Traficantes e bopes, por favor, suspensam o tiroteio por um segundo. É só um segundinho de dois, três parágrafos. Ninguém vai morrer por isso. Verdade que, se pousar uma mosca, é capaz de cair mais um helicóptero - mas, pra cima com a viga, moçada, o show tem que continuar. Aposto uma tropa de choque interinha, com um pacote de dez granadas de brinde, que todo mundo lembra da última declaração bombástica de Luis Inácio, aquela segundo a qual a definição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 se deu porque "a gente pode". Basta querer. Literalmente pode haver uma bala, digo, uma letra perdida ou palavra fora da ordem. Mas o sentido foi esse mesmo: vai ser no Rio porque agora "a gente pode".
Todo mundo - quer dizer, os latifundiários de centímetros nos jornalões pátrios - devem ter achado brega, pra não dizer chulo, como ademais consideram tudo o que vem do ex-sapo barbudo. Não sei se chegaram a afirmar, em palavras peremptórias como costumam ser seus artigos-manifestos para a posteridade e também para o gáudio dos próprios patrões que ninguém de ferro. Enfim, não sei - mas bem que poderiam. Mais uma do "cara", que não se emenda como ocorre a todo zé-povinho que não se preza.
Pois eu aqui no meu canto de onde espiono - muito bem protegido, atrás de barricadas inpenetráveis ao poder de penetração das palavras midiáticas - o grande debate nacional onde não cabe mais do que uma opinião (a de sempre), arrisco lembrar: por volta de 1992, naqueles tempos da tal "era Color", onde todo mundo se orgulhava de detestar ser brasileiro - sentimento que ainda resiste, quando mais elevada é a condição sócio-cultural do indigitado nativo - saiu-se o nosso sempre bravo Caetano Veloso com setença semelhante. Era assim: todo mundo achava que o país não tinha mais jeito. Eu, você, sua mãe (com todo respeito), seu pai, sua namorada, sua amante, seu patrão, seus empregados, todos, todos, todos. Talvez os alagoanos, e apenas os alagoanos, pensassem diferente - mas é coisa pra se investigar e de difícil comprovação. E sai-se Caetano, numa enquete promovida pela Veja ou IstoÉ-Senhor, com a frase: "O Brasil vai dar certo porque eu quero". O forte era o "porque eu quero", já que sobre a primeira parte da setença pairavam dúvidas seculares.
Agora peguem os restos rasgados das revistas semanais de antigamente e tentem sobrepor a frase caduca de Caetano sobre os jornais com a recente declaração de Luis Inácio. Ajuste bem, enquadre, ajeite e veja se, afinal, não é a mesma. "Porque a gente pode" é a forma de dizer, em 2009, o que em 1992 se dizia "porque eu quero". Pena que Caetano não venha à beira do palco para discorrer, como sempre faz com notável competência quando precisa e quer, sobre as qualidades lulísticas de sua fala pretérita. O compositor ganharia uma polêmica a mais - o que não é pouco e, quando as coisas ficam muito calmas, sempre cai bem. O presidente talvez parecesse menos deslumbrado do que quer a vasta camada da população que não engole alguém com cara de povo no palácio brasiliense do poder - ainda que penteadinho pelo marketing e maquiado pelos acordos dos quais dificilmente se escapa.
Um comentário:
só pra dizer que passei por aqui antes do senhor avisar que tinha post novo no sopão...
beijins.
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