O escândalo das propinas que estourou no Distrito Federal teve um efeito devastador sobre o Natal de Brasília. Sim, meu amigo leitor que mora além do quadrilátero local: ao contrário do que você possa imaginar, temos sim Natal em Brasília. Ano passado, a cidade ficou uma belezura, com uma nova decoração, vila de Papai Noel no gramadão da Esplanada, cenários vivos com Maria, José e o Menino Jesus, e uma portentosa e impressionante árvore de Natal gigante que projetava desenhos móveis à medida em que você a observava. Dá uma saudade, mesmo que a gente se pegue imaginando se alguém levou algum na contratação de tanto coisa bonita e singela, estragando o quadro de lembrança tão natalina. Mas, como disse, roubos à parte, dá saudades, porque este ano, faltando praticamente duas míseras semanas para o 25 de dezembro, a árvore ainda não foi acesa - sequer ficou pronta. A gente passa de carro na Esplanada - porque na Esplanada ninguém anda a pé para ver os detalhes, ainda bem - e vê aquele esqueleto de árvore semidespido, os operários ainda começando a cobrir as vergonhas do símbolo da festa cristã. Uma nudez vergonhosa de ferros e fios, como um governo corrupto pego em flagrante.
Mas temos uma compensação. Se o Natal já foi perdido, e não há o menor clima para festa de reveillon na Esplanada, resta a expectativa para o carnaval. E aí a história é outra: clima total. Graças aos penetones do Arruda, à meia do Prudente e à cueca daquele dono de jornal picareta, Brasília deve ter um carnaval supimpa. Duvida? Pois acorde, que já começou. Sexta-feira à noite, estou chegando ali em frente ao Conjunto Nacional, no coração da cidade, quando ouço um ruge-ruge convidativo daqueles que a gente só encontra mesmo nas boas e animadas cidades nordestinas. Parecia um bloco de rua antecipando o carnaval e, de certa maneira, era. Mas era, de fato e de direito, mais um ato de protesto do movimento "Fora, Arruda", com uma rapaziada animada como os foliões olindenses. Pena que, olhando bem, a gente visse aqui e ali alguém com cara de quem votou no homem e se arrependeu - mas nem por isso vai deixar de participar da festa da democracia, não é mesmo?
Um comentário:
E posso te contar uma: eu trabalho com o principal compositor do Pacotão e o cara é rorizista roxo. Em bloco oficial, tá difícil desse clima pegar.
(eu tava no conjunto na hora do sambão por lá)
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