Chego para trabalhar e estou empenhado naquela tarefa quase braçal de varrer a caixa do correio eletrônico, quase sempre entulhada de inutilidades (falo da caixa de e-meios da Câmara, não da de casa, que é sempre cheia de coisa boa) e me aparecem os versos abaixo. Uma pepita da poesia candando-piauiense, lapidada pelo nosso amigo Paulo José Cunha, jornalista, colega aqui na TV Câmara. Que PJ é poeta eu sabia - posto que ser poeta é uma condição existencial com a qual comunga o cidadão em questão. Agora, que PJ é poeta de publicar livros de poesia - que é uma coisa muito diferente de apenas "ser poeta" - lá isso eu desconhecia. Eu disse pra ele e repito pra vocês: porque ser poeta de publicar livros de poesia é arriscar-se num terreno perigosíssimo em que o autor ou prova-se um porra louca de letras improvisadas ou então mostra logo de saída que não fica na sombra de um Vinícius, um Bandeira, um Manoel de Barros e tantos outros. Não é pra qualquer um, não: publicou, está sujeito a ser rotulado de uma coisa ou outra. E aguentar as conseqüências, que vão de ser convidado para exposição de arte até ser xingado com palavrão impublicável na via pública. Quem é que tem coragem de se submeter a isso? Pois Paulo José tem - e não corre risco de ser xingado de "poeta" quando sai de casa sob a secura de Brasília ou o calor de Teresina.
Dito isso, divido com vocês o trecho de poesia da melhor qualidade que encontrei na minha caixa postal, do nosso amigo Paulo José Cunha. E olhe que é só um pedaço da "Cantiga da baixa umidade". Salve o poeta - até agora - desconhecido (ao menos por mim):
“O mato estala nos campos de setembro/ onde a vida perde o viço/ e o mundo é palha.// Tudo é fumo no horizonte desses campos/ lavados ao calor que avança em ondas.// O peito dói, e se esfarela/ como o barro calcinado nas queimadas.// Uma angústia se instala sem aviso./ Todo gesto é lento./ Até o silêncio agride.// Derrotado à fornalha dos cerrados,/ o frágil coração nem mais bombeia./ O sangue vira pó dentro da veia.// Nesta umidade baixa e relativa,/ qualquer canto de sereia me cativa,/ qualquer ponta de cigarro me incendeia”.
Dito isso, divido com vocês o trecho de poesia da melhor qualidade que encontrei na minha caixa postal, do nosso amigo Paulo José Cunha. E olhe que é só um pedaço da "Cantiga da baixa umidade". Salve o poeta - até agora - desconhecido (ao menos por mim):
“O mato estala nos campos de setembro/ onde a vida perde o viço/ e o mundo é palha.// Tudo é fumo no horizonte desses campos/ lavados ao calor que avança em ondas.// O peito dói, e se esfarela/ como o barro calcinado nas queimadas.// Uma angústia se instala sem aviso./ Todo gesto é lento./ Até o silêncio agride.// Derrotado à fornalha dos cerrados,/ o frágil coração nem mais bombeia./ O sangue vira pó dentro da veia.// Nesta umidade baixa e relativa,/ qualquer canto de sereia me cativa,/ qualquer ponta de cigarro me incendeia”.
4 comentários:
Tião,
Fiquei de cara no chão ao saber que Paulo José é poeta, e me parece talentoso, pela amostra da sua poesia que você nos revelou. Vez por outra me deparo com ele na TV Câmara, em conversa com 2 companheiros de jornalismo. Um abraço.
bonito mesmo.
O cerrado é um desconhecido e merece loas de todos. Olhai os campos de Brasília.
tião, já postei os seus textos sobre cinema lá na casa das musas. sua parte está ótima, meu amigo. abrç, gustavo.
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