Foi assim com "The Killing Fields", o título original de "Os Gritos do Silêncio" (num caso raro em que o título nacional supera e muito o original). Lembro que esse foi um dos filmes a que assisti no antigo cinema Nordeste, em Natal, em 1985 ou 86 e de cuja exibição saí, naturalmente, tocado pela história do fotógrafo e assistente do correspondente do New York Times que a produção enfoca e destaca. Não é difícil que tenha acontecido o mesmo com você que me lê agora. E lembro também de, à noite, no Setor V do campus da UFRN, o saudoso professor Rogério Cadengue - um dos meus preferidos, ao lado de Augusto Carlos Viveiros, sendo que os dois situados em extremos ideológicos opostos - detonar o filme, alertando-nos para o objetivo manipulador da produção de criar uma imagem antipática dos países comunistas e da esquerda em geral.
Da perspectiva de hoje parece um troço esquisito, mas os tempos eram assim. Sim, o filme é meio melodramático, de estrutura fácil, espetaculoso, às vezes meloso mesmo, mas gosto dele até hoje, mesmo assim. Comprei até uma cópia em DVD a que assisto de vez em quando. E, sim, Rogério tinha razão em dizer do caráter propagandístico, algo que o filme em si também continha. Mas os dois - filme e professor - também estavam errados ao resumir tudo a essa disputa ideológica. A experiência humana recontada com este ou aquele estilo é muito mais forte. O fato é que a primeira morte de Dith Pran me comoveu, ideologias à parte - ou ideologias somadas e computadas, é muito mais justo reconhecer. E agora ele se foi pra valer, como Rogério também nos deixou uns anos atrás. É a mesma experiência humana que se reelabora, aqui ou onde quer que seja, com suas criaturas em busca de um mundo melhor.
(Na foto, publicada no site da FSP, o Dith Pran de verdade)
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