segunda-feira, 21 de abril de 2008
Em trânsito
Estamos em Caldas Novas, a estância de águas termais em Goiás. Na estrada, a caminho daqui, numa rodovia nova por onde nunca havia passado antes, ia me lembrando dessa boa sensação que é a de estar em trânsito. Em movimento, com uma ligeira porção de desconhecido pela frente - o que torna a jornada ainda mais interessante. Lembrei da temporada que passei em Teresina, em 94, trabalhando numa campanha eleitoral, três meses fora de casa envolvido num projeto de trabalho diferente de tudo quanto havia feito antes. Lembrei do trajeto São Paulo-Sorocaba, outra cidade onde estive em igual temporada para igual finalidade. Não é que campanhas eleitorais sejam o máximo de uma carreira profissional: é o fato de se estar numa espécie de patamar à parte, suspenso da rotina, por um dado período (também não pode ser muito tempo, senão perde a graça e bate saudade). Isso muda referenciais, como ademais faz toda e qualquer viagem. Você sai do seu ritmo normal, pega atalhos que lhe fazem enxergar coisas que a vida comum de todo dia não deixa, enxerga determinadas cores no dia que o dia-a-dia turva com seu cinza prático. Lembrei muito de uma viagem que eu e Rejane fizemos, ainda sem os meninos, subindo de Brasília para a Bahia e de Vitória da Conquista em diante fomos descendo pela Costa do Cacau toda - Ilhéus e Itabuna, essas cidades mágicas que me trouxeram toda a respiração dos livros de Jorge Amado em suas ruas, casas e árvores - até Porto Seguro, Arraial d'ajuda e Trancoso. Lembrei das estradas do sul da Bahia, com suas matas cerradas e seus corredores artificiais para os macacos da mata formando aqueles arcos sob os quais passamos. A conexão é simples como uma rodovia de asfalto negro e firme, sem buracos e bem sinalizada cortando o horizonte do viajante: talvez seja isso o que mais desejamos, a condição de, sempre que possível, estar em deslocamento. A sensação de pertencer a todos e não pertencer a lugar nenhum. De compor não um destino, mas um percurso. De andar por aí reconhendo paisagens, tipos, climas e histórias. Daqui a pouco vamos voltar pra estrada, no retorno a Brasília depois do feriadão. Mas o que todo mundo quer mesmo é esse contínuo movimento, amostra grátis de transcedência para o nosso imobilismo também necessário.
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