terça-feira, 22 de junho de 2010

Dunga X Globo


O melhor da Copa, até agora, tem sido esta mais do que oportuna briga entre Dunga, meu novo ídolo, e a Rede Globo. A cultura digital está mostrando que nunca houve uma Copa como esta, em se tratando de cobertura da imprensa. Dentre os milhares de textos à disposição de quem quiser se aprofundar no assunto (recomendamos, pra começar, o blogue "Vi o Mundo" do Luiz Carlos Azenha, link ao lado) o Sopão destaca e transcreve, abaixo, postagem do Balaio do Ricardo Kotscho:

Dunga vira a Geni, trégua para os políticos

De volta ao frio e à chuva da minha terrinha paulistana, depois de quase dois meses viajando dentro e fora do país, dou uma olhada geral na imprensa e descubro que algo mudou.

Nos últimos dias, o alvo predileto da imprensa passou a ser o Dunga, que virou a nossa nova Geni. Jogam tantas pedras nele que os políticos, o presidente e o governo ganharam uma trégua, como eu já previa aqui antes da Copa do Mundo começar.

O mais curioso da história é que a seleção brasileira, com duas vitórias em dois jogos, foi a primeira a se classificar para a próxima fase do Mundial, não há nenhuma crise na equipe e continuamos sendo um dos favoritos para o título.

Se não está encantando as platéias com um maravilhoso futebol, pelo menos o time de Dunga vai dando conta do recado numa Copa muito equilibrada em que até agora não apareceu nenhum bicho papão.

O maior problema do técnico da seleção não está dentro, mas fora do campo, no seu eterno embate com os coleguinhas da imprensa esportiva. A coisa desandou de vez quando ele comprou uma briga feia com a TV Globo no domingo à noite, após a vitória contra a Costa do Marfim, ao proibir entrevistas exclusivas de jogadores no “Fantástico”.

Já estava tudo acertado com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, mas o marrento Dunga bateu o pé e não liberou ninguém. Ao perceber o que estava acontecendo nos bastidores durante a entrevista coletiva, após o jogo, soltou os cachorros em cima de um dos repórteres da emissora, foi tirar satisfações com outro, dinamitou as pontes e, na mesma noite, o bafafá acabou ganhando mais destaque do que o próprio jogo.

Lembrei-me do que aconteceu comigo, em 2002, logo após o anúncio da vitória de Lula nas eleições presidenciais. Como assessor de imprensa, tinha combinado uma coletiva do candidato eleito num hotel, mas, sem eu saber, o comando da campanha já acertara com a Globo para que ele desse, antes, uma entrevista exclusiva, ao vivo, para o “Fantástico”.

Claro que, nos dias seguintes, quem virou a Geni da imprensa fui eu, obrigado a ouvir desaforos de todos os outros jornalistas que estavam no hotel esperando a coletiva.

Enquanto Serra e Dilma murcham no noticiário, com sabatinas, entrevistas e eventos sem nenhuma repercussão, Dunga virou assunto de todas as manchetes, matérias, colunas, blogs, até de quem sempre achou o futebol um assunto menor, coisa de ignorantes e fanáticos. De uma hora para outra, ele tomou o lugar de Lula como inimigo número um da imprensa livre.

Há, de fato, algo em comum entre os dois polêmicos personagens: mais do que o resultado do trabalho deles, o que se contesta é o seu modo de lidar com a própria imprensa, por não lhe dar a devida importância e a atenção que a instituição julga merecedora.

Não que eles não mereçam críticas, como qualquer figura pública, muito ao contrário, mas o espírito de manada do linchamento dá a impressão de que virou uma gincana para ver quem joga mais pedras no alvo do momento.

E se Dunga perder a próxima partida, o que pode acontecer? Ricardo Teixeira vai defender o seu treinador ou jogá-lo às feras? Pelo retrospecto, eu não tenho muitas dúvidas. Façam suas apostas, senhoras e senhores.

Nenhum comentário: