Junto com Ada Lima, chegou também às prateleiras da poesia potiguar o arqueiro Márcio Simões, o vaqueiro etéreo que empunha uma corda simbólica e emite um aboio que é o assovio do próprio vento em calmaria. "O Pastoreio do Boi - XII poemas sobre uma parábola ZEN " é bem isso. Uma transposição para tórricas e ofuscantes clareiras seridoenses da jornada do herói oriental. Uma poesia que liga os pontos invisível entre duas culturas tão diversas, produzindo elos tão intangíveis. "O Pastoreio" vale mais pelo não-dito do que pelo impresso. Repare nos espaços vazios nas páginas. Atente para o caráter serpenteante das palavras. Vigie pelo ar matreiro e fugidio dos versos, feitos para serem lidos minutos antes de se evaporar.
Assim: "Antes da busca: / a busca. / Andar a esmo / já é o caminho. / A caminhada / começa / onde o que nada / vê enxerga-se cego." Ou assim: Por nenhum atalho / ou vereda / pode-se chegar / ao esperado / Em todos os atalhos / e veredas / passeia o / ansiado / Aquele que anseia / e seu desejado / é todo atalho / e todo veredas". Ou ainda, assim: "O vácuo evolve / plenitude: / o ter todas / as formas / não o forma / O movimento / em seu princípio / em sua expansão / permeada / de início / e reinício."
A poesia do arqueiro Márcio sobe às montanhas da filosofia pura e desce de lá com um ar de mangá biscoito fino. É um produto do velho e bom Caicó arcaico.
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