segunda-feira, 9 de maio de 2011

Seis coisas que aprendi com "Dez maneiras de matar Bin Laden"


Sábado à noite, todo mundo na gandaia boêmia e eu aqui em casa vendo na tevê "Dez maneiras de matar Bin Laden". Foi o jeito que encontrei de compensar as milhares de páginas de jornais que passaram pelos meus olhos, dezenas de milhares de sites, torrentes de chamadas, links e similares na internet. Só tinha visto mesmo a edição do JN do fatídico dia. O programa do History Channel, naturalmente, é mais um prato requentado e servido à sombra do acontecimento do ano, a morte de você-sabe-quem. Lista, como diz o título belicista como ele só, dez planos fracassados dos EUA para atingir seu alvo-mor. Na minha rede azul presente de dona Isabel, botei um olho na tevê e outro na caderneta para anotar o que se pode aprender com essas novas aulas de história feitas na base do entretenimento. Seguem as lições que dona Hildete não poderia me dar na oitava série:


1) Bin Laden foi vital para o desenvolvimento da indústria bélica: graças ao capeta mor, os EUA puderam testar à exaustão a Blue 82, pra quem não sabe uma bomba especializada em destruir florestas. Segundo o documentário do History Channel, a Blue 82 (o nome é muito pop, mas o efeito...) não é nem um pouquinho ecológica: quando ela explode numa região de mata fechada, abre imediatamente um campo de pouso para o helicóptero militar mais próximo. Ou seja, uma explosiva fabricante de clareiras anti-ambientais. Mas foi tanta arma usada contra o capeta enfim morto que até confundo: seria também a Blue 82 aquela arma especial para destruir cavernas? Também teve o rifle M-4, um cuspidor de projéteis capaz de perfurar o alvo com 30 tiros quase simultâneos. Um fazedor de peneiras humanas. E com alvo holográfico, pra você que pensa que 3D é só diversão no cinema.

2) Os novos documentários dão sua contribuiçãozinha para a cultura audiovisual da violência: há nitidamente um prazer em exibir, detalhadamente como uma bala de Matrix em ação, o efeito de um ato violento, de um disparar de bala, de uma explosão filigranada frame a frame. Numa outra série de documentários do canal, chamada Batalhas A.C (ou coisa parecida, não anotei o nome exato), vemos, enquanto a narração conta as epopéias de Alexandre, o Grande (apenas um dos enfocados), o prazer de um guerreiro ao manejar ao mesmo tempo duas espadas em cruz com um pescoço humano no meio. Claro, tudo em meio ao campo de batalha - mas o doc vai lá e focaliza isso, obviamente numa reconstituição gráfica, com um deleite visual que dá medo. O áudio, perfeito (?), completa a situação: é as espadas se cruzarem e o xxxxxx metálico dã a sensação de realismo que o amante da violência estetizada tanto aprecia. No doc sobre a caça a Obama, não se passa vinte segundos sem um tiro, uma explosão. E a aquela estética de câmera que não para, de corte que não dá trégua. O jeito é a gente se agarrar na narração - e não pensar. E neste não pensar é que mora o busílis.

3) Os homens altos do Afeganistão já podem respirar aliviados e transitar à vontade nas ruas e estradas. É que um "homem alto" - que era conhecido justamente assim no povoado onde vivia - foi morto por um bombardeio aéreo teledirigido somente por ter sido confundido com Bin Laden. Foi uma das dez tentativas fracassadas que o documentário enumera.

4) Aqueles livrinhos de Frederick Forsith que eu lia nas tarde quentes e demoradas lá em Parelhas não foram lixo cultural jogado fora. Pois não está tudo que estava lá de volta aí na narrativa das dez maneiras que os EUA usaram para tentar eliminar o outro cara? O climão é o mesmo: agentes sorrateiros, paisagens áridas do Oriente Médio, cenas de escritório na sede em Washington, momentos de adrenalina quando um comando invade uma unidade suspeita. Link imediato com "Os caes de Guerra", na saudosa edição do Círculo do Livro, ou "O Punho de Deus" na já mais recente da Editora Record.

5) Quantos anos se passaram: setenta, oitenta, cem? Mas uma frase no doc, além da aridez da paisagem que ambos habitaram, liga Bin Laden a Lampião: "A missão era trazer a cabeça de Bin Laden numa caixa", conta um dos militares envolvidos em uma das dez missões contra o terrorista. Replay na terra de deus e do diabo: filme velho, horror atualíssimo. Mudou o mundo, não mudou a humanidade; nossos vilões ainda são os mesmos, nossos métodos idem; não temos como fugir do mal a não ser assim; de outra maneira será ingenuidade? Questões, meus caros, questões.

6) No fim das contas (o doc é anterior à morte de Bin Laden) quem venceu não foi nenhuma das armas, técnicas, estratégias e artimanhas boladas desde o governo Clinton até o restinho da gestão Bush. Ora, quem conseguiu matar Bin Laden foi... Leonardo di Caprio. Ou você não assistiu à "Rede de Intrigas" do sempre elétrico mas inteligente Ridley Scott? Tá tudo lá: foi a infiltração de agentes que deu cabo do serviço. Na segunda tentativa, claro, que gente com Bin Laden, Lampião e Antônio Conselheiro não se derruba assim de primeira. É preciso uma, duas, três expedições para chegar ao the end.

* Aqui, o link para o site do History Channel. Mas já fuçei e vi que não há reprise programada. Talvez porque o programa em si já fosse uma reprise. Qualquer maneira, sempre se pode ficar de olho. E o link permanente vai para a coluna "Outros Cardápios".

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