quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um sambinha pra descontrair


Como este blogue não tem mais nada a perder mesmo depois de se ver roeado por leitores marinistas, posso tranquilamente dar hoje uma - como é que se dizia mesmo? - dica cultural das menos refinadas segundo os critérios gerais da arquibancada. É isso: enquanto Marina não se decide entre Dilma e Serra - e sabe como ninguém ir embromando os dois lados, reconheça-se - eu tento fugir da ansiedade ouvindo... o grande Luia Ayrão, sambista da geração Silvio Santos na TV Colorado em preto e branco. Pode não parecer muito avançado, mas nesta agonia elietoral que estamos vivendo não se pode fazer muita questão de fineza não.

Comprei a bolachinha reeditada em CD noites dessas, num passeio no Conjunto Nacional, e foi botar pra tocar e lembrar de muita coisa que ouvia no rádio AM quando era criança. Um tipo de música que me lembrou das provas da quinta série, este tipo de coisa. É uma coletânea que só não tem mesmo o clássico do samba-garapa-de-açúcar que foi "Aquele lençinho" - porque esta música, acho eu, só foi gravada num disco posterior à edição em vinil, claro, desta seleção. O disco abre com um outro clássico, "Porta aberta", bela mistura de dor de cotovelo com saudação à Portela. Você pode até me censurar, dizer que Luiz Ayrão não é Paulinho da Viola, mas pra mim a diferença entre os dois está muito mais no registro sentimental da forma como os dois entraram na minha vida de ouvinte do que no quesito puramente estético - embora a estética também conte, lógico.

Sim, entre os dois só Paulinho é visto como o músico sofisticado que de fato é, tem a aprovação superior de quem sempre morou no asfalto. Mas Ayrão tem um quê de Seu Jorge, uma camada anterior de alma do povão que também me interessa e com a qual também me identifico. Nessas horas, me lembro de Titina, que tem veneração por outra dessas figuras do samba povão dos anos 70, Leci Brandão. A mesma Leci que, por um desses artifícios da releitura do que já foi menosprezado por quem dita a moda musical no país, é autora de uma música que vem virando um negócio muito cultuado na voz de Mariana Aydar, uma das estrelas do novo samba da Lapa carioca. Confira isso clicando aqui e ouvindo a história de "Zé do Caroço" - uma composição que, por tabela, lembra o negão Melodia, numa junção final que faz a música se afirmar somente pelo fato de ser música e não por ser de gosto superior ou inferior.

Pra encerrar, confira você mesmo o sambão de Luiz Ayrão vendo dois vídeos que arranjei lá no YouTube. O primeiro (clique aqui), mostra o cantor já mais recentemente, cantando "Porta Aberta' e outra pérola do seu repertório, a provocativa e divertida "Bola dividida". O segundo vídeo (clique aqui), é uma atualização disso tudo, com Diogo Nogueira, filho do magnífico João Nogueira, reinterpretando esta mesma "Bola dividida". Bom divertimento.

* P.S: a respeito da série de postagens sobre a eleição, fica pra amanhã uma correção num erro gravíssimo que cometi num dos últimos textos apresentados aqui no Sopão. Coisa séria, de dividir a família. Aguardem.

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