terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pequenos perfis de cidadãs comuns (3)

3.Lina

A contadora contra a parede, a servidora duplamente difamada, a funcionária derrubada do alto da carreira. E ainda assim, estóica, impávida sem colosso, lacônica em sua verdade, serena na batalha, flutuando elegante no mar encrespado da disputa política. Os olhos comprimidos por dentro daqueles óculos brancos, a expressão do dever cumprido, a parede branca da sala do Senado por trás, a disputa política ricocheteando invisível às costas da ex-secretária. "Essa secretária". "Esse presidente". Seria tudo uma pena, não fosse a evidência de verdades outras, consagradas a cada dia no noticiário do país. Porque ela cometeu o pecado imperdoável de inverter prioridades e, como outras, pagou por isso. Como Erundina na Prefeitura de São Paulo. A receita deixou de ser o bolinho frugal do contribuinte sem sal e teve a ousadia de convocar à cozinha os grandes chefs dos restaurantes dez estrelas. E veio a Petrobras e veio Fernando Sarney, sobremesas fortes. E veio a dialética - sim, ela mesma, que ainda pulsa por baixo dos muros derrubados - fazendo com que o mito vivo, aquele que indicou Dilma e agora se vê às voltas com o fantasma de Marina, contrariasse os próprios elementos que o geraram. A agenda é só um objeto - um fetiche daquela mesma disputa política. A mãe de Mução contra a mãe do PAC. Antes disso tudo, existe a funcionária pública - esse instrumento que se ataca ou se defende dependendo das conveniências. Existe a expressão sem fígado necessária no momento da tensão mais midiática. A republicanda por excelência, pois que teve a coragem de submeter grandes e pequenos ao mesmo leonino tratamento. E ainda por cima, é conterrânea - mas este é o último aspecto na lista dos fatores que garantem a simpatia instantânea. Não dizem por aí do "orgulho de ser nordestino"? Nordestina, potiguar, republicana e servidora pública, pode acrescentar.

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