domingo, 15 de fevereiro de 2009

Caderno de férias (Olinda, quero cantar)














Daqui de onde escrevo, ouço o alarido que restou depois da passagem das Virgens e do Tá Maluco, blocos que neste domingo subiram e desceram as ladeiras de Olindas, que é o lugar onde a nossa barca de pneus veio parar depois de singrar os sertões de Campina Grande, velejar no mar aberto de João Pessoa e cruzar as arrebentações semipraieiras de Goiana, Abreu e Lima, Paulista, nas raias da PE-115, estrada mítica para a minha memória de retinas fatigadas. Mas tente não ficar enjoado com o balanço das citações de lugares variados, que no devido tempo eu volto ao assunto e refaço as viagens particulares que cada um deles merece em postagens-marujas do tipo minhas férias. Por ora, o objetivo desta folha de anotações no Caderno de Férias é dizer que a gente está tomando um ventinho de praia-mangue na Pousada São Francisco, aqui nas franjas marinhas de Olinda, bem na rua onde troças tropeçam umas nas outras quando o carnaval chegar.

E o carnaval, minha gente, parece até que já chegou. Alguns anos atrás, estivemos aqui com Cecília de seis meses no colo, em igual período de semana pré-carnavalesca e o clima, embora já meio ansioso, era bem outro. Não havia, então, um mísero lança-perfume de animação diante do tonel de éter que parece já escorrer pelas pedras que recobrem as ladeiras de cá entorpecento o povo todo de animação foliã. Se o visitante for um paulistano meio desorientado com as coisas do Nordeste, é capaz de acreditar que já é, sim, carnaval - e se ele não percebeu antes é só porque comprou uma folhinha pirateada no camelô. Pernambuco já ferve e o domingo da véspera já tá com a maior cara de domingo de fato. Bernardo, devidamente equipado com sua sombrinha de frevo, já foi apresentado à folia - e gostou. Ontem à noite mesmo, num primeiro passeio exploratório, demos com um bando de moças bonitas batucando tambores, no que formam o interessante bloco percussivo "As conxitas". Foi ouvir o tremelique dos tambores e Bernardo começou logo a dançar nos braços de quem o carregasse. Mas quando chega bem perto do lugar de onde vem o som, ele para, arregala bem os olhos, destampa totalmente os ouvidos e assiste, estupefato e ultra-atencioso.

Cecília, que já é meio veterana de outros carnavais - digo, pré-carnavais - investe mais no lado lúcido da festa. O máximo, pra ela, é sair por aí fantasiada. Para este ano, já tem duas fantasias tipo lojas Americanas: uma de borboleta, com um belo par de asas cor-de-rosa e uma varinha de condão pra acompanhar; e outra de Sininho, verde que dói na vista. A primeira ela não tira desde ontem - continuar assim e a segunda só vai ser usada em Brasília, na segunda-feira de carnaval, na concentração do Galinho. O engraçado é ver o chamamento que sempre vem quando a gente está ocupado com qualquer coisa na pousada, antes de sair: "Onde é que a gente vai fazer carnaval?". Como se fosse uma grande foliã - não é; perto de um bloco, fica parada como uma estátua de marechal. Se pratica alguma espécie de frevo ou de dança, é lá na cabecinha dela, com a imaginação a mil, como a gente comprova bem depois, mas bem depois mesmo que o bloco passou.

Pois é: falta uma semana, mas a gente, como diria Cecília, já está fazendo carnaval nas manhãs, tardes e noites olindenses. Fora isso, rodamos por aí no Paço Alfândega e na Livraria Cultura - onde eu não encontrei o livro de Samarone Lima que tanto procuro ("Estuário") -, compramos o novo CD de Alceu Valença (que realiza uma profecia que eu fiz lá em 1994 e sobre a qual falo em postagem futura); vimos o Capibaribe ao luar; suportamos a frustração humana de um motorista de táxi estressado de Recife, sujamos praticamente todas as roupas que trouxemos de João Pessoa para cá; e nem deu tempo ainda de a gente sentir o ventinho do Marco Zero. Mas nem dá pra reclamar. A barca amanhã parte de volta para Natal cheia de badulaques imaginários que vão manter cheios nossos baús de lembranças durante pelo menos uns seis meses, que é o tempo que demora para o efeito dessa doce droga passar. Mas as férias não terminaram ainda, e se você continuar navegando com a gente vai encontrar mais umas histórias antes do carnaval chegar. Fique por perto, que a gente volta já.

3 comentários:

Anônimo disse...

passo rapidinho só pra protestar: cecília é linda de qualquer maneira, mas vcs ter podiam ter escolhido outra fantasia pra ela - logo de borboleta??? ( a de sininho foi aprovadíssima)

Anônimo disse...

p.s.: adorei bernardo com o burrinho.

Marcya disse...

Mas que crianças mais lindas!