segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um poeta revelado


Chego para trabalhar e estou empenhado naquela tarefa quase braçal de varrer a caixa do correio eletrônico, quase sempre entulhada de inutilidades (falo da caixa de e-meios da Câmara, não da de casa, que é sempre cheia de coisa boa) e me aparecem os versos abaixo. Uma pepita da poesia candando-piauiense, lapidada pelo nosso amigo Paulo José Cunha, jornalista, colega aqui na TV Câmara. Que PJ é poeta eu sabia - posto que ser poeta é uma condição existencial com a qual comunga o cidadão em questão. Agora, que PJ é poeta de publicar livros de poesia - que é uma coisa muito diferente de apenas "ser poeta" - lá isso eu desconhecia. Eu disse pra ele e repito pra vocês: porque ser poeta de publicar livros de poesia é arriscar-se num terreno perigosíssimo em que o autor ou prova-se um porra louca de letras improvisadas ou então mostra logo de saída que não fica na sombra de um Vinícius, um Bandeira, um Manoel de Barros e tantos outros. Não é pra qualquer um, não: publicou, está sujeito a ser rotulado de uma coisa ou outra. E aguentar as conseqüências, que vão de ser convidado para exposição de arte até ser xingado com palavrão impublicável na via pública. Quem é que tem coragem de se submeter a isso? Pois Paulo José tem - e não corre risco de ser xingado de "poeta" quando sai de casa sob a secura de Brasília ou o calor de Teresina.

Dito isso, divido com vocês o trecho de poesia da melhor qualidade que encontrei na minha caixa postal, do nosso amigo Paulo José Cunha. E olhe que é só um pedaço da "Cantiga da baixa umidade". Salve o poeta - até agora - desconhecido (ao menos por mim):

“O mato estala nos campos de setembro/ onde a vida perde o viço/ e o mundo é palha.// Tudo é fumo no horizonte desses campos/ lavados ao calor que avança em ondas.// O peito dói, e se esfarela/ como o barro calcinado nas queimadas.// Uma angústia se instala sem aviso./ Todo gesto é lento./ Até o silêncio agride.// Derrotado à fornalha dos cerrados,/ o frágil coração nem mais bombeia./ O sangue vira pó dentro da veia.// Nesta umidade baixa e relativa,/ qualquer canto de sereia me cativa,/ qualquer ponta de cigarro me incendeia”.

4 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Tião,
Fiquei de cara no chão ao saber que Paulo José é poeta, e me parece talentoso, pela amostra da sua poesia que você nos revelou. Vez por outra me deparo com ele na TV Câmara, em conversa com 2 companheiros de jornalismo. Um abraço.

Anônimo disse...

bonito mesmo.

SÍLVIO RIBAS disse...

O cerrado é um desconhecido e merece loas de todos. Olhai os campos de Brasília.

Anônimo disse...

tião, já postei os seus textos sobre cinema lá na casa das musas. sua parte está ótima, meu amigo. abrç, gustavo.