segunda-feira, 15 de março de 2010

Acorda, Samarone!

Jogo rápido pra gente não perder a conexão: e Cuba, hein? E Lula, hein? E Samarone, rapaz? Pois é, nos últimos dias, nos altos e baixos de quem está por cima e quem foi lá pra baixo, a gangorra virou contra Lula e a favor de Samarone Lima, o autor do "Viagem ao Crepúsculo", que comentei aqui já lá se vão uns tantos metros de postagens página abaixo.

Ou bem me engano, ou acontece o seguinte: o novo estrelado das mazelas cubanas nas páginas dos jornais pátrios, esse acesso de humanidade que acomete as grandes famílias dos jornalões brasileiros como se fosse a incômoda coceira da decência, teve efeitos previsíveis por um lado e inesperados por outro. O previsível, embora a gente não possa falar de algo mensurável neste caso, é o último tropeço de Lula, essa boca falante que parece nada ter feito por este mesmíssimo país - atenção que me refiro ao Brasil e não a Cuba. Lula, está comprovado pelos comentários mais recentes sobre Cuba (e não sobre o Brasil, ao menos isso), é aquilo mesmo que a gente pensava: ótimo quando faz alguma coisa, péssimo quanto fala. Ás vezes, é verdade, embaralha, e ele comente algum acerto verbal, ainda que usando termos escatológico-populares, como aquela história de "tirar o povo da merda". Mas deve ser a exceção que confirma a merda, digo, a regra.

No fim das contas, tirada a prova dos nove, deve ser "menas" ruim o fato de que o que ele faz - sua política, sua visão de governo, sua intervenção como presidente da República - ter mais efeito prático do que o seu verbo, digo, a sua língua. Menos mal. Porque, em passado bem próximo, já tivemos exatamente o oposto no mesmíssimo cargo eletivo - aquele tipo bem falante, de concordância acima de qualquer deslize, cuja "práxis" (é assim que se diz, povo?), infelizmente, não esteve à altura do rigoroso e elegante estilo verbal.

Bom, falta falar do imprevisível. Pois o improvável é o livro de Samarone, uma pequena edição de uma editora regional de ótimas pérolas discretas, de repente ter se tornado uma publicação vital, procuradíssima, indispensável. Não sei mesmo como ainda não foi descoberta pelos resenhistas probos da "Veja" e similares. Samarone e seu "Viagem ao Crepúsculo", antes quase marginais do mercado editorial, bombaram, entraram para o índex ao contrário da grande mídia brasileira, chegando até mesmo ao palco da Globo News, aquele de reputação ilibadíssima, onde paira sobre nossas ignorantes cabeças um William Wack iluminado pelos deuses do Jardim Botânico. Aproveita, Samarone, só não deixe que eles se aproveitem de você. Embora, aparentemente, isso já esteja acontecendo.

Reafirmo o que disse metros de postagens abaixo sobre o livro: é vivo, sincero e, o que é mais importante, desarmado. Mas sua grande vantagem, que é justamente o fato de narrar o que acontece no dia-a-dia da ilha da maneira mais honesta possível, sem recorrer ao contexto histórico que - embora válido - poderia turvar sua abordagem tão direta da realidade cubana, está sendo usada pela mídia convencional, pelos jornalistas padronizados que estão por aí, como um instrumento que anula o depoimento contido no próprio livro. E, é pena, parece que o autor está deixando isso acontecer.

Acorda, Samarone: a Cuba de Fidel quase sempre esteve lá, mas nem sempre Lula esteve aí. E a conexão, em ano eleitoral, muda a perspectiva com que seu belo livro é abordado, destacado, agitado e vendido à multidão. Eu ia dizer multidão ignorante, mas isso, pelo menos isso, está mudando. Com a ajuda de pessoas como você mesmo. E não com o auxílio desses últimos que andam brandindo seu livro sem revelar os verdadeiros motivos.

2 comentários:

Inácio França disse...

Tião,

acabo de copiar e mandar para o Sama.

Compartilho sua preocupação.

Samarone Lima disse...

Tião, obrigado pelas observações.
Informo que vamos para a segunda reimpressão.
Samarone.