Dizer que Michael Mann passou um espanador novinho em folha no gênero filme-de-gângster ao realizar este "Inimigos Públicos", em cartaz nos cinemas, é pouco. Não dá conta: o que o homem fez, além de espanar o velho móvel de antiquário, foi encerar bem as superfícies e lustrar com força a antiga fórmica deste tipo de cinema, com aquele cuidado extra de deixar as quinas tão limpas que parecem lâminas de facas afiadas que cortam como folha de papel ofício em mãos incautas. E não é pouco a pretensão de atualizar um gênero como este: uma coisa é revigorar os filmes de heróis dos quadrinhos, com mais uma leva de Batmans engraxada com uma nova mão de tinta de sombras agora de natureza psicológica; outra bem diferente é retomar algo que já rendeu obras primas absolutas como a série "O Poderoso Chefão" e "Era uma vez na América", de Sérgio Leone.
Mas Michael Mann não decepciona. Ele é o cara que pratica tanto o cinema plástico quanto a tensão dramática das cordas audiovisuais mais esticadas. O resultado é mesmo uma retomada do gênero filme-de-gângster com elegância máxima, violência quase tátil e tensão no limite da responsabilidade. A sequência do assalto principal tem, sim, um quê de deja vu, chegando até a lembrar o nosso cinema brazuca de "O que é isso, companheiro?", com o bandido subindo no balcão, fuzil agarrado e apontado para o ar, aquela coisa de ninguém-se-mexa com música grandiloquente ao fundo. Mas outra sequência que vem depois - a do cerco ao bar na floresta onde o gânsgter se esconde, seguida pelo tiroteio que faz do quarto uma peneira - tem um vigor técnico que só o cinema atual consegue produzir, com aquela impressão de que as balas ilusórias estão espetando e arrancando buracos também nas paredes da sala de exibição.
Claro que nem é por isso que o gênero renasce, novinho ou ao menos recauchutado. É mais pela mistura cínica de glamour e miséria, com um reforço contemporâneo para o lado mais sombrio da fusão, com que Michael Mann expõe o way of life do gângster da Chicago dos anos 30. A voz de Billie Holiday se insinua entre as imagens, e ninguém melhor do que ela para falar sobre esse pêndulo que define este tipo marcante na cinematografia norte-americana, tanto quanto o cowboy do velho oeste e o detetive dos esfumaçados anos 50. Billie Holiday, você sabe, é tanto um canto cool quanto uma poça de sangue morno, uma voz que evoca ao mesmo tempo o luar e a sarjeta. O registro romântico foi reforçado depois que a atriz Marion Cottilard levou o Oscar pelo desempenho em "Piaf". Coisa do marketing, mas como a matemática da dramaturgia não ignora adições e subtrações, o resultado foi que a bela e expressiva atriz quase detona o protagonista e leva o filme pra casa. A última cena que o diga, com aquela situação e aquele diálogo, um ponto final capaz de suspender o espectador e retardar sua saída da sala escura, pelo menos até ele se recompor.
"Bye bye, Blackbird", diz o texto. É verdade: Brian de Palma também era acusado de ser estiloso e maneirista, mas ele não terminava um filme com essa pequena oração profana que Michael Mann - o homem por trás de "O Informante", "Ali" e "Efeito Colateral" - nos dá.
Mas Michael Mann não decepciona. Ele é o cara que pratica tanto o cinema plástico quanto a tensão dramática das cordas audiovisuais mais esticadas. O resultado é mesmo uma retomada do gênero filme-de-gângster com elegância máxima, violência quase tátil e tensão no limite da responsabilidade. A sequência do assalto principal tem, sim, um quê de deja vu, chegando até a lembrar o nosso cinema brazuca de "O que é isso, companheiro?", com o bandido subindo no balcão, fuzil agarrado e apontado para o ar, aquela coisa de ninguém-se-mexa com música grandiloquente ao fundo. Mas outra sequência que vem depois - a do cerco ao bar na floresta onde o gânsgter se esconde, seguida pelo tiroteio que faz do quarto uma peneira - tem um vigor técnico que só o cinema atual consegue produzir, com aquela impressão de que as balas ilusórias estão espetando e arrancando buracos também nas paredes da sala de exibição.
Claro que nem é por isso que o gênero renasce, novinho ou ao menos recauchutado. É mais pela mistura cínica de glamour e miséria, com um reforço contemporâneo para o lado mais sombrio da fusão, com que Michael Mann expõe o way of life do gângster da Chicago dos anos 30. A voz de Billie Holiday se insinua entre as imagens, e ninguém melhor do que ela para falar sobre esse pêndulo que define este tipo marcante na cinematografia norte-americana, tanto quanto o cowboy do velho oeste e o detetive dos esfumaçados anos 50. Billie Holiday, você sabe, é tanto um canto cool quanto uma poça de sangue morno, uma voz que evoca ao mesmo tempo o luar e a sarjeta. O registro romântico foi reforçado depois que a atriz Marion Cottilard levou o Oscar pelo desempenho em "Piaf". Coisa do marketing, mas como a matemática da dramaturgia não ignora adições e subtrações, o resultado foi que a bela e expressiva atriz quase detona o protagonista e leva o filme pra casa. A última cena que o diga, com aquela situação e aquele diálogo, um ponto final capaz de suspender o espectador e retardar sua saída da sala escura, pelo menos até ele se recompor.
"Bye bye, Blackbird", diz o texto. É verdade: Brian de Palma também era acusado de ser estiloso e maneirista, mas ele não terminava um filme com essa pequena oração profana que Michael Mann - o homem por trás de "O Informante", "Ali" e "Efeito Colateral" - nos dá.
3 comentários:
adorei o filme. tudo: atores, trilha sonora, direção, o final. mas fica aqui o meu protesto: você nem falou de johnny depp...
beijins.
e ainda por cima tirou a foto em que ele aparecia sozinho. acho que isso é implicância com o rapaz...
um filme nao depende somente de seu diretor, mas tb de seus atores... e o Depp é ótimo no que faz!
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