segunda-feira, 10 de março de 2008

Diário de férias - 4


A maratona prosseguiu com duas adaptações de livros para as telas. E as conclusões, ao final das duas exibições, soaram combinadas. Um foi "Desejo e reparação", a transposição para o cinema do livro de Ian McEwan. O outro foi "O caçador de pipas", história predestinada a acabar no cinema por ser, já no plano da escrita, quase um roteiro. A conclusão: "Desejo e reparação", o filme, me pareceu bem melhor do que "Reparação", o livro. Porque intensifica em imagens a tensão que o livro dilui em uma prosa que não diria barroca, mas morna, suada, pegajosa como o verão em que seu início se passa. O filme como que filtra isso, resseca tudo, condensa o resultado - e produz uma adaptação aquecida, onde respira, ansiosa, uma história muito melhor de ser vista do que de ser lida. "Reparação", o livro, já foi tema de extensa postagem aqui no Sopão. Basta pesquisar no marcador "Livros" que o leitor toma conhecimento.

Já "O caçador de pipas" faz o inverso - exatamente o inverso do que se deu na adaptação de "Reparação". O livro, um campeão de vendas por simplório, didático e algo reconfortante com uma boa história ancestral, foi ainda mais suavizado na versão cinematográfica. Fui atraído para ver o filme por um motivo semelhante ao que me levou ao livro. Num caso, o do livro, pelo sucesso mesmo - o fato de essa história estar sendo tão lida no mundo todo. No outro - o do cinema - por um trailer desses que ficam em exibição na internet. Não gosto de trailers e geralmente campanhas promocionais de filmes não me atraem. Mas neste caso, as imagens antecipadas me atiçaram a curiosidade. Vale a pena para quem leu "O caçador..." checar o resultado da adaptação. Mas o ganho que haverá será pela mera transposição das imagens - parece que foi você, leitor, quem dirigiu o filme, tal a semelhança entre o que a leitura inspirou e o filme materializou na tela. Claro que isso não é bom: o filme resulta muito preso ao livro, ainda que esse fosse quase um roteiro já decupado. Mas não deixa de ser um exercício de contemplação - e se contemplação não for um objeto do cinema eu me calo.

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