quarta-feira, 9 de julho de 2008

Quinteto sem Toinho

Devia ser o mês de abril ou maio. O ano era 1995. Talvez eu ainda não soubesse, mas dentro de muito pouco tempo estaria me mudando de Natal para Brasília. Se era assim, eu bem que merecia uma bela despedida. E foi o que tive. Vista da perspectiva de hoje, aquela noite, com aquele show, naquele local, o Teatro Alberto Maranhão, foi a minha despedida particular dos dez anos de moradia em Natal.

Quem tocou e cantou para mim naquela noite de despedida simbólica foram os caras do Quinteto Violado. Aquele foi um senhor espetáculo, marcado pelo brado generoso e negro de Toinho Alves, o contrabaixista do grupo, aboiador sinfônico na cena aberta do teatro. Admiro até hoje o conjunto como um todo, sinto compulsão de me ajoelhar quando ouço o Quinteto cantando a música que virou tema da Festa de Santanta, em Caicó – "todo ano tem / uma festa famosa na região / é a festa de Santana / padroeira do sertão". Mas quando lembro do Quinteto, meu pensamento costuma fundir todos os seus integrantes na figura única de Toinho Alves. Naquele noite, melhor do que aquele vozeirão ricocheteando entre as frisas do nosso TAM, só mesmo o coro da platéia, quente e emocionada, estridente e participativa, acompanhando o grupo entre ondas de palmas e outras manifestações vibratórias.

Algum tempo depois, mas não muito, já morando em Brasília, surpresa: o Quinteto vem à capital do país apresentar o mesmíssimo show. Lá estamos eu e Rejane, saudosos nordestinos entre tantos outros na platéia. Foi o mesmo show, mas a cerebral recepção da platéia brasiliense, mais fria do que a potiguar no que isso tem de bom e ruim, tornou tudo um pouco menos interessante. Como faziam falta as intervenções gaiatas dos potiguares loucos. No final, improvisou-se uma ciranda – com a participação do então governador Cristovam Buarque, que estava presente e invocou sua natureza pernambucana – mas não era a mesma coisa. O que num momento, em Natal, foi uma bela despedida, em outro, nos primeiros meses de Brasília, foi uma missa de saudade. O show era o mesmo, mas, como já disse tantas outras vezes neste blogue, há momentos em que as circunstâncias são tudo.

Esta semana, outra noite, outro dia, uma nova circunstância se meteu nessa história e é por isso que volto ao assunto. Estava em busca de notícias do Seridó no blogue de Suerda Medeiros quando os ecos daquela missa da saudade se fizeram ouvir novamente. Encontrei, surpreso, uma postagem noticiando a morte de Toinho Alves, pernambucano de Garanhuns, nordestino querido, músico e poeta do canto, a minha eterna imagem do Quinteto Violado. Como diz minha mãe, que Deus se lembre da alma dele - espírito cantador da saga de um povo.

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