sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Droga e misticismo, segundo Frei Betto


O Sopão reproduz abaixo trechos de artigo que estabelece uma bem pouco registrada conexão entre consumo de drogas e impulso místico. O autor do artigo e da conexão é Frei Betto e a íntegra está publicada no Correio Braziliense desta sexta-feira. O artigo começa por discutir as propostas de descriminalização, mas avança decidido no rumo do questionamento sobre as causas do consumo, para Frei Betto um elemento muito mais decisivo para acabar com o problema do que a pura e simples legalização. Segue o trecho:


DO FUNDO DO POÇO


"Sou de uma geração que, na década de 1960, tinha 20 anos. Geração que injetava utopia na veia e, portanto, não se ligava em drogas. Penso que quanto mais utopia, menos drogas. O que não é possível é viver sem sonho. Quem não sonha em mudar a realidade, anseia por modificar ao menos seu próprio estado de consciência diante da ralidade que lhe parece pesada e absurda.

Do fundo do poço, todo drogado clama por transceder a realidade e a normalidade nas quais se encontra. Todo drogado é um místico em potencial. Todo drogado busca o que a sabedoria das mais antigas filosofias e religiões tanto apregoa (sem que possa ser escutada nessa sociedade de hedonismo consumista): a felicidade é um estado de espírito, e reside no sendido que se imprime à própria vida. O viciado é tão consciente de que a felicidade se enraíza na mudança do estado de consciência que, não a alcançando pela via do absoluto, se envereda pela do absurdo. Ele sabe que sua felicidade, ainda que momentânea, depende de algo que altere a química do cérebro. Por isso, troca tudo por esse momento de 'nirvana', ainda que infrinja a lei e corra risco de morte."

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