quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Entreblogues - É assim que eles vêem a gente


Um "Entreblogues" de leitura obrigatória para quem divide com o Sopão a indignação com o abuso em que se transformou a opinião na imprensa brasileira: é a análise atenta que nosso amigo Carlos Magno Araújo, do Diário de Natal, fez de artigo publicado na Folha de S. Paulo. O assunto do artigo é a eleição do potiguar Garibaldi Alves para a presidência do Senado e, por extensão, do Congresso Nacional. Carlos Magno jogou a rede e arrastou um cardume de preconceito em forma de palavras. Na mosca. A leitura é um pouco extensa mas vale cada palavra, cada vírgula. Vejam, vejam (primeiro a análise de Carlos Magno e depois o artigo publicado na Folha):

Garibaldi e o preconceito

Tenho a maior boa vontade em entender que é papel da imprensa investigar a vida de quem está prestes a assumir cargos públicos importantes,como acontece agora com Garibaldi Filho, alçado à presidência do Congresso ao final de um processo longo e tumultuado que transformou em esgoto a casa que alguns de seus colegas chamaram um dia, quase candidamente, de Céu. Resguardando a privacidade a que qualquer um tem direito, e zelada a ética, considero que é papel da imprensa fazer, sim, essa fiscalização, e não somente balançar a cabeça, com aquela complacência cúmplice que em muitos casos e em muitos lugares costuma marcar a cobertura política. Ou seja, respeitando a regra, vale tudo, até dançar homem com homem e mulher com mulher. Esse pouco caso com o noticiário mais profundo e detalhado, digamos assim, já nos trouxe surpresas demais – Renan foi só a mais recente delas. Em resumo: levantar a biografia daqueles que cumprirão papel importante, sim. Espezinhar, abusar, aproveitar uma situação para tentar extravasar preconceitos incontidos, não. Não defendo Garibaldi. Acho até que sua trajetória política precisa ser exposta. Afinal, ele estará ali presidindo o Congresso e, queiram ou não aqueles que não votaram nele no estado, estará representando este RN de meu deus. Mas não dá para ler o artigo da página 2 da Folha de São Paulo de hoje, de Fernando de Barros e Silva, sem notar um ranço perverso de preconceito. E daí que Garibaldi parece uma figura extraída dos programas de Chico Anísio ou se assemelha ao célebre Odorico Paraguassu, da Sucupira de Dias Gomes? Se tentou colar a imagem de Garibaldi a desses personagens que fizeram/fazem parte da ficção nacional e até se incorporaram ao anedotário e ao subconsciente político, Barros e Silva poderia ter sido menos hostil. O argumento sugerido por ele, o de que o Garibaldi que esteve à frente da CPI do Fim do Mundo é bem diferente desse agora, aliado do governo, dá até pano prá manga, mas a imagem que o articulista usou pareceu criada para exalar o futum do preconceito. O noticiário da Folha, pelo menos ontem, pareceu repetir o ranço do colunista.


E agora o artigo a que Carlos Magno se refere:


Prafrentemente, pratrasmente

(Fernando de Barros e Silva)


Sai Renan Calheiros, entra Garibaldi Alves. É o PMDB em campo, com a bola cheia, cadenciando o jogo maroto do "governo popular". Finalmente abatido em seu vôo (embora absolvido pelos pares), o neopredador das Alagoas cede espaço ao coronel potiguar, representante do velho patrimonialismo a que Lula tem rendido tantas homenagens e dado tantas condições de doce sobrevida. Quando a gente não pode fazer nada, avacalha. O célebre bordão do "Bandido da Luz Vermelha", anti-herói consagrado pelo filme de Rogério Sganzerla, tem trânsito fácil no Brasil. Por que não estendê-lo à crônica política? A mim, por exemplo, que não posso fazer nada, Garibaldi Alves sugere algum personagem cômico -qualquer um- de Chico Anysio. Escolha qual você, leitor, que também não pode fazer nada. Ou estaremos diante de um novo Odorico Paraguassu, o prefeito da eterna Sucupira de Dias Gomes, alçado ao topo do Congresso Nacional? "Prafrentemente", apenas suspeitamos no que isso vai dar, mas "pratrasmente" o currículo de Garibaldi não edifica a vida republicana. É irônico, mas esclarecedor, que nosso artista estivesse há apenas dois anos à frente da chamada CPI do Fim do Mundo, aquela que se alimentava dos restos das outras e resultou numa espécie de sopão dos detritos do governo Lula, mas também do Senado. A troca de lado e o exercício de papéis antagônicos num intervalo tão curto servem como estudo de caso sobre o caráter político do PMDB. Mas também o deste governo "popular". Geddel, o arauto da democracia, que o diga. E por falar na velha senhora, Rodrigo Maia, o jovem presidente do DEM, nos desafiava ontem em artigo na página 3 da Folha: "Democratas, sim, e daí?". Adorei o -"e daí?". Só mesmo o bom PFL faria pastiche da retórica da rebeldia e da afirmação adolescente da identidade ao defender o lugar-comum da democracia. Ficou com cara de tiozão.


Como dizia o poeta, os senhores tirem as suas conclusões. E o link para o blogue de Carlos Magno, abrigado no portal do Diário de Natal, há tempos já faz parte dos "outros pratos" do Sopão, ali ao lado. Pra ler mais, é só clicar.

Um comentário:

Marcya disse...

Dooois???