quinta-feira, 27 de março de 2008

Chávez, Abreu e Lula


Vi Hugo Chávez discursando na tevê, ao lado de Lula, para uma platéia de ministros e jornalista, lá em Recife. Ele reclamou da imprensa venezuelana - e da mundial também, que reproduz aquela sem constestações - pelo fato de noticiar que a visita dele ao Brasil não vai resultar em nenhum acordo efetivo em torno da refinaria a ser construída no município de Abreu e Lima, em Pernambuco. Chávez disse que a notícia está errada - e há acordos sendo assinados, sim, que garantem 40% de participação da PDVSA (a empresa de petróleo da Venezuela) na construção da refinaria. Falou também sobre a importância do próprio Abreu e Lima, vulto que dá nome à cidade da refinaria, e que batalhou ao lado de Simon Bolívar pela libertação da América Latina das mãos dos espanhóis. Dessa aparição de Chávez, extraio dois comentários pessoais para dividir com vocês (são pessoais mas paciência, que não há nada mais pessoal do que um blogue de internet):
1 - Eu nunca havia visto Chávez discursando sem edição, nunca o havia visto falando sem interrupções, cortes, comentários de jornalistas que supostamente trazudem para o "grande público" o que disse o fulano. Me dei conta disso. Caiu uma ficha e passei a observar com muita atenção: no pouco tempo que fiquei diante da tevê na transmissão ao vivo, vi um homem calmo dizendo coisas absolutamente procedentes, sem maiores bravatas ou arrotos de líder continental. Não vi um ditador e nem mesmo o "amostrado" que Chávez muitas vezes efetivamente é. Então é preciso que a gente tente ir um pouco mais na fonte, na imagem primária, usando de recursos como a NBR ou o Canal Telesur (que tem programas retransmitidos pela TV Câmara e pela TV Brasil, embora eu não saiba dizer os horários) para avaliar o cidadão pelo que ele realmente mostra ser. Não vi - estava de férias, meio desligado como um mutante retardatário - a famosa declaração de guerra de Chávez quando estourou o caso Uribe-Equador. Pode ser que ele tenha posto pra fora seu notório exibicionismo que tanto alimentam a imprensa - inclusive a brasileira. Mas pode ser que tenha ocorrido o exagero de costume. Vou tentar ver no YouTube. Mas, de qualquer maneira, vendo a transmissão ao vivo de hoje a partir de Recife, ganhei mais um motivo para desconfiar, sempre.

2 - Também fiquei envergonhado por saber tão pouco sobre Abreu e Lima, sentimento que devo dividir com imensa parcela de brasileiros - quem sabe até dos próprios pernambucanos, mas disso não posso reivindicar certeza. Abreu e Lima para mim foi, por muitos meses, o nome de uma cidade por onde passava o ônibus que me levava de Campina Grande a Recife, ano 1984, época em que eu cursava Comunicação na Unicap - Universidade Católica de Pernambuco. Um lugar tumultuado - já então cheio de kombis que faziam o papel mais tarde desempenhado pela vans ilegais, as mesmas que o prefeito João Paulo conseguiu tirar das ruas de Recife - pertinho de Paulista e que, afinal, acabou compondo com aquelas cercanias rodoviárias de Olinda, de onde se avistam morros e onde se sente cheiro de maré cheia , a paisagem de uma época. Morria muita gente em acidente de kombi em Abreu e Lima naqueles tempos. Mais Brasil, impossível.

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