quarta-feira, 19 de março de 2008

Para ler na Semana Santa (Entreblogues)




Um giro rápido pelos blogues amigos e descubro um mundo de informações, reflexões, debates e puro bate-papo a um clique do mouse. Esse Entreblogues especial é para recomendar aos amigos do Sopão outras refeições amigas. Vamos a elas:

1 - No "Luzes da Cidade", Francisco Sobreira vai de efeméride e relembra a Semana Santa de sua infância. Tempos de santos encobertos, música fúnebre no rádio e um certo horário em que a mãe do nosso amigo comunicava, enlutada, ao filho: "Está começando a agonia de Jesus". Sobreira ainda tira do seus baús um antigo debate por escrito em folhas em sépia, quando ele outro integrante do Cineclube Tirol discutiram o que havia de bom e de ruim no filme Boccaccio 70. E você ainda vai ler "As mangas", um miniconto que em pouquíssimas e seletivas frases resume a nostalgia de uma infância inteira na mente de um homem cansado pelo peso da meia idade.

2 - No "Estuário", Samarone também vai de Semana Santa, mas volta sua prosa para as paixões de Cristo de subúrbio, levantando o making off de uma encenação de escola pública em Olinda. Destaque para a súbita interdição do Cristo, um Jesus negro que impedido de subir ao palco por um ataque de epilepsia. Mas prontamente substituído por outro que precisou apenas remover a maquiagem do Diabo, seu personagem original.

3 - No "Acari do meu amor", Jesus - o de cá da Terra, que não é má pessoa mas também não é santo - exibe uma bela foto de Hugo Macedo. É o Gargalheiras sob sombras do nascente (ou do poente?), numa imagem à altura daquelas comentadas na postagem sobre o livro "Seridó - Paisagens de uma terra encantada". O parelhense Hugo também é craque nessa matéria. Para ler, recomendo duas postagens mais antigas, mas ainda disponíveis na página de abertura: uma em que Jesus recupera a epopéia da construção da Igreja Matriz de Acari e outra em que narra peripécias infantis no exercício de tocar o sino da construção religiosa.

4 - O "Balaio Vermelho" de Moacy - que há tempos assumiu o nome de "Balaio Porreta" - traz de presente para o leitor uma lista com o que há de melhor em ficção científica. São livros, contos e filmes com o filé do gênero, num levantamento que inclui Clarke, Brandbury e Kubrick, entre outros. E atenção, que Moacy está pras bandas do Seridó: quando volta, despeja sempre muita coisa boa na panela do Balaio. É esperar pra ver.

5 - Deixei por último, de propósito, o "Seqüências Parisienses", que se distingue dos demais citados aqui por ser um blogue de uma celebridade intelectual - uma figura de quem gosto muito pela qualidade dos textos e da visão do Brasil e do mundo mas que, enfim, não é um amigo próximo como os demais. "Seqüências" é o blogue do professor Luiz Felipe de Alencastro, nosso homem na Sorbonne.
E as três últimas postagens merecem a atenção de todos. Numa delas, ele conta que a imprensa brasileira comeu mosca na cobertura da visita de Condoleezza Rice à América Latina. Anota o professor que Condi, refletindo a consolidação de uma postura dos EUA, evitou explicitamente a passagem por Buenos Aires. E isso interfere no papel que o Brasil desempanha na Latinoamérica. Outra postagem é um comentário do próprio Alencastro sobre um artigo que ele escreveu sobre as Farcs para o jornal O Estado de S. Paulo". No artigo, também disponível por um link do blogue, Alencastro avalia que o recente conflito foi rapidamente abafado devido ao risco de estourarem conflitos de fronteira muito maiores, envolvendo quase todos os países da América do Sul, da Nicarágua ao Peru. Coisas antigas que a diplomacia mantém caladas como vulcões adormecidos, mas... E a derradeira postagem versa sobre o padre Antônio Vieira, Maurício de Nassau e o fato de essas duas figuras terem sido, na época deles, ardorosos defendores do tráfico de escravos. Diz Alencastro, com a autoridade acadêmica que detém: o verdadeiro desafio do historiador é explicar as razões dessa postura - e não tratá-la como um fato menor. Lembrei de você, Flávia Assaf.
UM ACRÉSCIMO: a bobeira permanente me fez esquecer de indicar aqui o texto em destaque no "Sempre algo a dizer", do doutor Lobão. Mas talvez não tenha sido tão involuntário assim: é que o homem roubou um dos assuntos que eu estava guardando para as próximas postagens. Não tenho como levar o imbróglio às barras dos tribunais porque, afinal, o assunto em questão é público: é a excelente indicação do livro "Preconceito Linguístico", de Carlos Bagno que, fiquei sabendo só agora lendo Lobão (ou sabia mas não tinha me dado conta) é professor aqui da UnB. Como disse Lobão lá e eu iria dizer aqui, é leitura para virar de cabeça pra baixo um punhado de conceitos que você aprendeu a cultivar como dogma a vida toda. Um ensaio à altura de outro também recomendado há pouco pelo Sopão - o "Eu não sou cachorro, não", de Paulo César de Araújo. Reparando bem, os dois seguem uma mesma tendência que passa a vir à tona na observação do país e suas transformações. Um na música, outro na língua portuguesa que, perdoe o chavão, nunca mais será a mesma depois da leitura - rápida e objetiva, pois que o livro é curto e eficiente - do ensaio de Carlos Bagno. O link pro Lobão está ali ao lado, tanto quanto os outros.

Os links, meus camaradas, estão todos aí ao lado. Aproveite o feriadão da Semana Santa e se esbalde nos parágrafos dos blogues amigos, que não querem ver sua mente parada num canal de tevê ou numa revista que mastiga sempre o mesmo e velho discurso. Bom feriado.

3 comentários:

Moacy Cirne disse...

Grato pela referência ao Balaio, meu caro. Enquanto isso, os nossos desencontros continuam na ordem do dia. Um abraço.

Francisco Sobreira disse...

Tião,
Também como o nosso amigo Moacy, agradeço a sua amável referência ao meu blogue. Agora, rapaz, fiquei de queixo no chão, quase recorro aos meus sais (como faziam as velhotas de antigamente), com a revelação de que o padre Vieira era a favor do tráfico de escravos. Onde o Alencastro foi desencavar isso? Um abraço.

Anônimo disse...

Pequena correção: na semana santa as rádios tocavam´música erudita, não música fúnebre.
Porque, naquelas priscas eras haviam ainda pessoas eruditas.
Hoje todos são infantis e fúnebres.