Naquela enquete meio anêmica que O Globo realizou entre as celebridades literárias da Flip, uma escritora portuguesa - já que eu infelizmente não estou lá, também não me considero obrigado a ser exato nas identificações - citou "Anna Karenina", o clássico de Tolstoi. Ela não conseguiu ir até o final mas, como todos os entrevistados, declara que sempre soube disfarçar muito bem.
A pauta é banal, os escritores bem poderiam estar sendo provocados a falar de coisas mais importantes, mas ainda assim o chute da escritora portuguesa bateu na minha trave. E quase foi gol: eu também iniciei a leitura de "Anna Karenina" e a deixei inacabada, triste constatação. Mas não foi por dificuldades com o texto - nem poderia, afinal a prosa de Tolstoi não se tornou clássica por acaso. Acontece que a edição que peguei emprestada para ler, da Biblioteca Municipal de Parelhas, bem distante de Paraty, era dividida em dois volumes. Devorei o primeiro durante umas férias nos tempos de estudantes da UFRN e, vencido pelos desencontros e novos interesses da vida universitária, nunca mais peguei o segundo volume para continuar.
Como todo mundo, sei que "Anna Karenina" morre no final - joga-se na linha do trem, não é isso? Mas, como diz o fotógrafo de cinema (e também cineasta, agora mesmo fazendo seu primeiro filme "solo", "Budapeste") Walter Carvalho, "não me interessa uma história factual, em que fulano saiu, foi para a casa de cicrano e matou beltrano... o que me interessa é filmar o que as pessoas sentem". O sentimento de Anna Karenina ficou boiando nas lembranças que eu tenho do livro, de vastos parágrafos, tensas narrativas, aluvião de palavras compondo um painel de uma época e o retrato subjetivo de uma mulher. Qualquer dia, recomeço e vou até o fim.
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