sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sopão - 1 ano (meu presente)

Hoje chegou um comentário aqui no Sopão (na verdade, veio para o Sopão da "primeira temporada", abrigada no uol) que vale por um presente de Natal. Ou como um presente que o próprio Sopão recebe ainda à sombra de seu primeiro aniversário. Foi um comentário de Adriana Falcão que, não sei como, acabou sabendo de um texto antigo, escrito num jato de palavras pouco depois de eu acabar de assistir ao filme "A Máquina", feito com base no texto original dela por João Falcão, seu companheiro.

Segue o texto do comentário:

"Há muito tempo não leio o que sai sobre o filme A máquina, porque geralmente não fico feliz quando faço isso. Hoje descobri o seu texto e o dia mudou. Ficou em mim a impressão que você entende melhor o que quisemos passar para os outros até melhor do que nós mesmos. Parabéns e obrigada

Adriana Falcão"

Achei que vale a pena reprisar o texto sobre "A Máquina", que segue abaixo:

As máquinas de "A Máquina"

"A Máquina" é um liquidificador de estilos onde cozinheiros de imagens colocaram para triturar nacos generosos de tubérculos visuais do tipo "O Auto da Compadecida", "Lisbela e o Prisioneiro", "A Invenção do Brasil", "Hoje é dia de Maria", um pouco até de "Armação Ilimitada" e outras manufaturas da fábrica de Guel Arraes, dos armazéns de Luiz Fernando Carvalho e dos depósitos de outros fabricantes de um imaginário afim, como o brincante teatral Antônio Nóbrega ou a alma popular que empresaria o Bloco da Saudade no carnaval pernambucano.

"A Máquina" é o processo de liquefazer tudo isso num sumo cinematográfico que resuma todos esses sabores visuais sem a preocupação restrita de ser tv, cinema, teatro ou festa interiorana.

"A Máquina" é Paulo Autran dizendo o texto genealógico de Adriana Falcão, que vai às últimas conseqüências para contar como nasceu seu herói Antônio. Um conto que escava as mais invisíveis raízes das narrativas para lembrar que, só pelo fato de existir, um simples personagem resume em si todo o mistério e o absurdo da existência da humanidade inteira.

"A Máquina" é um ator capaz de brilhar tanto e com tal falta de esforço que consegue apagar tudo em volta – o cenário, os coadjuvantes, as luzes, as cortinas, a própria sala de exibição com suas paredes e nosotros, espectadores. Wagner Moura é essa máquina instantânea de carisma e transfiguração, que faz de uma ponta um continente. O ator que transforma, pela farsa mais bretchiana, um colunista televisivo no seu avesso.

"A Máquina" é o artifício de João e Adriana Falção, que invertem o fluxo da globalização ao levar os microfones e as canoplas do mundo até o vilarejo de Nordestina – e não o contrário.

"A Máquina" é a quintessência da nova farsa cinematográfica nordestina, o supra-sumo da pilhéria, a saturação de sons e cores que as experiências anteriores formalmente se recusavam a admitir. É a peneira elétrico-popular da feira em oposição ao filtro climatizado do shopping. É o carro de som de interior enfeitado com pinturas berrantes anunciando bugigangas no cinza discreto da metrópole. É a nova parábola do êxodo forçado na era das fronteiras invisíveis só para os computadores.

"A Máquina" é o filme de João Falcão, baseado no livro de Adriana Falcão, que deu origem também a elogiada e bem sucedida peça teatral, e que, tendo sido esnobado pelos cinemas, pode ser visto agora em DVD.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Tião pelo comentário.
Não tenho comentado aqui pq infelizmente meu pc resolveu não abrir links, então não tenho como adicionar nem ler comentários de ninguém.
Hoje estou na casa de kelly e por isso que estou aqui.
Beijo grande e saúde e amor pra família toda.

Anônimo disse...

legal, sebá. parabéns também.
ana sua mana - a anônima.

Marcya disse...

Uau!