quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Todos contra o prefeito


Carlos Eduardo Alves parece o "inimigo do povo" do clássico de Ibsen. Todos falam mal dele. Todos diminuem sua figura, todos debocham de sua gestão, todo o apequenam, pra usar a expressão pedante que o príncipe tucano entronizou no vocabulário político do país. Todos. Blogues de política, colunistas do ramo, o jornal da família dele, o jornal eletrônico e o semanário de Diógenes, todos. Pelo menos foi a impressão que me ficou de uma leitura rápida de jornais e quejandos na recente temporada Natal-Acari-São Miguel.
Não é que se trate de uma crítica generalizada a partir de princípios sobre o crescimento da cidade, a ocupação do solo urbano, a qualidade dos serviços públicos e outros conceitos ligados ao exercício da cidadania. É, antes - ou pelo menos assim me pareceu - uma reserva pessoal que só aqui e ali se apóia em questões urbanas, mas, sempre que o faz, traz muito mal encoberto um interesse imediato.

Por exemplo: comprei animado o "Na Semana", versão em papel do inovador site "No Minuto", iniciativa imediatista como se exige hoje em dia. Gostei de cara da própria cara do jornal, boa respiração gráfica, espaço para o leitor organizar a vista entre matérias devidamente hierarquizadas conforme a importância (algo que os jornais de Natal sempre tiveram dificuldade de processar), títulos menos viciados e com o sotaque oral que estabelece uma conexão mais firme com o leitor. Mas a manchete era "contra" o prefeito: e me permitam usar essa qualificação que parece, a princípio, tão redutora. Mas era "contra" mesmo: "Dois pesos e duas medidas em Ponta Negra", afirmava. A questão: o prefeito estaria autorizando a construção de um prédio alto no bairro enquanto negava o alvará para que fossem erguidos outros dois na mesma região e com praticamente o mesmo gabarito. Então: vou ler esperando encontrar uma reportagem que defenda, antes de qualquer coisa, o estatudo da legalidade urbana, o direito que tem a Prefeitura, em nome do cidadão, seja quem for o prefeito, de normatizar o uso do espaço de uma cidade. Qual nada: o que encontro é uma matéria toda em defesa dos dois empresários que reclamam de terem sido passados para trás. Resumindo: a reclamação, a princípio, procede. Mas a maneira como o jornal dispõe o problema entorta tudo: no lugar de se defender o princípio do planejamento urbano independente de quem seja o prefeito, o empresário ou o empreendimento em questão, o que está lá é uma suposta reportagem isenta (para leitores muito distraídos, diga-se) feita totalmente a partir dos argumentos dos que se julgaram prejudicados - no que, claro, a conclusão, bem antes do final do texto, explicita-se. Assim: se o outro teve permissão para construir, nós também devemos ter. Todos devem construir - é o mote final, e dane-se a prefeitura. E tome porrada no prefeito Carlos.

Em outros espaços, como as colunas de política, a crítica é bem menos substantiva mas não menos discricionária: reclama do fato de o prefeito Carlos não conseguir fazer um mísero discurso sem cair no chamado "oito" - ou seja, ele sempre perde o rumo da conversa, aborrece o ouvinte, carece de objetividade, fraqueja no traquejo verbal. Isso acontece em comícios nos bairros pobres, para a alegria de colunistas que sempre arrumam com isso uma notinha a mais para detonar, na maior elegância e como todo o estilo (como se fossem, ao contrário do prefeito, ases do idioma), o prefeito Carlos. Como se, na comunicação dos dias que correm, os comícios, os discursos, o palanque tradicional tivessem o mesmo peso de outrora, com português castiço e tudo.

Outra vez houve uma imensa, forçada, esticada, exautiva e boboca repercussão sobre uma entrevista em que o prefeito criticou a candidata Micarla de Souza, considerando a garota despreparada para exercer o cargo hoje ocupado por ele. Isso provocou uma onda de indignação entre os jornalistas do ramo: que o prefeito não podia criticar Micarla naqueles termos, que passou do limite, que Micarla não vai responder. Achei estranho esses pruridos num debate que me pareceu - falo da entrevista - absolutamente normal, distanciado, uma avaliação política, uma reserva nem um pouco pessoal por parte do prefeito em relação à candidata. Já vi posições tão piores na imprensa local, território de disputa política acirrada, sabemos todos, e nunca com brios tão feridos como neste episódio.

Deve ser o novo esporte dos cronistas potiguares, então, pichar o prefeito. Com aquele jeito meio "Garibaldi há vinte anos", ele, coitado, até se presta um pouco ao papel. Não o conheço a não ser muito de vista, lembro dele dos tempos em que eu trabalhava como repórter na Tribunal do Norte, e não me parece, nunca me pareceu, uma pessoa dada a maiores vaidades, teve a coragem de contrariar a própria família quando buscou seu próprio espaço na política local (no que se assemelhou não a Garibaldi, mas a Vilma), fala manso, dobra a língua (como o antigo Garibaldi, não este ancião deslumbrado que aparece agora nas revistas, jornais e na tevê, ao menos até janeiro), e até seu apelido caseiro, embora hoje de domínio público graças aos jornalistas iniciados - "Tata" - corrobora um pouco as chibatadas que os nobres feitores da potiguar press lhe dão.

O curioso, no entanto, é que o prefeito Carlos, coitado, tão detonado, é muito bem avaliado em pesquisas de opinião entre o eleitorado de Natal.

Será que está se reproduzindo em Natal, como num microcosmo de Brasil, aquele outro descompasso, bem maior, entre a chamada "grande imprensa brasileira" e o intragável governo Lula?

4 comentários:

Anônimo disse...

Tião acho que tá acontecendo isso mesmo. Tá sendo difícil pra galera dos jornais assumir a boa aceitação do atual prefeito.
" IMPRENSA BRASILEIRA. DESCOMPROMISSADA COM O LEITOR"

Moacy Cirne disse...

Pelo menos no que se refere à cultura, meu caro, foi o melhor Prefeito que apareceu em muitos e muitos anos em Natal. Se eu morasse em nossa capital, faria campanha para Fátima Bezerra - apoiada por ele, entre outros - e jamais para Micarla, sem a menor expressão política e cultural. jssUm abraço.

Anônimo disse...

Oi, Tião, cheguei aqui via "Substantivo". Muito boa sia análise com distanciamento.Pois é,Carlos Eduardo aprovado pelo povo e reprovado pela imprensa. Tal como Lula. A imprensa perde cada vez mais credibilidade. Ao invés de fazer oposição, desqualifica.

Anônimo disse...

Sou Edineuza(me identifico aqui, porque só consigo postar comentários como anônino)Depois do seu comentário acerca da missa e da candidata Micarla, me tornei leitora do seu sopão e que dizer da felicidade de ver alguém com uma análise tão real da nossa imprensa(marece feita de compadres para comadres) E que testemunhar: não é só na cultura que o Prefeito Carlos Eduardo ousou não, visitem a Zona Norte de natal e poderão ver os investimentos em infraestrutura que estão sendo feitos, com urbanização de favelas, saneamento e drenagem, humanização do trânsito, entre tantos outros beneficios, mas o maior de todos que ele viabilizou a Construção da Ponte Newton Navarro. É isso que os de meia pataca não admitem, um prefeito que pensa na população, principalmente a que mais precisa do poder público. Ah, quero dizer, não sou eleitora dele, mas reconheço o que tem feito para melhorar a vida dos natalenses.