O Partido Comunista Brasileiro, o velho "partidão", tinha adeptos seus infiltrados na Força Aérea Brasileira dispostos a bombardear, em 31 de março de 1964, a brigada militar comandada pelo general Mourão que descia de Minas em direção ao Rio de Janeiro para o golpe sem sangue que derrubou o governo constitucional de Jango. Mas Luiz Carlos Prestes disse não. Prestes, por sinal, era um brilhante militar mas um péssimo político. E a luta armada que marcou a atuação de grande parte da esquerda política brasileira quando a ditatura militar cortou praticamente todas as formas de atuação política no país foi um erro, sim - mas foi digna e, de alguma maneira, engrandece a trajetória dessa mesma esquerda perplexa e perdida em momento tão difícil da história da (falta de) democracia no Brasil.
Essas opiniões não são minhas - embora eu concorde com grande parte delas. As informações, claro, também não. Quem diz tudo isso é o historiador Jacob Gorender, autor de um referencial quando se trata da recuperação do que aconteceu nos anos escuros da noite ditatorial que se abateu sobre o país por longos vinte anos - o livro "Combate nas Trevas". Pois bem: Gorender, antes de ser historiador, foi um militante do velho PCB e é com a vasta experiência e a ampla reflexão de quem passou por essas duas condições que ele avalia os erros e acertos da esquerda brasileira na história do Brasil. O testemunho, veemente e instigante, está no documentário "Jacob Gorender - A Esquerda Revelada", realizado pela TV Câmara, com direção da jornalista Gloria Varela, em exibição neste canal legislativo de televisão.
Você não precisa ter antena parabólica ou tv a cabo para assistir ao doc sobre Gorender na TV Câmara. O programa está disponível, em boa definição, na página da tevê na internet (http://www.tv.camara.gov.br/). Além de assistir a essa reflexão lúcida e ao mesmo tempo apaixonada sobre o envolvimento de um homem com causas que efetivamente fazem um país, ainda que passíveis de enganos e desacertos, você ainda poderá baixar o material para o seu próprio computador - e até copiar e usar em exibições para outros grupos de pessoas, nas escolas, onde quiser. Recentemente, a gente assiste a uma espécie de cínica reavaliação sobre a atuação da esquerda armada no Brasil da ditadura, com uma condenação peremptória, apressada e interesseira que não ajuda nem um pouquinho a levar às novas gerações a compreensão preventiva sobre o que aconteceu naquela longa noite. O documentário da TV Câmara ajuda a combater esse tipo de precipitação desonesta - e também a manter de cabeça erguida a consciência de quem não confunde história com política partidária imediatista, como vem acontecendo tão frequentemente.
4 comentários:
Tiao, querido!
Como ve, ja estou experimentando a sua "sopa".
Olhe, ja vi fotos das criancas. Sao tao lindas, Tiao! Meus parabens!
Tambem vi fotos suas e da Rejane.
Gostaria muito de reencontrar voces quando eu for ai.
Mas ate la, continuemos as nossas visitas virtuais que sao muito boas tambem.
Beijos para todos.
Gorender merecde todo o nosso respeito. Prestes, nem sempre. E o seu texto é bastante bom. Um abraço.
Valeu pela dica.Concordo com Moacyr Cirne.
Valeu pela dica.
No mais, a última coisa que podemos atribuir à luta armada promovida pela esquerda nesse período é uma finalidade democrática. Sem cinismo, por favor.Tratava-se de substituir uma ditadura por outra, inúmeras vezes mais dura e brutal - menos biodegradável, para usar uma expressão de Roberto Campos (a ditadura cubana está aí para não me desmentir, certo?).
O minimanual do Marighella, documento-chave para entender o que esses belos democratas tinham na cabeça é, sim, coisa de envergonhar qualquer militante de esquerda. E de fazer vomitar muito hóspede de presídio.
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