Carlos Eduardo Alves parece o "inimigo do povo" do clássico de Ibsen. Todos falam mal dele. Todos diminuem sua figura, todos debocham de sua gestão, todo o apequenam, pra usar a expressão pedante que o príncipe tucano entronizou no vocabulário político do país. Todos. Blogues de política, colunistas do ramo, o jornal da família dele, o jornal eletrônico e o semanário de Diógenes, todos. Pelo menos foi a impressão que me ficou de uma leitura rápida de jornais e quejandos na recente temporada Natal-Acari-São Miguel.
Não é que se trate de uma crítica generalizada a partir de princípios sobre o crescimento da cidade, a ocupação do solo urbano, a qualidade dos serviços públicos e outros conceitos ligados ao exercício da cidadania. É, antes - ou pelo menos assim me pareceu - uma reserva pessoal que só aqui e ali se apóia em questões urbanas, mas, sempre que o faz, traz muito mal encoberto um interesse imediato.
Por exemplo: comprei animado o "Na Semana", versão em papel do inovador site "No Minuto", iniciativa imediatista como se exige hoje em dia. Gostei de cara da própria cara do jornal, boa respiração gráfica, espaço para o leitor organizar a vista entre matérias devidamente hierarquizadas conforme a importância (algo que os jornais de Natal sempre tiveram dificuldade de processar), títulos menos viciados e com o sotaque oral que estabelece uma conexão mais firme com o leitor. Mas a manchete era "contra" o prefeito: e me permitam usar essa qualificação que parece, a princípio, tão redutora. Mas era "contra" mesmo: "Dois pesos e duas medidas em Ponta Negra", afirmava. A questão: o prefeito estaria autorizando a construção de um prédio alto no bairro enquanto negava o alvará para que fossem erguidos outros dois na mesma região e com praticamente o mesmo gabarito. Então: vou ler esperando encontrar uma reportagem que defenda, antes de qualquer coisa, o estatudo da legalidade urbana, o direito que tem a Prefeitura, em nome do cidadão, seja quem for o prefeito, de normatizar o uso do espaço de uma cidade. Qual nada: o que encontro é uma matéria toda em defesa dos dois empresários que reclamam de terem sido passados para trás. Resumindo: a reclamação, a princípio, procede. Mas a maneira como o jornal dispõe o problema entorta tudo: no lugar de se defender o princípio do planejamento urbano independente de quem seja o prefeito, o empresário ou o empreendimento em questão, o que está lá é uma suposta reportagem isenta (para leitores muito distraídos, diga-se) feita totalmente a partir dos argumentos dos que se julgaram prejudicados - no que, claro, a conclusão, bem antes do final do texto, explicita-se. Assim: se o outro teve permissão para construir, nós também devemos ter. Todos devem construir - é o mote final, e dane-se a prefeitura. E tome porrada no prefeito Carlos.
Em outros espaços, como as colunas de política, a crítica é bem menos substantiva mas não menos discricionária: reclama do fato de o prefeito Carlos não conseguir fazer um mísero discurso sem cair no chamado "oito" - ou seja, ele sempre perde o rumo da conversa, aborrece o ouvinte, carece de objetividade, fraqueja no traquejo verbal. Isso acontece em comícios nos bairros pobres, para a alegria de colunistas que sempre arrumam com isso uma notinha a mais para detonar, na maior elegância e como todo o estilo (como se fossem, ao contrário do prefeito, ases do idioma), o prefeito Carlos. Como se, na comunicação dos dias que correm, os comícios, os discursos, o palanque tradicional tivessem o mesmo peso de outrora, com português castiço e tudo.
Outra vez houve uma imensa, forçada, esticada, exautiva e boboca repercussão sobre uma entrevista em que o prefeito criticou a candidata Micarla de Souza, considerando a garota despreparada para exercer o cargo hoje ocupado por ele. Isso provocou uma onda de indignação entre os jornalistas do ramo: que o prefeito não podia criticar Micarla naqueles termos, que passou do limite, que Micarla não vai responder. Achei estranho esses pruridos num debate que me pareceu - falo da entrevista - absolutamente normal, distanciado, uma avaliação política, uma reserva nem um pouco pessoal por parte do prefeito em relação à candidata. Já vi posições tão piores na imprensa local, território de disputa política acirrada, sabemos todos, e nunca com brios tão feridos como neste episódio.
Deve ser o novo esporte dos cronistas potiguares, então, pichar o prefeito. Com aquele jeito meio "Garibaldi há vinte anos", ele, coitado, até se presta um pouco ao papel. Não o conheço a não ser muito de vista, lembro dele dos tempos em que eu trabalhava como repórter na Tribunal do Norte, e não me parece, nunca me pareceu, uma pessoa dada a maiores vaidades, teve a coragem de contrariar a própria família quando buscou seu próprio espaço na política local (no que se assemelhou não a Garibaldi, mas a Vilma), fala manso, dobra a língua (como o antigo Garibaldi, não este ancião deslumbrado que aparece agora nas revistas, jornais e na tevê, ao menos até janeiro), e até seu apelido caseiro, embora hoje de domínio público graças aos jornalistas iniciados - "Tata" - corrobora um pouco as chibatadas que os nobres feitores da potiguar press lhe dão.
O curioso, no entanto, é que o prefeito Carlos, coitado, tão detonado, é muito bem avaliado em pesquisas de opinião entre o eleitorado de Natal.
Será que está se reproduzindo em Natal, como num microcosmo de Brasil, aquele outro descompasso, bem maior, entre a chamada "grande imprensa brasileira" e o intragável governo Lula?
Não é que se trate de uma crítica generalizada a partir de princípios sobre o crescimento da cidade, a ocupação do solo urbano, a qualidade dos serviços públicos e outros conceitos ligados ao exercício da cidadania. É, antes - ou pelo menos assim me pareceu - uma reserva pessoal que só aqui e ali se apóia em questões urbanas, mas, sempre que o faz, traz muito mal encoberto um interesse imediato.
Por exemplo: comprei animado o "Na Semana", versão em papel do inovador site "No Minuto", iniciativa imediatista como se exige hoje em dia. Gostei de cara da própria cara do jornal, boa respiração gráfica, espaço para o leitor organizar a vista entre matérias devidamente hierarquizadas conforme a importância (algo que os jornais de Natal sempre tiveram dificuldade de processar), títulos menos viciados e com o sotaque oral que estabelece uma conexão mais firme com o leitor. Mas a manchete era "contra" o prefeito: e me permitam usar essa qualificação que parece, a princípio, tão redutora. Mas era "contra" mesmo: "Dois pesos e duas medidas em Ponta Negra", afirmava. A questão: o prefeito estaria autorizando a construção de um prédio alto no bairro enquanto negava o alvará para que fossem erguidos outros dois na mesma região e com praticamente o mesmo gabarito. Então: vou ler esperando encontrar uma reportagem que defenda, antes de qualquer coisa, o estatudo da legalidade urbana, o direito que tem a Prefeitura, em nome do cidadão, seja quem for o prefeito, de normatizar o uso do espaço de uma cidade. Qual nada: o que encontro é uma matéria toda em defesa dos dois empresários que reclamam de terem sido passados para trás. Resumindo: a reclamação, a princípio, procede. Mas a maneira como o jornal dispõe o problema entorta tudo: no lugar de se defender o princípio do planejamento urbano independente de quem seja o prefeito, o empresário ou o empreendimento em questão, o que está lá é uma suposta reportagem isenta (para leitores muito distraídos, diga-se) feita totalmente a partir dos argumentos dos que se julgaram prejudicados - no que, claro, a conclusão, bem antes do final do texto, explicita-se. Assim: se o outro teve permissão para construir, nós também devemos ter. Todos devem construir - é o mote final, e dane-se a prefeitura. E tome porrada no prefeito Carlos.
Em outros espaços, como as colunas de política, a crítica é bem menos substantiva mas não menos discricionária: reclama do fato de o prefeito Carlos não conseguir fazer um mísero discurso sem cair no chamado "oito" - ou seja, ele sempre perde o rumo da conversa, aborrece o ouvinte, carece de objetividade, fraqueja no traquejo verbal. Isso acontece em comícios nos bairros pobres, para a alegria de colunistas que sempre arrumam com isso uma notinha a mais para detonar, na maior elegância e como todo o estilo (como se fossem, ao contrário do prefeito, ases do idioma), o prefeito Carlos. Como se, na comunicação dos dias que correm, os comícios, os discursos, o palanque tradicional tivessem o mesmo peso de outrora, com português castiço e tudo.
Outra vez houve uma imensa, forçada, esticada, exautiva e boboca repercussão sobre uma entrevista em que o prefeito criticou a candidata Micarla de Souza, considerando a garota despreparada para exercer o cargo hoje ocupado por ele. Isso provocou uma onda de indignação entre os jornalistas do ramo: que o prefeito não podia criticar Micarla naqueles termos, que passou do limite, que Micarla não vai responder. Achei estranho esses pruridos num debate que me pareceu - falo da entrevista - absolutamente normal, distanciado, uma avaliação política, uma reserva nem um pouco pessoal por parte do prefeito em relação à candidata. Já vi posições tão piores na imprensa local, território de disputa política acirrada, sabemos todos, e nunca com brios tão feridos como neste episódio.
Deve ser o novo esporte dos cronistas potiguares, então, pichar o prefeito. Com aquele jeito meio "Garibaldi há vinte anos", ele, coitado, até se presta um pouco ao papel. Não o conheço a não ser muito de vista, lembro dele dos tempos em que eu trabalhava como repórter na Tribunal do Norte, e não me parece, nunca me pareceu, uma pessoa dada a maiores vaidades, teve a coragem de contrariar a própria família quando buscou seu próprio espaço na política local (no que se assemelhou não a Garibaldi, mas a Vilma), fala manso, dobra a língua (como o antigo Garibaldi, não este ancião deslumbrado que aparece agora nas revistas, jornais e na tevê, ao menos até janeiro), e até seu apelido caseiro, embora hoje de domínio público graças aos jornalistas iniciados - "Tata" - corrobora um pouco as chibatadas que os nobres feitores da potiguar press lhe dão.
O curioso, no entanto, é que o prefeito Carlos, coitado, tão detonado, é muito bem avaliado em pesquisas de opinião entre o eleitorado de Natal.
Será que está se reproduzindo em Natal, como num microcosmo de Brasil, aquele outro descompasso, bem maior, entre a chamada "grande imprensa brasileira" e o intragável governo Lula?
4 comentários:
Tião acho que tá acontecendo isso mesmo. Tá sendo difícil pra galera dos jornais assumir a boa aceitação do atual prefeito.
" IMPRENSA BRASILEIRA. DESCOMPROMISSADA COM O LEITOR"
Pelo menos no que se refere à cultura, meu caro, foi o melhor Prefeito que apareceu em muitos e muitos anos em Natal. Se eu morasse em nossa capital, faria campanha para Fátima Bezerra - apoiada por ele, entre outros - e jamais para Micarla, sem a menor expressão política e cultural. jssUm abraço.
Oi, Tião, cheguei aqui via "Substantivo". Muito boa sia análise com distanciamento.Pois é,Carlos Eduardo aprovado pelo povo e reprovado pela imprensa. Tal como Lula. A imprensa perde cada vez mais credibilidade. Ao invés de fazer oposição, desqualifica.
Sou Edineuza(me identifico aqui, porque só consigo postar comentários como anônino)Depois do seu comentário acerca da missa e da candidata Micarla, me tornei leitora do seu sopão e que dizer da felicidade de ver alguém com uma análise tão real da nossa imprensa(marece feita de compadres para comadres) E que testemunhar: não é só na cultura que o Prefeito Carlos Eduardo ousou não, visitem a Zona Norte de natal e poderão ver os investimentos em infraestrutura que estão sendo feitos, com urbanização de favelas, saneamento e drenagem, humanização do trânsito, entre tantos outros beneficios, mas o maior de todos que ele viabilizou a Construção da Ponte Newton Navarro. É isso que os de meia pataca não admitem, um prefeito que pensa na população, principalmente a que mais precisa do poder público. Ah, quero dizer, não sou eleitora dele, mas reconheço o que tem feito para melhorar a vida dos natalenses.
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