quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Descalço no parque


Esta é a primeira postagem escrita no Sopão em "externa". Como num roteiro de filme: externa, dia, bosque urbano. Um blogueiro amador digita frases e palavras no computador instalado sobre os joelhos, à sombra de uma árvore cuja espécie desconhece (embora haja, no local, florestas e mais florestas de placas com os respectivos nomes das respectivas plantas), ouvindo o canto de pássaros igualmente anônimos mas talqualmente agradáveis, pisando descalço, como tem de ser, a doce areia dos tabuleiros-alfenins que são os solos dos litorais nordestinos.

Roteiro à parte, imagem à margem, estou na entrada do Parque das Dunas, ex-bosque dos namorados, em Natal, fazendo nada enquanto Cecília e Bernardo tomam conta de cada pedaço desse adocicado chão por onde passeia um generoso cheiro de frutas de quintal. Tirando um motor de alguma coisa que ignoro - e que, infelizmente, quebra um pouco o silêncio joanino do local - é um sítio e tanto para o cidadão se deixar ficar, qual machadiano leitor de romances de um Brasil bem pretérito. Como ademais devem saber todos os leitores do Sopão que residem em Natal - como ademais deveria saber toda a população da cidade. Mas será que sabe (por mais que procure, não acho a interrogação desse teclado). É quinta-feira, ainda é fevereiro, tá bom, as aulas começaram (começaram, interrogação), faltam 15 parcos minutos para dar uma da tarde e parece que só estamos nós aqui: eu, Rejane, os meninos e a babá, uma pernambucana do interior que já passou muito dos vinte anos e, vejam só, só agora viu o mar pela primeira vez (melhor para ela que tenha sido o mar de Natal, mais precisamente o belo mar noturno da Praia do Meio).

Voltando: quase ninguém passou por aqui e me pergunto se é sempre assim. Deve ser não: acho que Ana Luisa me falou algum dia que o parque ferve nos finais de tarde com os caminhantes urbanos. Densidades demográficas à parte, o que queria dizer mesmo é que, mesmo com o apelo fácil da praia, esse bosque aqui não deve ser esquecido, não. Perfeito posto de observação, acabado palco de meditações vagabundas, pleno espaço para leituras vãs ou definitivas, campo de treinamento para hamonizar crianças e naturezas, está tudo aqui. Há anos que não vinha - e sempre que vinha, antes, era como repórter agoniado, sem tranquilidade para olhar em volta. E mesmo sendo assim, lembro que era bem menos equipado, não tão bem cuidado, de sombras menos vastas e assentos quase inexistentes. Agora,não: há tanto lugar para sentar e tanto sítio aprazivel que o visitante fica até em dúvida, há tanta atmosfera de quintal que o habitante eventual sente até que algum dia já morou aqui, sem que o tenha feito; há tanto dengo de areia miúda chamegando no entre dedos dos pés que é capaz de o cidadão descalço pensar que é também ele um árvore já meio antiga.

Há, sim, também, muitos mosquitos que incomodam um pouco até o momento em que você se acostuma com as pisadas deles nas suas costas e nos seus braços e eles e eles se acostumam com o seu pegajoso suor nos mesmos locais. Mas não vai ser por isso que você vai deixar de vir. Se, ao contrário, está a fim de conforto, então, cidadão, vá pro shopping. A praia aqui - digo, o parque aqui - é outra.

5 comentários:

Moacy Cirne disse...

Meu caro, você agora me deixou na dúvida: não seria mo Bosque dos namorados - um dos meus lugares pereferidos em Natal - uma das portas de entrada do Parque das Dunas? Aproveitando a deixa: você vão ficar aí até quando?

Um grande abraço.

Anônimo disse...

sebá, é que o bosque ( ou o parque das dunas, prefiro usar bosque mesmo), a essa hora, é o maior calor...de manhã cedo e final de tarde vc encontra, sim, um número razoável de pessoas, especialmente de caminhantes. e mudando de assunto: o senhor tá de mal, é? não vai aparecer pros amigos não?

Francisco Sobreira disse...

Tião,
Tenho um amigo que caminha toda tarde pelo Bosque dos Namorados. Há muitos anos que não vou lá. Mas gostava muito quando ia, acompanhado da mulher e das filhas pequenas. Um lugar muito aprazível. Um abraço.

Anônimo disse...

p.s.: sebá, o anônimo sou eu. juro que pensei que tinha escrito meu nome...

Anônimo disse...

O ex Bosque, hoje, é parque Luiz Maria Alves, vizinho e uma das portas do Parque das Dunas.