Manuel Zelaya é mais ou menos como seria Hugo Chavez amanhã, caso este não tivesse conseguido conter o golpe que quase o derruba do poder alguns anos atrás. É mais que isso - é a imagem refletida e refratada dos líderes à esquerda que tanto quanto respondem a uma necessidade social e econômica de Latino América, também o fazem de uma maneira algo antiquada. Manuel Zelaya, quero dizer, é um espelho onde se miram - e obtêm impressões diferentes - os países todos da América do Sul, na tentativa plenamente justificada de enxergar um futuro desligado dos grilhões que tradicionalmente se agarram aos nossos pés. Líderes como Zelaya, Chavez e Lula podem não ser perfeitos - como ademais perfeitos não poderiam ser nenhum dos senhores à direita que em nosotros tanto mandaram até um dia desses - mas são a maneira possível como esse mesmo futuro se desenhou em cada recanto dessas terras descobertas por europeus e colonizadas por Espanha e Portugal.
A imagem de Zelaya dormitando sob um chapelão na embaixada brasileira, que está em todos os jornais e todos os portais de ontem para hoje, sugere um Zorro em repouso entre uma batalha e outra. Zelaya, nas feições tortas como essa forma de poder e representação popular chega ao topo tão tardiamente, lembra assim uma espécie de Ratinho que tenha trocado os porretes na tevê por uma causa de popularidade mais genuína, depois de ter lido, apressada e impaciente, umas apostilhas sobre colonialismo, imperialismo e noções de marxismo do tipo abra em qualquer página e reflita sobre o que está escrito. De outra maneira, Manuel Zelaya somos nós, eternos pisoteados que ainda conseguimos tirar uma soneca deitados em um berço esplêndido qualquer que nos emprestam os tradicionais donos do poder enquanto lá fora gira enlouquecido o olho do furacão. Manuel Zelaya é mais um protótipo do justiceiro confuso, ainda que sobejamente justificado. Um personagem de "Terra em Transe", glauberianamente fixado na mitologia cinematográfica e dela decalcada por realidades quem teimam em conservar o pior do passado. Por isso e por tantos outros motivos, aquele sono, daquela foto, se não é o sono dos justos, pode-se dizer, é o sono algo sonambulizado de todos os injustiçados.
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