a mil”, escrita com a colaboração de Cláudio Tognolli. E como nos tempos de “Canos silensiosos”, “Corações psicodélicos”, “Revanche” e “Vida bandida”, eis que Lobão, esse nosso eterno maldito preferido, está de novo na parada de sucessos. Em outra mídia, como tem feito, afinal, tantos outros do mesmo meio (Arnaldo Jabor convertido em raivoso analisa político e comportamental; agora Caetano Veloso com um pé no mais do que cômodo e antidiplomático jornalismo de opinião todo domingo no “Globo”, o titã Toni Belloto com seus romances pós-qualquer coisa etc etc). Lobão pode até não estar sendo original, de vez que seu livro chega quase que na sucessão de outros êxitos auto ou só biográficos recentes, como o Tim Maia reconstruído por Nelson Motta e o Erasmo Carlos contado por ele mesmo. Foram livros que deram certo, porque traziam relatos de gente com muita história interessante – e sobretudo divertida – de bastidores do mundo do show, do disco e da música para contar. Mas nenhum deles chega aos pés da atribulada vida do Lobo em questão.

Lobão foi, durante um bom tempo, nosso Cristo pop, antimessias ideal para denunciar a hipocrisia do tal do sistema (musical, discográfico, político, comportamental, ideológico). Sujo sem fazer questão de lavar as mãos e banhar o corpo, envergava na sua pessoa os vícios e as inconseqüências mais condenáveis para a época – também para hoje, mas a mudança de eixo temporal altera um pouco o resultado da soma – de maneira que não havia espaço para lhe desestabilizar a imagem mais do que ela própria já estava chamuscada. A galera da onze que o diga. Dito de outra maneira: não é que Lobão fosse o Cristo da perfeição a apontar o indicador para os furos da lona do circo brasileiro de então; ele era, antes, um rombo naquela mesma lona a dizer como costurar aquela, com o perdão do palavrão que nunca poderia ser tão apropriado quanto aqui, porra toda. A legitimidade de Lobão não vinha de qualquer forma de correção política e pessoal. Vinha justamente de sua condição de pária – situação na qual se viu por imposição de quem mandava na indústria musical da época mas também de sua teimosia em enfrentar, de forma quase suicida, esse mesmo poder.


Noves fora, temos no livro o relato da cisma besta com Herbert Vianna (é como é dito no filme “A rede social”: as coisas, numa determinada geração, estão no ar; cada um pega uma parte ou aproveita um pedaço da parte vista pelo outro e faz sua recriação), os não sei quantos suicídios incompetentemente tentados e até, para efeito de comparação, enxertos de notícias da imprensa da época que, lidos em comparação com o relato do autor, mostram a que ponto a informação publicada nos jornais e revista (não) merece crédito e confiança.

E das quase 600 páginas do livro se sai – pelo menos eu saí, e olhe que não me animei a comprar o exemplar na livraria, mas acabei lendo porque um amigo me entregou o tijolão em mãos como quem faz uma intimação com rima e tudo – com ainda mais simpatia pelo tal João Luiz. Ciente de que há muito de marquetagem no livro, seu lançamento, sua evidente qualidade de relançador do artista no palco do mundo pop brasileiro. Mas é o tipo do relato que reequipa seu personagem já gasto com nova carga de pequenas e grandes traquinagens que dão brilho renovado ao ser humano ali contido. Como fez “Roberto Carlos em detalhes”, o livro banido do rei inseguro.
Você deixa a leitura com muito mais simpatia pela pessoa em questão do que quanto nela ingressou. De “50 anos a mil” resulta um Lobão anos luz além da pecha fácil de maldito que a gente usa, claro, só pra adiantar o papo para o leitor igualmente viciado em facilidades. Mas não se enganem, que da doce lama desse livro emerge um Lobão mais inclassificável, persona múltipla mas em muitos momentos autêntica – o que talvez explique a empatia que ele estabelece de cara mesmo com o mais enfarado dos conservadores retardatários.

Cabanada


Paulo Coelho - e não William P. Young, o galego aí da foto ao lado - poderia ter escrito este livro ocasional que, como tantos outros assim feitos, caiu no gosto médio do mercado leitor de consumo e não desce nem a pau do topo da lista dos mais vendidos. Não sei se vale a pena gastar linhas para dizer que “A cabana” trata do confronto entre um reles ser humano arrasado pelo assassinato brutal da filha caçula de cinco ou seis anos e o poder algo movediço e inexato da própria trindade divina – e quem, como eu, fez um catecismo bem feitinho sabe que me refiro às três pessoas de Deus (pai, filho e espírito santo, que escrevo aqui em minúscula para não comprar briga com os leitores mais nitcheanos, caso eles existam, do que muito duvido). Enfim: o plot é básico, o gancho fica logo muito claro e a abordagem, como se pode imaginar, é artisticamente didática. Tudo o que se espera de um livro desse tipo nos dias de hoje.

Mas não me apraz condenar o livro, sua vendagem e seu culto, por mais que me envergonhe intimamente de certos comentários tão comuns que a gente ouve hoje em dia quando está inocentemente olhando as novidades diante de uma prateleira de livraria. Por sinal, o leitor do blogue pode estar se perguntando : como é que ele lê num mês a biografia barra pesada de Lobão tendo lido na semana anterior este banal “A Cabana”? Curiosidade, meu filho, curiosidade. Coisa crônica. Vício – e tão maldito quanto aqueles outros, não se engane. Reprovável por reprovável, cada um tem a sua mania.

Acontece que, por trás da narrativa autobiográfica de Lobão e das linhas edificantes deste “A Cabana” está, no fim das contas, a mesma dúvida. É a incerteza sobre a transcendência do humano que move tudo, aquela abelhinha metafísica que volta e meia pousa na orelha dos que se dispõem ou não a ouvir seus zumbidos. Talvez tenha sido ela a causa do ato revoltoso de Van Gogh ao arrancar a própria, quem sabe? Mas, divagações à parte, “A Cabana” e seu êxito comercial se explicam pelo seu formato de manual narrativo dessa nova religiosidade – ou do que há de melhor entre elas, vide que agora os evangélicos arrebanham até os filhos do outrora impávido Caetano Veloso .

É uma religiosidade plana, acidentalmente zen, estruturalmente suspensa: a busca de respostas sobre o insondável feita completamente à margem de dogmas e ritos. Religiosidade pura. Mercantilizada sim pela indústria editorial, mas o que não é no formato de humanidade que afinal de contas praticamos hoje de Hong Kong a Parnamirim?

Penso, logo existo


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Crônicas em 3D


Recuerdos de uma tradição: houve um Brasil esquecido em que, junto com a inflação nas alturas, o rock nacional começando a comer pelas beiradas, o filme anual dos Trapalhões e o disco natalino de Roberto Carlos começando a tocar no rádio trazia também, todo final de ano, o livro obrigatório de crônicas de Fernando Sabino. Hoje você passa os dedos na sessão de autores nacionais de um sebo ou biblioteca qualquer e nem se dá conta do quanto aquela seleção de amenidades delicadamente costuradas pela máquina de escrever de Sabino fazia parte do inconsciente nacional (pelo menos da parte da população que tinha acesso a este tipo de coisa; o que, está muito mais claro hoje, não era, proporcionalmente, muito).

Ler agora, pela primeira vez, um daqueles livros – sempre a título de curiosidade que é o norte perdido deste leitor errante – é ter a sensação da releitura. Porque de tão para trás (e não é nem o caso de usar o termo “clássico”, pois não é disso que se trata), a leitura de “O gato sou eu”, lançamento de Sabino do saudoso ano de 1983, soa como saudade forte de alguma coisa que, de fato, não se viveu.
Firma-se a constatação: o quanto inocente era nossa literatura de consumo em meados dos anos 80. Histórias singelas, causos semibanais, registros até pequenos diante do conjunto da obra de um sujeito que escreveu aquela dor em forma de livro que é, ao que eu me lembre, “O encontro marcado” (este sim, candidato a uma estomacal releitura). Ler, como quem relê, “O gato sou eu” é como assistir a um velho filme brasileiro na programação vespertina do Canal Brasil: mais do que uma peça literária, um registro documental do que foi este vasto país há apenas umas décadas atrás.

E veja o quanto éramos, entre preços em alta, ditadura em crise e greves a pipocar, leitores delicados. Em “O gato sou eu”, tudo é superficial o bastante para não incomodar a epiderme de qualquer leitura mais susceptível. Como se fossem contos escritos em papel de pão com hidrocor de pouca tinta. Ou aquele bolinho de padaria que você tem de comer no mesmo dia senão estraga e perde o sabor. Ou aquela marca de bala soft que saiu de linha.

E ainda há, como se fora aquela bala, uma especulação futurística que ironicamente se desmentiu e se confirmou. Está lá, no conto “O mundo é pequeno”, página 189, quando Sabino narra o segundo encontro que teve com o ator Broderick Crawford, dos filmes “A grande ilusão” e “Os trapaceiros”. O primeiro encontro foi no Rio de Janeiro em 1953, o segundo em Hollywood em 1972.

Conta o escritor: “Depois iniciamos uma discussão sobre o futuro do cinema (observação minha: lembre-se, era 1953, a evocação é do primeiro encontro). O ator afirmou que todos os filmes, dentro de dez anos, seriam em três dimensões. Estava em moda na época não apenas o sistema 3D, mas o Panavision, o Vistavision, o Cinerama, a tela panorâmica e outras novidades. Eu sustentava que não, usando argumentos de bêbado em favor do advento do cinema em casa. Em televisão, propriamente, ninguém falou. Ele fez questão de apostar solenemente um dólar.”
Lido hoje, esse trecho de “O gato sou eu” mostra que ambos acertaram a aposta, cada qual à sua maneira. Em 1983, ano de lançamento do livro, Fernando estava com mais chances do que o ator – embora, àquela época, viodeocassete ainda fosse luxo de quem morava na Vieira Souto. Mas, na perspectiva de 2011, chega a ser irônico o diálogo entre Fernando Sabino e Broderick Crawford: uma antevisão dupla, feita em meio à lombra de um porre não explicitado na crônica, mas crônico nas entrelinhas. Para se ver como a perspectiva do tempo pode mudar a panorâmica da vida.