quinta-feira, 19 de maio de 2011
Sangria do Garga no Globo
De tanto tuitada e reuitada, a sangria do Gargalheiras foi parar no site do jornal O Globo na manhã desta quinta-feira. SOPÃO reproduz o texto e ilustra com foto de sangrias passadas (e a minha pessoa e a de Rejane igualmente pretéritas), já que até o presente momento não apareceu ainda um fotógrafo bom e ligeiro para postar a imagem tão festejada nas ondas da internet. Segue a notícia de O Globo:
SÃO PAULO - O açude Gargalheiras, no Rio Grande do Norte, começou a sangrar na manhã desta quinta-feira. Num paredão de 25 metros de altura, a água vaza formando uma gigantesca cachoeira feita pelas mãos do homem. A sangria do Gargalheiras está entre os assuntos mais comentados no twitter nesta quinta-feira.
O açude resulta do fechamento do Rio Acauã entre duas serras, a do Abreu e Gargalheiras e as águas represadas pela barragem abastecem as cidades de Acari e Currais Novos. São 44 milhões de metros cúbicos de água acumulada e a sangria não é comum. Em geral, ocorre em intervalos de três a quatro anos.
O secretário de Turismo de Acari, Sérgio Enilton, um ex-professor de História, conta que a região abrigou uma grande lagoa e uma área pantaneira. Ali, em volta da água, viviam as principais tribos índigenas da região.
O Rio Acauã faz parte da Bacia do Rio Piranhas-Assu, principal rio que corta a região do Seridó.
- A palavra Seridó deriva do tupi guarani e significa terra árida, seca - explica Enilton.
A cidade de Acari, de 11 mil habitantes e localizada a 210 km de Natal pela BR-226, e a vizinha Currais Novos disputam com suas belezas naturais o nascente ecoturismo. O povo da região há muito aprecia a natureza privilegiada e já ajudou a eleger a barragem de Gargalheiras como uma das "maravilhas" do estado, ao lado do Morro do Careca, em Natal, e da Serra da Barriguda.
A vizinha Currais Novos divide os louros com Acari. Em suas terras está o cânion dos Apertados, por onde corre a água do Rio Acauã. Trata-se do único canyon de rocha granítica do mundo e fica em uma fazenda particular.
A economia das duas cidades, basicamente de gado leiteiro, promete crescer atraindo turistas.
A história da barragem de Gargalheiras também reflete a história de como as coisas acontecem no país. Sua primeira planta, segundo Enilton, é de 1909 e em 2009 a região comemorou seus 100 anos. A ideia surgiu com a seca de 1877, que levou o então Instituto de Obras contra as Secas a estudar a construção de grandes reservatórios no Nordeste.
Da planta à inauguração da barragem os moradores do Seridó tiveram de esperar 50 anos. A barragem que originou o açude só ficou pronta em 1960,l quando foi oficialmente inaugurada. No meio do caminho, várias interrupções da obra, que chegaram a ser tocadas por empresas inglesas.
O nome Gargalheiras, segundo Enilton, vem das coleiras ou gargantilhas que eram usadas pelos escravos.
Pra encerrar, duas notas do SOPÃO:
1) Escrevi anos atrás, inspirado na paisagem do Gargalheiras e nas tradições do Seridó, um texto para teatro chamado "Valsa na Varanda". A primeira frase é uma referência à demora para o Gargalheira virar realidade: "Cinquenta anos. Há cinquenta anos o povo espera essa barragem..."
2)No twitter, junto com a corrente comemorativa pela sangria, vem também, naturalmente, a cobrança pela atenção para com a qualidade da água do Garga, capitaneada pelo sempre alerta Jesus de Miúdo, do Acari do Meu Amor. Muito justo e correto. Mas há também um pessoalzinho de espírito de porco que gosta de misturar bem as duas coisas e despejar água suja no festejo coletivo pela sangria. Não há nada de amoral em ficar feliz pelo fato de a barragem mais uma vez transbordar. É do nosso espírito sertanejo, é um signo de melhoria, fartura, alimento na mesa, colheira e bem estar geral. Como todo signo, tem suas limitações e não quer dizer necessariamente que traga tudo isso. Mas aponta pra tudo isso, o que por si só já é louvável. Quanto, por exemplo, à sujeira que Currais Novos e esgotos adjacentes despejam na barragem, gerando as infames cianobactérias, é fato, precisa ser cuidado. Mas não entendo que uma coisa comprometa a outra: o que compromete é o espírito pequeno de quem não compreende ou é incapaz de partilhar da felicidade humana, que também existe.
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