Na foto, o confronto final de "O gângster": "sem balas, mano"
"O gangster" é tributário de uma tradição. Descende naturalmente dos Scorsese dos anos 80, do gênero policial-dramático-documental que alimentou até Sérgio Leone (lembrai-vos do grande "Era uma vez na América", agora disponível baratinho em cópias em DVD), da grande investigação em imagem e som feita por uma leva de cineastas americanos em torno de gangues-mil, fossem irlandesas, italianas ou de outras descendências - e nem preciso falar de um certo e poderoso chefão. É tributário inclusive do cinema eletrizado, urbano, violento e - sim, senhor - poético de seu próprio realizador, Ridley Scott.
Por tudo isso, "O gângster", o senhor ou a senhora há de dizer, não é nenhuma brastemp - e não merecia a falação toda que o antecedeu e o acompanhou. É, pode ser. Mas, para além de sua embalagam pop-rock-setentista, "O gângster" tem uma surpresa e tanto. Uma anti-surpresa, pra ser mais preciso.
Vai dizer que você não espera que o filme termine num confronto tipo "fim do mundo", uma saraivada duelada entre Denzel Washington e Russell Crowe - um enfrentamento terminal pontuado por balas-mil como o de "Fogo contra fogo", onde Robert de Niro e Al Pacino mediram suas estaturas em widescreen?
Pois isso é tudo o que não acontece no "Gângster" revisitado de Scott. O confronto aqui é, no máximo, verbal - mas sem gritos, que o fato consumado de uma quadrilha espatifada dispensa bravatas. E é só nessa discussão - um diálogo quase telepático a unir bandido e mocinho em torno de estratégias e artimanhas - que os protagonistas se medem, comparam-se, examinam-se enquanto o espectador conclui, ensimesmado: "O gângster" é o triunfo da antibossalidade. Duelo em que os resultados dependem mais da inteligência do que do tiroteio - mas não saiam da sala, que tiroteios o filme os tem, sim, a questão é outra.
Viva a antibossalidade do desfecho do "Gângster", que renova o gênero fugindo de suas armadilhas. Belo encerramento para a maratona do cinema "no cinema". Até a próxima.
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