quinta-feira, 10 de julho de 2008

Árido Movie, segundo Amin


"Árido Movie é uma road-expedição, sociológica e antropológica, ao Brasil profundo. Maconha, crime, vendeta familiar, banditismo rural. Prostituição, clientelismo político, misticismo secular. Escassez de água, disputa de terra, choque cultural, sermões desconexos. Roncos de motos, idiotia rural, rodovias duplicadas, paisagem esturricada. Índios aculturados, machismo estereotipado, matriarcado virago. E a oralidade surreal da última Flor do Lácio: o dialeto arcaico sertanejo redivivo, saldo colonial, em diapasão dissonante com o maconhês metropolitano, herança linguística da contracultura.

(...)

Vez por outra, num criativo fatalismo cíclico, surge um novo olhar sobre a velha paisagem e suas almas secas. É o caso de Árido Movie, com sua originalidade lisérgica a se contrapor ao acumulativo histórico realista, teatralizado. O que interessa aqui é o relato cambaleante do inconsciente. O realismo já cumpriu o seu papelão histórico. Muito embora o cenário, os personagens, os sentimentos e os conflitos, como sabemos, sejam absolutamente iguais aos de antes. Mas, liberto e distanciado do realismo, Árido Movie desbrava o sertão deste início de século como os olhos livres, e é também, dessa maneira que o filme pede para ser visto."

(....)

É nessa suposta imperfeiç~çao que Árido Movie cumpre sua melhor performance. É como se o filme incorporasse o destino errático - geográfico e humano - do sertão, impregnado de sua, agora atualizada, taxa luminosa de desordem. Beleza mais que imperfeita, falsa promessa de felicidade. Bem brasileiro."

AMIN STEPPLE HILUEY, em "Sertão e Lisergia", sobre o filme Árido Movie (Lírio Ferreira), TEOREMA número 9, Julho 2006.

2 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Tião,
Lendo, postagens abaixo, a referente ao Quinteto Violado, que marcou a sua despedida (temporária, acredito) de Natal, gostei não só dela, mas também porque gosto do conjunto. Infelizmente, um dos participantes morreu, justamente aquele que mais o emocionou. É a vida, meu caro. Um abraço.

Anônimo disse...

meu Deus que coisa linda!!
Tião quanta beleza pra falar de um filme!
Gostei.