sábado, 12 de março de 2011
Trio de ouro
Tanto quanto uma evolução lenta, necessária e meio torta mas evidente, a história política recente do Brasil também parece uma piada. É assim quando a gente se dá conta de que, nos corredores, plenários, gabinetes e cafezinho do Senado transitam e se esbarram, a toda hora, três ex-presidentes de vasta memória. Memória recente, é bom que se lembre - caso contrário a piada perde o apelo.
Sarney, Collor e Itamar estão sempre lá, como se fossem fantasmas teimosos de um Brasil que já desencarnou - ou pelo menos deveria estar bem quieto no tal andar de cima. Nada a ver com o obituário de Sarney que o pessoal do Senado - voluntária ou involuntariamente, vai-se saber - vazou para a imprensa. E a morte propriamente dita deve ser o que menos passa pela cabeça e pelos papos do nosso trio de ex-supremos mandatários quando eles tropeçam um no outro entre uma audiência pública e um colóquio privado.
- Cara, o seu topete definitivamente não é mais o mesmo - provoca um Collor bem menos estressado do que a sua imagem pública para um Itamar bem mais penteado do que seu visual pretérito.
- Olha lá, Fernando. Não venha me falar em coisas que se perderam pra sempre que eu me lembro logo de um cara que choramingava: "ah, minha gente, não me deixe só..."! - reage Itamar.
- Realmente! - rebate, astuto, Collor.
- Peraí, piada com o Real eu não admito. Morro jurando que quem inventou tudo fui eu e não aquele outro Fernando.
- Calma, brasileiros. Não importa quem bolou o plano. O que importa é que a inflação acabou. A inflação acabou. A inflação acabou. A inflação...
- Para com essa lorota, Sarney. O Plano Cruzado já está na terceira reencarnação em algum gabinete na Islândia arruinada pelo crise financeira mundial e você aí repetindo essa cantoria. Desapega, criatura - é Itamar repreendendo o colega de biografia.
E assim vai o trio, como três velhinhos rabugentos e divertidos dividindo pequenas queixas e antigas memórias pelas quais ninguém mais se interessa a não ser eles mesmos. Como aqueles personagens de Jack Lemmon e Walther Mathau numa série de comédias do início da década de 90. Pena que, além de tudo, grande parte dessa piada permanente no Senado nem possa ser entendida por grande parte da população brasileira atual. Sobretudo os mais jovens, que ficam com cara de loira tentando decifrar a chave do humor oculto nas mais básicas anedotas de salão. "Por que Sarney vive repetindo que a inflação acabou, a inflação acabou..."
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