quinta-feira, 3 de abril de 2008
O barreiro
Se o Itans valia por um oceano, o barreiro era o pingo dele a que tínhamos direito. Na medida em que as estatísticas das chuvas passaram a compor uma linha cada vez mais descendente, essa pequena instituição da natureza do mundo rural foi sumindo do mapa. Tanto que a própria palavra - barreiro, que é bem auto-explicativa - também caiu em desuso. Alguém ainda sabe o que é um barreiro hoje em dia? Era uma pequena lagoa, geralmente situada no terreno dos fundos das casas dos sítios, em pés-de-serra ou de serrotes, com úma água bem barrenta, naquele tom amarelo-arenoso. Não chegava a ser um açude, não tinha estatura para tanto, mas devia ter sua utilidade. O que acabei de descrever, por sinal, é o barreiro que havia nos fundos da casa do sítio onde moravam meus avós maternos, na Timbaúba, em Parelhas. O barreiro - ao menos o que me ficou daquele barreiro em particular - era querido como se quer bem a uma pessoa da família. Quando se chegava ao sítio, corria-se logo para vê-lo, como se uma promessa de inverno farto estivesse contida na sua pouca e turva água.
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