O vasto noticiário sobre a feira literária de Paraty é de cutucar a inveja do mais recluso dos escritores. O que dirá então dos leitores? Ler sobre este tipo de evento nos jornais dá sempre a impressão de que se está tentando agarrar o nada. Não é que a feira seja inútil nem que sirva de canal para o marketing das editoras, nada disso. É que é o tipo do acontecimento que só tem graça mesmo quanto se está participando dele, fisicamente, na data e no local. Ler sobre a Flip é um exercício de despredimento de altíssima potência. Quando mais se lê, mais se sofre. Quanto maior a badalação dos presentes, maior é a frustração do ausente.
É como os festivais de cinema. São ocasiões interessantíssimas se você está presente, circulando entre mil e um tótens de vaidade. Uma vez, em Natal, uma atriz conhecidíssima na época chegou para dar uma entrevista coletiva e fez questão de que cada um dos seus anônimos e provincianos entrevistadores se apresentasse - e por aí vocês vêm que o constrangimento também faz parte da festa. Mas, até para isso, é preciso que o cristão esteja lá, em pessoa. Pelos jornais, tudo que vem de lá soa ainda mais falso - embora, presenciada, a falsidade de Flips e festivais seja bem divertida. Um exemplo desse caráter postiço é a própria pauta jornalística que tais eventos inspiram: na edição do jornal O Globo deste domingo, celebridades da Flips contam qual é o grande livro que nunca conseguiram ler. Alguém é capaz de pensar em assunto menos chapado para um lugar onde vicejam tantas cabeças inteligentes?
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