"Técnica e organizacionalmente, a posição de Eichmann não era muito elevada; seu posto acabou sendo tão importante só porque a questão judaica adquiria, por razões puramente ideológicas, uma importância maior a cada dia, semana e mês da guerra, até haver adquirido proporções fantásticas nos anos de derrota - de 1943 em diante. Quiando isso aconteceu, o seu departamento ainda era o único que lidava exclusivamente com "o oponente, o judaísmo", mas de fato ele havia perdido o monopólio, porqque então todos os departamentos e aparelhos, Estado e Partido, exército e SS, estavam ocupados 'resolvendo' o problema."
"Nesse ponto, talvez fosse razoável alegrar-se pelo fato de não se tratar aqui de um julgamento comum, onde declarações sem base em procedimentos criminais têm de ser descartadas fora como irrelevantes ou inadequadas. Pois as coisas, evidentemente, não eram tão simples quanto os autores da lei tinham imaginado e, mesmo sendo de pouca relevância legal, era de grande interesse político saber quanto tempo leva uma pessoa mediana para superar sua repugnância inata pelo crime, e o que exatamente acontece com essa pessoa quando chega a esse ponto. O caso de Adolf Eichmann fornecia a essa pergunta uma resposta que não podia ser mais clara e mais precisa."
"As razões particulares que falam pela possibilidade de repetição dos crimes cometidos pelos nazistas são ainda mais plausíveis. A assustadora coincidência da explosão populacional moderna com a descoberta de aparelhos técnicos que, graça à automação, tornarão 'supérfluos' vastos setores da população, até mesmo em termos de trabalho, e que, graças à energia nuclear, possibilitam lidar com essa dupla ameaça com o uso de instrumentos ao lado dos quais as intalações de gás de Hitler pareciam brinquedos de uma criança maldosas - tudo isso deve bastar para nos fazer tremer."
São trechos de "Eichmann em Jerusalém", de Hannah Arendt (editora Companhia das Letras), o livro que vem à cabeça inevitavelmente enquanto se assiste ao filme "O leitor", em cartaz nos cinemas.
Um comentário:
um belo filme.
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