Acabo de assistir, no Jornal Nacional, ao primeiro evento da campanha eleitoral presidencial de 2010. Evento não programado como tal, mas de consequências efetivas. A primeira pecinha do quebra-cabeças que conta colocado no lugar. Foi uma reportagem de não mais de três minutos, com entrevistas dos três principais candidatos apresentados até o momento - Dilma, Serra e Marina - em que eles expõem seus pontos de vista sobre o mesmo assunto. E, que ironia: o primeiro ato de campanha que conta -porque transmitido pelo principal telejornal noturno da tevê brasileira, com audiência e alcance no país inteiro - se deu não numa praça em São Paulo, nem numa avenida no Rio, tampouco numa praia no Recife. Foi em Copenhague, capital da Dinamarca onde, você já está cansado de saber, acontece a conferência mundial sobre mudança climática.
E o primeiro tema sobre o qual os principais candidatos a presidente da República tiveram que responder - e externar suas posições numa reportagem do telejornal mais visto, na mesma edição - não foi a estabilidade econômica, a violência urbana, o socorro à educação ou qualquer outro desses brasileiríssimos assuntos. Não: foi a situação do clima no planeta. E particularmente, o que gerou respostas diferentes já que ecologia é um ótimo tema para render declarações de consenso, foi a defesa ou não da participação brasileira num fundo global contra os efeitos do aquecimento. Ou pelo menos foi o que eu consegui abstrair da reportagem na tevê, algo não muito diferente do que acontece com a média dos telespectadores distraídos, segundo dizem os próprios jornalistas que editam este mesmo jornal.
Então fica assim: 2010 está aí, na boca do calendário, quando somos surpreendidos pela primeira e rápida prévia de um provável grande debate de candidatos, daqueles que param o país. Vemos, pela primeira vez, Dilma, Serra e Marina divergindo sobre a participação brasileira no fundo anti-aquecimento. Dilma disse que o Brasil não deveria participar desse financiamento, só os ricos; Serra e Marina, ao contrário, defenderam a doação dos tais bilhões de dólares. Quer dizer, Dilma bancou a antipática-realista, mas em compensação não fez a pose de demagogo-certinho e convertido que mostrou Serra. E Marina, bem, Marina foi a única a ficar à vontade no papel de candidata-fetiche dos abastados que têm mais respeito pelo meio ambiente do que pelos empregados domésticos.
Enfim, a reportagem, o tema, o encontro do candidatos coincidentemente tão longe do país, a divergência entre eles, a postura de cada um diante do fundo em questão já são um primeiro bom teste de honestidade intelectual e sinceridade administrativa para quem está indeciso. Para quem perdeu, a reportagem logo logo deverá estar no Globo Media Center no portal do grupo Globo na internet. Basta ver (ou rever) para examinar o ponto de partida dos candidatos. E lamentar que tal encontro não tenha se dado no Brasil, de preferência no centro de uma de nossas conflagradas capitais, mas num evento que já virou moda tanto quanto vestir a camisa do Greepeace.
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