Outro dia os sites de notícia estamparam em manchete que a jornalista Ana Paula Padrão vai voltar à televisão, ancorando o telejornal noturno da Rede Record. A justificativa que a jornalista deu para explicar sua volta é que é o diabo. Ela disse que retorna ao vídeo porque o mercado a chamou de volta. Não foram as tendências do noticiário, não foi a necessidade do cidadão de contar com uma informação televisiva diferenciada na rede que concorre com a Globo, não foi a paixão profissional que leva o detentor de um ofício a se ver impedido de viver sem exercer esse desígnio. Foi o mercado.
Nada mais sintomático da situação do jornalismo atual no país - esse mesmo jornalismo que um deputado coberto de lama tem o poder, lamentavelmente legítimo, de acusar. Se o que traz de volta ao ofício uma jornalista com Ana Paula Padrão é o chamado do mercado, então o produto desse jornalismo, metáfora assumida, é mais do que nunca uma mera mercadoria. É um jornalismo que serve a interesses privados - e não às demandas da sociedade, e sociedade aqui vista como algo mais do que uma classe média e alta ávida por consumir mais e mais. Uma sociedade que precisar incluir no seu conceito gente como os eleitores de Sérgio Moraes - aqueles mesmos que, como disse o deputado, estão, eles sim, se lixando para o que sai nos jornais. Ána Paula Padrão diria que esses não se interessam por notícia, não consomem idéias sofisticadas e, como tal, estão fora do mercado mesmo.
Nas reportagens sobre sua volta, a jornalista conta que sempre é abordada nas ruas e em restaurantes por gente que pede a sua volta. Gente simples, como garçons. O marido da jornalista é que teria interpretado essas abordagens como um chamado do mercado. É economista o marido da jornalista. Mantida ou reforçada a ordem das coisas no jornalismo de mercado, vamos seguir, agora com Ana Paula Padrão na Record, com o noticiário-mercadoria, a manchete-commoditie, a cidadania medida em taxas de consumo. Não será de se estranhar se, mais cedou ou mais tarde, já que estamos falando de mercado, se abater uma crise - como essa crise financeira mundial - sobre o jornalismo feito por profissionais surdos às mudanças e necessidades sociais e atentos ao menor silvo do deus mercado.
2 comentários:
Tião,
Muito oportuno esse seu texto. E partindo de quem é jornalista, torna a sua crítica à atitude de Ana Maria Padrão (de quem, aliás, gosto) mais digna de louvores. Um abraço.
Foi que nem Micarla aqui, que disse se candidatar a prefeita A PEDIDO DO POVO.
Acho bem estranho isso.
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