O texto a seguir é da orelha de um dos livros de Drummond, que tinha a mania de escrever ele mesmo esses textos de apresentação - dizem os estudiosos, para evitar que outros o fizessem e exagerassem no culto à sua pessoa.
"Não sei se o poeta perdeu a força de irritar que o distinguia; sei que abre de novo o baú de lembranças, reage contra o excesso de bomba do nosso tempo, narra dramas amorosos e psicológicos do próximo, trata galantemente da cidade do Rio, ex-capital sempre capitalíssima, fala de pombos-correios, fazendas, mulandeiros, santas, rende preito a Portinari, a Chaplin, ao pintor colonial Ataíde e a Mário de Andrade, explora palavras como som e signo, em aproximações, contrastes, esfoliações, distorções e interpenetrações endiabradas. Os senhores julgarão por si."
A orelha é do livro Lição das coisas, editado em 1962.
Li isso aí e fiquei aqui com meus botões drummonianos catucando o pensamento: o que ele diria hoje, a que pessoas, cidades e memórias poderia se referir o poeta?
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