quinta-feira, 17 de março de 2011

Subatômica


Nenhum vidente, clarividente ou visionário enlouquecido nos porões mais fétidos da década de 80 seria capaz de prever que, em 2010, estaríamos à mercê do acontecimento que mais tememos naqueles tempos. Por quantos anos tiritamos de medo de que um dos donos do mundo, fosse na banda ocidental ou além do muro de então, apertasse o botão? Nem o mais extravagante dos astrólogos de jornal seria capaz de prever que na virada da segunda década do milênio seguinte um terremoto no Japão funcionaria como possível interruptor da grande detonação.

Eram tempos em que a gente via, nas tirinhas da revista Mad, um Reagan bobão dando a clássica balançadinha no pinto depois daquela mijada presidencial. No quadrinho seguinte, lá ia o astro-presidente-direitão apertar o botão da descarga quando, no quadrinho ao lado, explodia em gritos a humanidade inteira: “Não!” Um mero cartum desdobrado que expressava como nenhuma obra de arte os temores de então. Flagrantes ligeiros – mas, como por ironia, acertadíssimos – de um tempo em que se imaginava o ano 2000 como uma impossibilidade futurística. Antes disso, acreditávamos então com a humildade que a era atual tirou de cena, alguém apertaria aquele tal botão e tudo iria pelos ares – nossos feitos, nosso orgulho, nossos arsenais, nossos comunistas, nossos yuppies e nossa inflação, só pra fechar com um exemplo de extração mais nacional.

Veio 2000, o bug do milênio revelou-se uma bolha, por um tempo se viveu a ilusão de que a história acabara, só para 2010 nos colocar às voltas com dois dos mais sombrios fantasmas daquele passado: Kadafi, que era o Sadam daqueles tempos e andava esquecido no canto dele, e a grande explosão nuclear. Só falta mesmo o grande terremoto de Los Angeles dar o ar da graça para Hollywood suspender o gênero cinema catástrofe por absoluta falta de apelo. Nem Reagan, nem Margareth, nem Brejnev e tampouco Kadafi – quem apertou o botão foi essa entidade de rosto, RG, nação e mandato indefinível a que uns chamam de acaso, outros de Deus, terceiros de Jeová.

Ou por outra, se não é o caso de livrar a nossa cara botando a culpa no todo-poderoso, fomos nós mesmos, a humanidade inteira e não um mandatário em particular, ao tratarmos o planeta como a lata de lixo resistente à nossa infinita capacidade de usar e jogar fora, tanto no sentido material como no emocional mesmo.
De uma maneira ou de outra, não se sabe quem está prestes a botar o dedo naquele lugar proibido. Só podemos especular, sem chances de certezas – o que só reafirma o tamanho da nossa dimensão tantas vezes hipervalorizada.

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