segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Fé política e desconfiança prática


O Datafolha estava certo, é preciso reconhecer. O resultado do primeiro turno da eleição mostra que seus números foram os que mais bateram com a realidade das urnas. Então por que erramos tanto ao rejeitar seus prognósticos? Foi porque também não estávamos de todo errados. O Datafolha é o instituto de pesquisas da Folha de S. Paulo, um jornal nitidamente, vergonhosamente engajado na campanha de José Serra – e sendo assim, nada mais natural que a gente desconfiasse o tempo todo do Datafolha. Some-se a isso a matemática de sobe e desce dos candidatos que o instituto exibiu antes de chegar aos seus números finais, afinal confirmados. Tamanha ciranda sempre sugeriu manipulação. E quando os demais institutos lhe contrariavam frontalmente os números, sugerindo vitória de Dilma logo no primeiro turno, tínhamos mais um fatos para desconfiar (uma observação: só na véspera da eleição o Ibope alinhou deus números com os do Datafolha, apostando na possibilidade de segundo turno).

De maneira que quem fica em questão agora é o Sensus e o Vox Populi, que precisam realmente aferir melhor suas sondagens. Os números destes eram muito mais favoráveis a Dilma do que as urnas revelaram. Hipóteses: o avanço de última hora da onda verde de Marina não tinha como ser detectado uma semana antes da eleição; a aprovação de Lula influiu mais do que deveria nos especialistas desses outros dois institutos e fez eles lerem de maneira equivocada a votação em Dilma. O desapontamento nunca é bom, nem pra mais nem pra menos. Se Dilma tivesse tido uma votação muito além do que já lhe davam Sensus e Vox Populi, também haveria algo de desmedido nas previsões. Como o Datafolha também já errou feio no passado – e o Ibope, é sempre bom lembrar, previu a derrota de Jaques Wagner na Bahia em 2006 quando ele venceu logo no primeiro turno – o que resta é a velha questão recorrente sobre a validade ou não das pesquisas e a possibilidade de erros e indução de voto. Pelo jeito, vamos continuar convivendo com ela. E, apesar do acerto, vamos continuar desconfiando do Datafolha – que, afinal, continua pertencendo àquele jornal partidário –, assim como do Sensus e do Vox Populi, por cometerem o erro oposto, de acreditar demais na vitória de Dilma. Só nos resta uma certa fé política e muita desconfiança, meu caro leitor.

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