quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pancadaria no camelódromo


Vamos à minha cena de cinema (de ação, tipo pop-oriental mesmo e não aquela coisa suave tipo chuazinéguer dos anos 80) ao vivo e a cores na banca do Paulista, já lá se vão uns meses ou até anos. Como sempre de férias em Natal, tem aquela volta obrigatória pelo bagunção do centro, sebos e camelódromo incluídos. Uma certa sede de povo que as águas claras de Brasília nem sempre contêm. Estou lá, na tal banca do Paulista (cujo nome, ou apelido, de fato, só passei a conhecer por meio das postagens de Luiz Carlos Merten, veja as voltas que as coisas dão em volta da gente mesmo) passeando o indicador e o maior-de-todos naquele batuque sem som de quem pesquisa DVDs caminhando entre eles com os dedos.

Nisso, chega alguém meio ouriçado e começa um papo meio contrabandeado. Estou sintonizado nos DVDs, de maneira que só ouço vestígios que, sem a cena que viria a seguir, iriam para a lixeira da audição sem qualquer registro. Mas, não. Agora, em perspectiva retrotativa, lembro que era uma conversa torta sobre não sei quem é gay, nordestino versus paulista, essa mistura aí que hoje em dia está infelizmente na moda - e fazendo vítimas, algumas fatais. Enfim, era o atentente da banca contra um cliente meio atrevido, cada qual mais cabreiro do que o outro - não sei se o cara da banca era o tal Paulista do apelido do lugar, mas sei que o outro sentia certo prazer em provocar e tocar fogo no circo - e, quando dei por mim, alguém havia dado um soco em outro alguém, como se dizia nas canções de amor de antigamente.

Um soco, não. Um estrondo, uma coisa de trovão de He-Man explodindo naquele espaço apertado que é a banca do Paulista. E o resto foi tudo muito rápido, como um acidente de trânsito que, do nada, termina em capotagem, fogo, corpos. Calma que ninguém morreu: o exagero da figura de linguagem é só para demonstrar o poder de fogo da briga que felizmente limitou-se aos socos e pontapés. O problema é que, naquele aperto, qualquer soco e pontapé tem poder de botar tudo abaixo. E pelo que vi antes de tirar o time de campo foi quase isso o que aconteceu. Um soco cujo objeto humano desviou-se a tempo foi provocar seu efeito sobre a débil estrutura da barraca, praticamente derrubando uma das paredes de lata. Alguém gritou para chamarem a polícia - e isso numa banca daquela natureza, que mistura o melhor do cinema de arte inacessível por outros meios à legislação de direitos autorais que teimosamente ainda vigora neste mundo virtualizado, não deixa de ser irônico. Achei melhor não presenciar o camelódromo vindo abaixo como peças daqueles dominós japoneses gigantes dos anos 70 que faziam sucesso caindo um por um na tela do Fantástico.

Só lamentei pelos três ou quatro exemplares da espécie cópia-não-autorizada que estava disposto a levar para casa por um preço bem modesto, como sempre costumava fazer quando estava de férias no bagunção do centro de Natal.

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