Nas últimas postagens eu vinha tangenciando o assunto, tentando até fugir dele pelo peso excessivo que tem, procurando escapar mas sempre deixando vazar um pedaço dessa dor coletiva que nos assalta a todos. Há dias, assim como deve estar acontecendo com você que me lê agora, o caso da menina Isabella não sai da cabeça da gente. É assim: estou dirigindo o carro de volta pra casa, ocupado entre sinais fechados e motoristas agressivos, e a imagem do sorriso da menina estoura na minha mente, como se fora do nada. Estou em casa, lendo alguma coisa e - flash - lá está ela novamente. Estou no trabalho, ocupado com temas áridos das coisas do Legislativo e lá está ela novamente. Acho que tem sido assim com muita gente.
Com Rejane também tem acontecido o mesmo. No nosso caso particular, há uma série de coincidências que reforçam essa mistura de horror com pesar. Isabella, nas fotos que os jornais e revistas publicaram, lembra muito Cecília, apesar da diferença de idade - nossa filha vai fazer três anos e a menina que morreu em São Paulo iria completar seis. Mas a expressão é muito parecida, os olhinhos pretos e apertados também e principalmente o sorriso. É no sorriso que o meu choro contido se anuncia quando lembro da tragédia: aqueles dentinhos pequenos e separados são iguaizinhos aos de Cecília. Isabella despencou do sexto andar - nós também moranos no sexto andar. Desde que essa história começou, toda noite quando chego em casa e Cecília já está dormindo entro no escuro do quarto pisando leve para conferir como é que nossa menina está - se o sono é leve, se tem frio, se respira sem nariz entupido, essas coisas. Como Cecília tem sono pesado e dorme bem, eu não costumava fazer essas inspeções paternas noturnas. Pelo menos não com a freqüência com que passei a fazer depois que a sombra do caso de Isabella passou a nos rondar a todos.
Há poucos meses vivemos situação parecida: foi quando daquele acidente com o avião da TAM, que matou todos os passageiros e tripulantes no aeroporto paulistano. Na noite em que saíram as primeiras notícias de que alguma tragédia havia ocorrido em Congolhas - porque no início, quem acompanhou deve lembrar, não se sabia exatamente o que havia ocorrido - estávamos arrumando as malas para quatro dias de folga em Pirenópolis. Liguei a televisão ao acaso e havia umas entradas ao vivo no Jornal Nacional, coisa ainda muito confusa. A noite foi passando e fomos tomando conhecimento, aos poucos e apavorados, do real tamanho da tragédia. Mas só manhã seguinte, enquanto já providenciávamos para levar as malas à garagem, foi que soubemos da dimensão exata, da morte de todas as vítimas, da tentativa desesperada de frear o avião, do incêndio, do pavor completo. Pegamos a estrada para Pirenópolis meio calados, sem muita vontade conversar, com aquele drama ricocheteando na cabeça.
Na verdade agora está sendo bem pior - e eu não vou nem fazer comparações maiores entre um caso e outro, botando de um lado o número de vítimas e de outro o grau da crueldade. Esse comentário paterno aqui é só para dar vazão a uma conversa que não estava conseguindo deixar de fora aqui do Sopão - preferencialmente um espaço pessoal para a gente, eu e você que me lê, tornar a vida mais interessante, procurar graça onde se a gente baixar a guarda só vai enxergar desgraça e infortúnio. Só sei que não consigo, contra todas as evidências, admitir a possibilidade de um pai matar a filha daquela maneira - a não ser num caso de surto que mesmo a paranormalidade ainda será pouco para explicar. A sensação final que tenho é de que a menina Isabella - por sinal o mesmo nome da pré-adolescente aqui de Brasília que sumiu no bairro do Sudoeste e cujo corpo reapareceu dias depois, em outro caso trágico de difícil explicação - tornou-se assim como uma espécie de filha sentimental de todos nós, que temos ou não nossos próprios filhos. Somos todos agora uma espécie de órfão ao contrário da presença dela.
Se você é religioso, reze por Isabella. Peça que sua alma tenha amparo, consolo e carinho que qualquer criança merece. Se você é ateu, elabore sua dor da maneira que lhe for possível, mas de maneira que ela não se perca no vazio. Se você é agnóstico, aproveite para rever suas dúvidas, mas por um momento ponha seu ceticismo um degrau abaixo de sua humanidade. Só não vamos morrer junto com Isabella. Vamos fazer de sua triste história uma matéria especial de transcedência que nos faça mais do que meros mortais condenados a não ver a luz, seja qual for a forma como ela se apresenta.
2 comentários:
horror é essa história, sebá. triste, muito triste.
é triste saber q vivemos no meio de pessoas desse tipo,q tem a coragem de fazer isso com uma pessoa q nem tinha como s defender,é monstruoso saber q um pai,quer dizer isso nem deve ser chamado de pai,pq nem um animal é capaz de fazer isso com sua própria cria,mas vivemos num mundo ond tds estão fazendo de conta q isso é normal,pena,pq tenho 3 filhas e tenho muito medo d q elas terão q passar no futuro,e m envergonho d não existir lei p acabar com isso,o Brasil é muito pobre em relação a isso...
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