segunda-feira, 7 de junho de 2010
Olha aí
O vozeirão convoca, cantando: "Olha aí..." e o samba se instala e evolui, suave e cadente, soberanamente como rei europeu algum jamais poderia. É Walter Alfaiate, na faixa que abre o CD que tem o mesmo nome deste samba-celebração: "Olha aí". Com o atraso regulamentar, o Sopão lamenta aqui a ausência do carioca que foi meio alfaite, como dizia seu nome artístico, e meio sambista, como provam os CDs que ele deixou. Conheci Walter Alfaiate numa idade em que não acreditava poder encontrar nada mais de muito novo em termos de música brasileira - sobretudo se tal novidade fosse um velhão cheio de ginga vocal que cantava como quem evocava a velha guarda de tempos outros.
Mas Rejane, que me levou a ouvir não apenas um mas muitos cantores e cantoras que eu desconhecia, um dia me falou deste Walter, que fazia uma música parecida com aquelas que o velho Chico Torres, meu sogro, apreciava. Chico Torres - bom lembrar dele agora - era um sujeito com cara de poucos amigos que, na intimidade, revelava-se um humorista fino. A coleção de apelidos que ele colocava em quem passava por sua vista - incluindo este que vos escreve agora - comprova a ironia que habitava aquela mente só aparentemente arredia. E Walter Alfaiate nos levava mesmo aos Franciscos Alves que faziam a mente de seu Chico ferver em paz.
Além do mais, seu Chico tinha com Walter Alfaiate uma coisa em comum, ao menos para aqueles que o conheciam além de um mero "bom dia": era um homem muito elegante por dentro, embora por fora andasse na rua calçando havianas surradas e vestindo calças pega-pato. Puro disfarce: o estilo estava lá, pronto a brilhar aos olhos de quem tivesse capacidade de enxergar. E Walter Alfaiate, meu caro, tem um nome que sozinho já denota elegância.
Era pra falar de Alfaiate, mas acabei esbarrando involuntariamente em Chico Torres - e isso há de ser algo de bom neste momento em que a vida da gente, por aqui, começa aos poucos a entrar de novo nos eixos. Mas até nisso o samba "Olha aí", um dos que imortalizaram Walter Alfaiate, ajuda na construção de uma idéia coerente que costure a emergência da postagem. Veja só o que diz a letra da música que ouço na cabeça enquanto escrevo essa conversa aqui:
"Apos a batucada pela rua / Quarta-feira a vida continua".
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